São Paulo, quarta-feira, 12 de maio de 2004

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URBANIDADE

ONG chique

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Tânia Piva de Albuquerque viu seu negócio próspero e requintado de produtos importados literalmente cair no buraco. Para sair dele, ela recorreu a um expediente comumente usado para socorrer os chamados "excluídos": criou uma ONG, que batizou de Boulevard Cidade Jardim.
O Empório Santa Maria, do qual Tânia é proprietária, perdeu 50% do faturamento depois que a prefeitura resolveu esburacar a avenida Cidade Jardim. "Foi um desespero." Foram demitidos 47 funcionários. Os lucros sumiram e ela é agora obrigada a cobrir mensalmente os rombos abertos em seu orçamento.
Desnorteados, os comerciantes, liderados por Tânia, uniram-se e criaram a ONG não apenas para reivindicar ações urgentes em relação à obra -assegurar algum acesso de carros, por exemplo- mas para fazer projetos mais longos. Tiveram de aprender às pressas os caminhos da burocracia municipal, estudando complicadas planilhas. Nesse trecho da Cidade Jardim, entre o restaurante Bolinha e a ponte, onde circula um naco expressivo do PIB paulistano, existem 11 agências bancárias e 180 lojas, que empregam 2.000 pessoas.
A pressão fez efeito. A prefeitura aceitou bancar um projeto de paisagismo, instalar câmaras de segurança, melhorar as calçadas, tirar os postes e enterrar toda a fiação no subsolo. Acertou-se que os ônibus vão passar ladeando o canteiro central para liberar espaço nas calçadas. Está em negociação uma intervenção na ponte Cidade Jardim. "Queremos fazer do local um marco estético."
Por mais que tenham sido feitas melhorias, o impacto negativo é inevitável; boa parte dos automóveis, afinal, passará pelo túnel. "Se ficarmos parados, vamos fechar as portas." Eles estão apostando não só nos encantos do bulevar mas nas novas tecnologias com conexão veloz, por internet, que farão a ligação dos apartamentos da região às lojas, tornando possível tanto acelerar pedidos como simplesmente marcar hora no salão de beleza. Cada estabelecimento teria câmeras que permitiriam aos clientes saber se estão congestionados e, assim, decidir qual o melhor momento de ir às compras.
O passo mais ousado, ainda em discussão, é tentar seduzir clientes para o bulevar atraindo algum grupo empresarial para construir um centro cultural com vocação para a culinária. "A crise nos fez chorar, mas, pelo menos, ensinou-nos a nos organizarmos."


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