São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 2005

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PASQUALE CIPRO NETO

"A inspeção veicular se adequa..."

Em seu vestibular de novembro de 2004, a ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) apresentou uma questão cujo enunciado era este: "Embora de uso recorrente, uma das frases abaixo apresenta forma verbal não prevista pela norma culta. Assinale-a". Os trechos essenciais de cada frase eram estes: "a) Inspeção ambiental veicular se adequa às medidas...; b) É importante que os paulistanos adiram...; c) Mesmo que os postos de combustíveis mantivessem controle...; d) Quando o Conselho Nacional do Meio Ambiente revir as emissões...; e) Se manter o veículo bem regulado é fundamental para o meio ambiente, então a inspeção...". Já sabe qual é a resposta, caro leitor? Vamos lá: é a alternativa "a". De fato, é recorrente a flexão do verbo "adequar" na terceira do singular do presente do indicativo, seja na fala, seja na escrita. As gramáticas e os dicionários, no entanto, não são unânimes em relação à conjugação desse verbo. O "Aurélio" diz que "adequar" é defectivo, isto é, não tem conjugação completa. Para o dicionário, o presente do indicativo só tem duas formas: "nós adequamos, vós adequais". A "Moderna Gramática Portuguesa", de Evanildo Bechara, confirma o que diz o "Aurélio". Para o "Houaiss", a flexão é completa, e a terceira do singular do presente do indicativo de "adequar" é "adéqua". O (ótimo) minidicionário Caldas Aulete, lançado no ano passado, dá um exemplo ("Usos que não se adequam à norma culta da língua") pelo qual se deduz que o verbo tem conjugação completa. O problema é que nas páginas iniciais, no capítulo "Paradigmas de Conjugação", a obra dá "adequar" como defectivo. É ou não é o samba do crioulo doido? (Xi! As patrulhas do ultrachatíssimo politicamente correto vão cair de pau em cima de mim. Antes que o façam, saibam que "Samba do Crioulo Doido" é o nome de uma genial canção de Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo do grande Sérgio Porto.) Como se vê, embora de fato seja recorrente o uso da terceira do singular do presente do indicativo de "adequar", a instabilidade verificada na emissão dessa flexão ("adéqua" -a predominante no Brasil, salvo engano- e "adequa", que se lê com tonicidade no "u") e nos registros dos dicionários e gramáticas parece comprovar que ainda não se pode afirmar que a norma culta tenha dado abrigo ou preferência a essa ou àquela forma. Por enquanto, parece mesmo mais prudente seguir a tradição e dar como incompleta a conjugação de "adequar". E as demais alternativas da questão? Na "b", a forma "adiram" ("É importante que os paulistanos adiram"), do presente do subjuntivo, segue o padrão de conjugação desse tempo, que deriva da primeira do singular do presente do indicativo (de "eu adiro" faz-se "que eu adira"). Na "c", a forma "mantivessem" é do pretérito imperfeito do subjuntivo de "manter", conjugado como "ter", do qual deriva ("tivessem/ mantivessem"). Na "d", a forma "revir" ("Quando o Conselho revir") é do futuro do subjuntivo de "rever", que se conjuga como "ver", do qual deriva. Por fim, na alternativa "e", a forma "manter" ("Se manter o veículo bem regulado é fundamental para o meio ambiente...") é do infinitivo mesmo, e não do futuro do subjuntivo, como podem ter pensado os mais apressados. É isso.


Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras
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