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São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2003

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Médico não dá importância a queixas, diz estudo

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os que dizem sofrer da dor mais difícil de ser tratada apontam que a maioria dos médicos não dá importância às suas queixas e que, na média, os profissionais não estão bem informados sobre tratamentos. Os que sofrem acreditam que o problema não tem remédio, mostra estudo realizado com 5.000 pessoas de São Paulo e Salvador e apresentado no Simbidor (Simpósio Brasileiro e Internacional sobre Dor), que terminou anteontem em São Paulo.
Segundo a pesquisa, 7,1% da população brasileira com 40 anos ou mais (3,3 milhões de pessoas) pode estar sofrendo da dor neuropática, que só costuma ceder com a administração de anticonvulsivos e psicotrópicos -nem analgésicos, antiinflamatórios ou derivados da morfina, os opiáceos, funcionam para esse tipo de paciente, dizem médicos.
O trabalho foi financiado pela indústria farmacêutica Pfizer -que produz drogas contra a dor - e coordenado pelo pesquisador-associado da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) na Bahia Edson Duarte Moreira Júnior.
As conclusões partem de relatos dos próprios pacientes, após a aplicação de questionário elaborado pela equipe da Fiocruz. Não houve, portanto, diagnóstico médico do problema, o que pode ser uma das limitações do estudo.
Segundo a pesquisa, a maioria dos portadores de dor neuropática não procura tratamento, apesar de a dor ser contínua ou frequente em 64% deles e impedir atividades usuais, como o trabalho, a escola e os afazeres domésticos. Dos afetados, 33% deixam de fazer suas atividades por duas semanas e até por um mês a cada seis meses. A maioria prefere aguardar a dor melhorar espontaneamente. A providência mais frequente é "dividir" o sofrimento, por meio da conversa com amigos e familiares.
Os pacientes com reumatismo, doenças ocupacionais e diabetes são os que com mais frequência relatam o problema.

Dor rebelde
Traumatismos e doenças infecciosas como o herpes zoster também podem gerar a dor neuropática. "É uma dor rebelde, que incapacita mais, necessita de uma abordagem interdisciplinar", diz Manoel Jacobsen, do Centro de Dor do Hospital das Clínicas de São Paulo. De acordo com ele, é como se o paciente tivesse cicatrizes ao longo do nervo periférico e da medula espinhal.
Independentemente da extensão da lesão que gera o problema, pequenos choques acometem várias partes do corpo. De acordo com Jacobsen, mesmo tratado o ferimento ou a doença, permanece uma espécie de "cicatriz interna" no nervo, o que prolonga a sensação dolorosa após a cura.
"Os médicos disseram que não tem cura, que devo conviver com a dor", afirma Cecília Benzi de Souza, 78, que já passou por mais de 12 médicos em busca de alívio.
Ela começou a sofrer do problema depois de descobrir ser portadora de herpes zoster. Estava na reta final do tratamento de um câncer da mama. Hoje tem dores principalmente nas costas.
Souza diz ter "passado mal" com o último remédio indicado e agora só toma analgésicos. Apesar do sofrimento, afirma tentar manter suas atividades.
"É uma dor de nervos terrível, uma dor que incomoda, constante. Não tenho a conta dos remédios que já tomei. Mas não tem nada que me tire esse problema. E a gente vai tentando, vai se enganando", conta ela.


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