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Polícia diz que não errou, mas já admite 3ª pessoa
Elisabete Sato disse que a libertação do casal não prejudica a investigação
Delegada diz que não dá para descartar a presença de uma terceira pessoa no local onde Isabella foi morta
KLEBER TOMAZ
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Civil informou ontem que não errou ao pedir a
prisão temporária do casal Alexandre Alves Nardoni, 29, e Anna Carolina Jatobá, 24, mesmo
sem ter apresentado à imprensa nenhuma prova concreta
que possa incriminar o pai e a
madrasta pela morte da menina Isabella Nardoni, 5.
"Não. A polícia não falhou. A
polícia informou o que ela tinha em determinado momento. E a cada dia depoimentos
novos são trazidos. Tanto é que
no primeiro momento a Justiça
acatou o pedido de prisão temporária, representação que foi
feita pela autoridade policial",
afirmou a delegada seccional
Elisabete Sato -chefe dos DPs
da zona norte de São Paulo.
Ela concedeu entrevista no
lugar do delegado Calixto Calil
Filho, do 9º DP (Carandiru),
responsável por pedir à Justiça
a prisão do casal. O delegado
afirmara, na ocasião, que a prisão temporária era necessária
porque o casal poderia atrapalhar as investigações.
Questionada se a soltura dos
suspeitos irá atrapalhar as investigações, Sato afirmou que
não. "De maneira nenhuma
porque durante esse período
em que o Alexandre e a Anna
Carolina tiveram sua liberdade
cerceada, através de prisão
temporária, foi possível ao presidente do inquérito [Calil Filho] dar celeridade [à investigação]. Já foram ouvidas 44 pessoas. Então nada atrapalha porque os depoimentos mais importantes foram trazidos para o
inquérito", continuou ela.
Ainda ontem, a polícia passou a admitir oficialmente que
investiga a possibilidade de um
terceiro suspeito na cena do assassinato de Isabella.
"A polícia trabalha com a
possibilidade da terceira pessoa. Enquanto os laudos da
marca do sapato [uma pegada
foi encontrada no lençol do
quarto onde a vítima foi jogada]
não estiverem prontos não dá
para descartar qualquer hipótese", disse Sato. Embora diga
que "não dá para descartar a
terceira pessoa", ela afirma não
existir, no momento, nenhum
outro suspeito, além do casal,
sendo investigado.
Na sua versão, Nardoni sustenta que alguém entrou em
seu apartamento e atirou Isabella, enquanto ele descia para
a garagem para pegar a mulher
com os outros dois filhos.
A Secretaria de Segurança
Pública informou que "a polícia
nunca deixou de investigar a
possibilidade de uma terceira
pessoa, mas todos os indícios
não apontam para a existência
de uma terceira pessoa".
A Folha apurou que a declaração de que 70% da cena do
crime estava esclarecida, dada
pela delegada assistente do 9º
DP, Renata Pontes, e posteriormente repetida por seu chefe,
Calil Filho, desagradou a delegada seccional. Na entrevista,
Sato afirmou que "a polícia não
pode falar em porcentagem."
"Se a autoridade que preside
o inquérito tem uma leitura de
70%, cada um pode ter a leitura
que queira. Hoje eu não quero
falar em porcentagem porque
isso é muito comprometedor."
Sato afirmou que precisa do
resultado dos exames feitos pelo IC (Instituto de Criminalística) e do IML (Instituto Médico Legal) para saber como direcionar o caso a partir de agora.
"O caso fica efetivamente
atrelado às conclusões técnicas
que virão com a chegada dos
laudos periciais", disse Sato.
Após as declarações da delegada, o IC e o IML convocaram
a imprensa para afirmar que há
uma concentração de esforços
para a conclusão dos laudos
com a "máxima rapidez possível", mas dentro do possível.
"Como todo trabalho que é
técnico, tem um tempo de maturação. Ele não pode ser feito
de maneira apressada, descuidada", afirmou o diretor do
IML Carlos Alberto Coelho. Os
laudos serão usados pela investigação para tentar provar que
ninguém mais, além de Nardoni e Anna, esteve na cena do
crime, em 29 de março.
Segundo Elisabete Sato,
mesmo em liberdade, o casal
não poderá deixar o país e, caso
queira sair de São Paulo, terá
de comunicar o fato às autoridades. O apartamento do casal
está lacrado. Os suspeitos devem passar o final de semana
na casa do pai de Nardoni.
"Habeas corpus faz parte do
jogo jurídico", afirmou Calil Filho, após a coletiva. Ele aguarda agora os laudos para fazer
uma reconstituição do crime.
Pressão pela prisão
A Folha apurou que, devido
à grande repercussão do crime,
a decisão pelo pedido de prisão
de Nardoni e Anna foi tomada
no dia 2 na reunião semanal do
Conselho da Polícia Civil.
Responsável pela investigação, a delegada Renata Pontes
teria manifestado aos seus superiores um pedido de cautela
porque queria reunir mais elementos antes de apontar o casal como suspeito. Ela não foi
atendida e o pedido de prisão
temporária foi feito "para esclarecer contradições".
Questionada, a Segurança
Pública afirmou não existir nenhum tipo de pressão.
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