|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Rio arquiva pedidos de pensão por violência
Enquanto familiares de vítimas da violência buscam indenizações, gestão Rosinha engavetou 31 processos de reparação
Pensão administrativa paga entre 1 e 3 salários mínimos mensais e foi criada para ser mais rápida do que as indenizações judiciais
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
Enquanto familiares das novas vítimas da violência anunciam a luta por indenizações,
há quem brigue há anos, sem
sucesso, por reparação. O governo do Rio, nos dois últimos
meses da gestão de Rosinha
Matheus (2003-2006), arquivou ao menos 31 processos de
pedidos de pensão administrativa e negou outra, contrariando, neste caso, a Procuradoria-Geral do Estado (PGE).
Entre os processos arquivados estão os da chacina do Borel, em 2003, em que quatro jovens teriam sido mortos por
PMs, e o do menino Maicon de
Souza da Silva, 2, vítima de bala
perdida em 1996 durante operação da PM na favela de Acari,
em situação parecida de Alana
Ezequiel, 12, morta em março
no morro dos Macacos. Segundo Paulo Baía, ex-secretário de
Direitos Humanos, foram arquivadas "mais de 70 ações".
Essas ações podem ser retomadas, mas o arquivamento
mostra formalmente que a secretaria de Direitos Humanos
-hoje uma subsecretaria-
cessou a apuração. Apenas uma
decisão judicial ou um inquérito policial apontando a participação de servidores estaduais
poderia desarquivá-las.
A Folha apurou que a PGE,
responsável pelo parecer jurídico do Estado, não pediu arquivamento -diferentemente
do que mostra o site do governo. O setor recomendou a "não
concessão da pensão", solicitando mais informações (como
documentos que comprovassem parentesco entre a vítima
e a pessoa que pede a pensão)
ou a espera da decisão judicial
ou de inquérito policial.
A pensão administrativa paga entre um e três salários mínimos mensais foi criada justamente para ser mais ágil do que
as indenizações determinadas
pela Justiça. "Esse negócio de
esperar [decisão judicial] é de
quem não quer conceder a pensão", afirma o presidente da comissão de Direitos Humanos
da OAB-RJ, João Tancredo. Vítimas da chacina da Baixada
Fluminense (2004), por exemplo, não precisaram aguardar a
decisão judicial.
O subprocurador-geral do
Estado, Rodrigo Mascarenhas,
diz que os pedidos não exigiam
o arquivamento dos processos.
"Não se comprovou a participação de servidores estaduais.
A secretaria tinha a opção de
apurar melhor ou arquivar.
Quando a PGE recomenda o
arquivamento, faz isso explicitamente". Segundo ele, mesmo
pedindo o arquivamento, a
PGE poderia ser contrariada.
Parecer contrariado
Em dois casos, a PGE concordou com a concessão da pensão
e foi contrariada: aos familiares
de Maicon e também de Rodrigo Marques da Silva, assassinado no morro da Coroa em 1999.
No primeiro, a ex-governadora (PMDB) negou o pedido.
A PGE argumentara que, ao pagar uma indenização de R$ 10
mil à família de Maicon, o Estado havia reconhecido a responsabilidade e deveria aceitar o
pedido de pensão.
No caso de Rodrigo, o processo sequer chegou ao gabinete
de Rosinha: foi arquivado ainda
na antiga secretaria de Direitos
Humanos. "Se isso de fato ocorreu, assumo o erro", diz Baía.
Texto Anterior: Prefeitura de SP aumenta área de restrição a caminhão Próximo Texto: Faltou aprovação da procuradoria, diz ex-secretário Índice
|