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Em guerra, complexo da Penha se contrapõe à calmaria no Alemão
Trégua no complexo do Alemão completa um ano em junho; na vizinha Penha, quatro pessoas morrem por mês, em média
Embora tráfico ainda atue no Alemão, obras do PAC pacificaram a área; perto dali, confronto entre polícia e criminosos elevou violência
PAULA MÁIRAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Violência e paz se tornaram
vizinhas na zona norte do Rio.
Enquanto o complexo de favelas do Alemão completa, no
mês que vem, um ano de trégua
contínua na guerra entre a polícia e o tráfico, no complexo da
Penha, faz um ano que os intervalos entre um tiroteio e outro
não alcançam 15 dias. Morrem
ali, em média, ao menos quatro
pessoas baleadas por mês. Em
abril, houve 15 mortes em uma
única semana de confronto.
Ex-comandante do batalhão
da área, hoje no comando do
policiamento da capital, o coronel PM Marcos Jardim, após os
confrontos com traficantes no
ano passado, disse que 2007 seria "o ano do Pan, do PAC e do
pau", expressão levada ao pé da
letra nos dois complexos.
O tráfico continua atuante
no complexo do Alemão. Mas
não há notícia, segundo moradores e a polícia, de tiroteios
com mortos ou feridos na localidade desde 27 de junho do ano
passado, quando morreram baleadas pela polícia 19 pessoas
na Grota, uma entre as 12 comunidades do complexo.
Depois da matança, a polícia
não promoveu mais operações
ostensivas no território -onde
vivem cerca de 200 mil pessoas-, embora a alguns metros
do cerco externo da Força Nacional o tráfico atue armado na
venda de drogas, sem criar, porém, empecilhos ao avanço das
obras de saneamento do PAC
(Programa de Aceleração do
Crescimento do governo federal), iniciadas em março com o
emprego de 200 moradores.
"Vai fazer um ano em junho
sem tiro, sem morte, sem feridos. Aquele ato foi muito truculento. Mais de mil policiais entraram aqui. A população que
pagou. Amenizaram o trauma
com o PAC. E a resposta da população ao PAC é a paz", diz
Wagner Nicácio, presidente da
associação da Grota.
Mas o lugar não é um paraíso.
"A gente fica tranqüilo entre
aspas", admite o coordenador
do núcleo da ONG Afroreggae
no Alemão, Chico Oliveira, referindo-se ao temor de que a
paz por ali não passe de trégua.
Mortes em dobro
Em contraponto, no vizinho
complexo da Penha -endereço
de 130 mil pessoas de dez comunidades-, aumentaram as
mortes a partir de 2 de maio de
2007, quando se iniciou caçada
policial aos assassinos de dois
policiais militares, atacados ao
patrulhar o local de onde o menino João Hélio, 7, foi arrastado em fevereiro pelo asfalto até
a morte. Entre março de 2007 e
abril último, houve 60 mortes
em confronto com a polícia nos
dois complexos -39 na Penha.
Entre 2006 e 2007, as mortes
em confronto subiram de 63
para 171 na região da Penha. De
um ano para o outro, o número
de policiais mortos passou de
um para sete, assim como a
quantidade de homicídios dolosos subiu de 150 para 170. Os
dados são do ISP (Instituto de
Segurança Pública).
Ainda assim, a polícia não pode proclamar vitória. "Se a violência só aumenta, isso prova
que o confronto é ineficaz contra o tráfico", conclui o líder comunitário Edmundo Santos de
Oliveira. "O que precisamos é
de uma intervenção social, investimento em educação."
De acordo com o secretário
de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, as ações da polícia no complexo do Alemão
não se justificam por falta de
dados que permitam o acesso a
alvos significativos. "Mas, se tivermos de entrar, entraremos",
diz. "Temos informações de
que traficantes de lá migraram
para outras comunidades, como as da Penha, onde temos
promovido operações."
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