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Médico não dá importância a queixas, diz estudo
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Os que dizem sofrer da dor mais
difícil de ser tratada apontam que
a maioria dos médicos não dá importância às suas queixas e que,
na média, os profissionais não estão bem informados sobre tratamentos. Os que sofrem acreditam
que o problema não tem remédio,
mostra estudo realizado com
5.000 pessoas de São Paulo e Salvador e apresentado no Simbidor
(Simpósio Brasileiro e Internacional sobre Dor), que terminou anteontem em São Paulo.
Segundo a pesquisa, 7,1% da
população brasileira com 40 anos
ou mais (3,3 milhões de pessoas)
pode estar sofrendo da dor neuropática, que só costuma ceder com
a administração de anticonvulsivos e psicotrópicos -nem analgésicos, antiinflamatórios ou derivados da morfina, os opiáceos,
funcionam para esse tipo de paciente, dizem médicos.
O trabalho foi financiado pela
indústria farmacêutica Pfizer
-que produz drogas contra a dor
- e coordenado pelo pesquisador-associado da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) na Bahia
Edson Duarte Moreira Júnior.
As conclusões partem de relatos
dos próprios pacientes, após a
aplicação de questionário elaborado pela equipe da Fiocruz. Não
houve, portanto, diagnóstico médico do problema, o que pode ser
uma das limitações do estudo.
Segundo a pesquisa, a maioria
dos portadores de dor neuropática não procura tratamento, apesar de a dor ser contínua ou frequente em 64% deles e impedir
atividades usuais, como o trabalho, a escola e os afazeres domésticos. Dos afetados, 33% deixam de
fazer suas atividades por duas semanas e até por um mês a cada
seis meses. A maioria prefere
aguardar a dor melhorar espontaneamente. A providência mais
frequente é "dividir" o sofrimento, por meio da conversa com
amigos e familiares.
Os pacientes com reumatismo,
doenças ocupacionais e diabetes
são os que com mais frequência
relatam o problema.
Dor rebelde
Traumatismos e doenças infecciosas como o herpes zoster também podem gerar a dor neuropática. "É uma dor rebelde, que incapacita mais, necessita de uma
abordagem interdisciplinar", diz
Manoel Jacobsen, do Centro de
Dor do Hospital das Clínicas de
São Paulo. De acordo com ele, é
como se o paciente tivesse cicatrizes ao longo do nervo periférico e
da medula espinhal.
Independentemente da extensão da lesão que gera o problema,
pequenos choques acometem várias partes do corpo. De acordo
com Jacobsen, mesmo tratado o
ferimento ou a doença, permanece uma espécie de "cicatriz interna" no nervo, o que prolonga a
sensação dolorosa após a cura.
"Os médicos disseram que não
tem cura, que devo conviver com
a dor", afirma Cecília Benzi de
Souza, 78, que já passou por mais
de 12 médicos em busca de alívio.
Ela começou a sofrer do problema depois de descobrir ser portadora de herpes zoster. Estava na
reta final do tratamento de um
câncer da mama. Hoje tem dores
principalmente nas costas.
Souza diz ter "passado mal"
com o último remédio indicado e
agora só toma analgésicos. Apesar do sofrimento, afirma tentar
manter suas atividades.
"É uma dor de nervos terrível,
uma dor que incomoda, constante. Não tenho a conta dos remédios que já tomei. Mas não tem
nada que me tire esse problema. E
a gente vai tentando, vai se enganando", conta ela.
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