São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2008

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Em guerra, complexo da Penha se contrapõe à calmaria no Alemão

Trégua no complexo do Alemão completa um ano em junho; na vizinha Penha, quatro pessoas morrem por mês, em média

Embora tráfico ainda atue no Alemão, obras do PAC pacificaram a área; perto dali, confronto entre polícia e criminosos elevou violência

PAULA MÁIRAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Violência e paz se tornaram vizinhas na zona norte do Rio. Enquanto o complexo de favelas do Alemão completa, no mês que vem, um ano de trégua contínua na guerra entre a polícia e o tráfico, no complexo da Penha, faz um ano que os intervalos entre um tiroteio e outro não alcançam 15 dias. Morrem ali, em média, ao menos quatro pessoas baleadas por mês. Em abril, houve 15 mortes em uma única semana de confronto.
Ex-comandante do batalhão da área, hoje no comando do policiamento da capital, o coronel PM Marcos Jardim, após os confrontos com traficantes no ano passado, disse que 2007 seria "o ano do Pan, do PAC e do pau", expressão levada ao pé da letra nos dois complexos.
O tráfico continua atuante no complexo do Alemão. Mas não há notícia, segundo moradores e a polícia, de tiroteios com mortos ou feridos na localidade desde 27 de junho do ano passado, quando morreram baleadas pela polícia 19 pessoas na Grota, uma entre as 12 comunidades do complexo.
Depois da matança, a polícia não promoveu mais operações ostensivas no território -onde vivem cerca de 200 mil pessoas-, embora a alguns metros do cerco externo da Força Nacional o tráfico atue armado na venda de drogas, sem criar, porém, empecilhos ao avanço das obras de saneamento do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento do governo federal), iniciadas em março com o emprego de 200 moradores.
"Vai fazer um ano em junho sem tiro, sem morte, sem feridos. Aquele ato foi muito truculento. Mais de mil policiais entraram aqui. A população que pagou. Amenizaram o trauma com o PAC. E a resposta da população ao PAC é a paz", diz Wagner Nicácio, presidente da associação da Grota.
Mas o lugar não é um paraíso. "A gente fica tranqüilo entre aspas", admite o coordenador do núcleo da ONG Afroreggae no Alemão, Chico Oliveira, referindo-se ao temor de que a paz por ali não passe de trégua.

Mortes em dobro
Em contraponto, no vizinho complexo da Penha -endereço de 130 mil pessoas de dez comunidades-, aumentaram as mortes a partir de 2 de maio de 2007, quando se iniciou caçada policial aos assassinos de dois policiais militares, atacados ao patrulhar o local de onde o menino João Hélio, 7, foi arrastado em fevereiro pelo asfalto até a morte. Entre março de 2007 e abril último, houve 60 mortes em confronto com a polícia nos dois complexos -39 na Penha.
Entre 2006 e 2007, as mortes em confronto subiram de 63 para 171 na região da Penha. De um ano para o outro, o número de policiais mortos passou de um para sete, assim como a quantidade de homicídios dolosos subiu de 150 para 170. Os dados são do ISP (Instituto de Segurança Pública).
Ainda assim, a polícia não pode proclamar vitória. "Se a violência só aumenta, isso prova que o confronto é ineficaz contra o tráfico", conclui o líder comunitário Edmundo Santos de Oliveira. "O que precisamos é de uma intervenção social, investimento em educação."
De acordo com o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, as ações da polícia no complexo do Alemão não se justificam por falta de dados que permitam o acesso a alvos significativos. "Mas, se tivermos de entrar, entraremos", diz. "Temos informações de que traficantes de lá migraram para outras comunidades, como as da Penha, onde temos promovido operações."


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