|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
URBANIDADE
ONG chique
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Tânia Piva de Albuquerque viu seu negócio
próspero e requintado de produtos importados literalmente cair
no buraco. Para sair dele, ela recorreu a um expediente comumente usado para socorrer os
chamados "excluídos": criou
uma ONG, que batizou de Boulevard Cidade Jardim.
O Empório Santa Maria, do
qual Tânia é proprietária, perdeu 50% do faturamento depois
que a prefeitura resolveu esburacar a avenida Cidade Jardim.
"Foi um desespero." Foram demitidos 47 funcionários. Os lucros sumiram e ela é agora obrigada a cobrir mensalmente os
rombos abertos em seu orçamento.
Desnorteados, os comerciantes, liderados por Tânia, uniram-se e criaram a ONG não
apenas para reivindicar ações
urgentes em relação à obra
-assegurar algum acesso de
carros, por exemplo- mas para
fazer projetos mais longos. Tiveram de aprender às pressas os
caminhos da burocracia municipal, estudando complicadas planilhas. Nesse trecho da Cidade
Jardim, entre o restaurante Bolinha e a ponte, onde circula um
naco expressivo do PIB paulistano, existem 11 agências bancárias e 180 lojas, que empregam
2.000 pessoas.
A pressão fez efeito. A prefeitura aceitou bancar um projeto de
paisagismo, instalar câmaras de
segurança, melhorar as calçadas, tirar os postes e enterrar toda a fiação no subsolo. Acertou-se que os ônibus vão passar ladeando o canteiro central para
liberar espaço nas calçadas. Está
em negociação uma intervenção
na ponte Cidade Jardim. "Queremos fazer do local um marco
estético."
Por mais que tenham sido feitas melhorias, o impacto negativo é inevitável; boa parte dos automóveis, afinal, passará pelo
túnel. "Se ficarmos parados, vamos fechar as portas." Eles estão
apostando não só nos encantos
do bulevar mas nas novas tecnologias com conexão veloz, por internet, que farão a ligação dos
apartamentos da região às lojas,
tornando possível tanto acelerar
pedidos como simplesmente
marcar hora no salão de beleza.
Cada estabelecimento teria câmeras que permitiriam aos
clientes saber se estão congestionados e, assim, decidir qual o
melhor momento de ir às compras.
O passo mais ousado, ainda
em discussão, é tentar seduzir
clientes para o bulevar atraindo
algum grupo empresarial para
construir um centro cultural
com vocação para a culinária.
"A crise nos fez chorar, mas, pelo
menos, ensinou-nos a nos organizarmos."
Texto Anterior: Para fundador, "sucateamento" afeta medição Próximo Texto: A cidade é sua: Dentista reclama de terreno abandonado na zona oeste Índice
|