São Paulo, segunda-feira, 12 de abril de 2004

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RIO

Suspeito de tentar invadir favela é preso; morro, em conflito desde sexta, será ocupado hoje por cerca de 900 policiais

Guerra do tráfico na Rocinha faz a 8ª vítima

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Policiais patrulham rua da favela da Rocinha; após confronto, a manhã de ontem foi tranqüila


ALESSANDRO FERREIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Um morador da favela da Rocinha (zona sul do Rio) foi morto por uma bala perdida ontem à noite em mais um tiroteio entre traficantes e policiais militares.
Divino Alves Cláudio, 42, que trabalhava em obras, estava na varanda de sua casa, na estrada da Gávea (um dos acessos à favela), quando foi atingido. Ele foi a oitava vítima da guerra do tráfico que vem aterrorizando a Rocinha desde a madrugada de sexta-feira.
Na madrugada, os moradores da Rocinha já haviam se assustado com outro tiroteio. O confronto durou poucos minutos e não deixou feridos. Balas traçantes (que deixam rastro luminoso) foram vistas cruzando a Rocinha.
Durante a tarde, a polícia capturou um suposto integrante do grupo que participou de um bloqueio na avenida Niemeyer e tentou invadir a comunidade sexta de madrugada. Cerca de 900 policiais ocuparão a Rocinha hoje.
O preso foi identificado como Pedro Arthur de Farias, 44, o Cuca ou Di Oscar, um dos supostos chefes do tráfico no morro do Vidigal, vizinho à Rocinha. Segundo a polícia, o traficante confessou ter participado do bloqueio à Niemeyer e da invasão à Rocinha, mas negou ter efetuado os disparos que mataram a mineira Telma Veloso Pinto, 38, que recebeu um tiro de fuzil na cabeça porque não parou na avenida Niemeyer.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, Di Oscar foi preso na casa da mãe no morro do Vidigal. Ele disse que, na madrugada de sexta, o líder dos ataques, Eduíno Eustáquio de Araújo Filho, o Dudu, o procurou no morro e os dois juntos organizaram a falsa blitz e a invasão à Rocinha. Durante a tentativa de invasão, dois moradores da favela morreram.
Di Oscar disse que os tiros que mataram a mineira foram disparados pelo traficante conhecido como Peper. Segundo ele, a ordem para invadir a Rocinha foi transmitida pelo traficante Patrick Salgado de Souza, que cumpre pena no presídio de segurança máxima Bangu 1 (zona oeste). Disse ainda que foram recrutados traficantes de várias favelas dominadas pelo CV (Comando Vermelho), como o complexo do Alemão, a favela Vigário Geral e os morros do Andaraí (zona norte) e Pavão-Pavãozinho (zona sul).
Dudu pretende invadir a Rocinha para controlar os pontos-de-venda de drogas, que pertencem a Luciano Barbosa da Silva, o Lulu.
Segundo investigações, os chefes do CV presos em Bangu 1 determinaram que Lulu entregasse parte da favela a Dudu quando este saísse da cadeia. Lulu não obedeceu e causou um racha na facção. Há a suspeita de ele ter se associado à ADA (Amigo dos Amigos), rival do CV. Dudu fugiu no início de fevereiro do presídio Edgard Costa, em Niterói (a 15 km do Rio). Desde então, vem tentando invadir a Rocinha.
A Rocinha teve uma manhã tranqüila mesmo com a presença da polícia. Durante incursões na favela, policiais do 23º Batalhão da PM prenderam dois suspeitos de integrarem a quadrilha de Lulu, identificados como Antônio Carlos Moreira da Silva, 41, e Antônio Francisco Bonfim, 27. Eles tinham dois revólveres, uma pistola e uma camisa da polícia.
Dois policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar) e dois supostos traficantes também morreram nos últimos dois dias na favela.


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