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Incêndio criminoso mata garota de 15 anos que vivia na rua
Já um adolescente de 16 anos teve todo o corpo queimado; crime ocorreu debaixo de um viaduto na zona norte do Rio
A jovem estaria no primeiro mês de gravidez; policiais prenderam um rapaz de
19 anos acusado do crime, que negou participação
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO RIO
Uma adolescente moradora
de rua de 15 anos morreu e outro jovem de 16 anos teve o corpo 100% queimado em um incêndio proposital dentro de um
buraco embaixo de um viaduto
na zona norte do Rio.
Funcionária do Previ-Rio,
instituto de previdência do município, Flávia de Souza Oliveira, 15 -que estava no primeiro
mês de gravidez, de acordo com
o namorado-, dormia com
mais cinco jovens moradores
de rua, dentro de um buraco
sob o viaduto dos Marinheiros,
na praça da Bandeira, zona norte. Às 5h30 de ontem, morreu
carbonizada. O outro adolescente, de 16 anos, até ontem resistia, internado no hospital
Souza Aguiar, às queimaduras
em 100% do corpo.
Os sobreviventes acusaram
Paulo Roberto de Oliveira Ribeiro, 19, o Dopira, de ter provocado o incêndio como vingança por ter sido expulso do
buraco, na semana passada,
após a prática de roubos nas
imediações.
PMs prenderam Ribeiro, em
flagrante, ainda pela manhã.
Carregava uma bolsa térmica
com pedaços de espuma, material encontrado grudado na pele do jovem de 16 anos, e fósforos.
Ribeiro negou ter cometido o
crime, mas, segundo o delegado
Sandro Caldeira, da 20ª DP (Vila Isabel), será indiciado sob a
acusação de homicídio qualificado. Embora não tenham sido
encontrados antecedentes, ele
disse à polícia que teve envolvimento com o tráfico de drogas e
que estaria "jurado de morte".
Segundo os sobreviventes, os
moradores do buraco -três
meninas e três rapazes- trabalham numa gráfica em Piedade,
à exceção de Ribeiro.
Uma das adolescentes afirmou à polícia que viu quando
Ribeiro entrou no buraco e saiu
em poucos minutos. Em seguida, segundo ela, o fogo espalhou-se pelo buraco mobiliado
com um sofá e que dispõe de
uma abertura voltada para a
avenida Francisco Bicalho.
O namorado de Flávia de
Souza Oliveira, de 17 anos, não
estava no buraco ontem, porque foi o seu primeiro dia de
trabalho. Ele mostrou à polícia
a carteira da jovem de funcionária do Previ-Rio, na Cidade
Nova.
"Tirei ela de um abrigo da
prefeitura para morar com ela,
que estava grávida. A mãe dela
nos visitou no sábado e disse
que iria pagar aluguel para a
gente sair dali", disse ele, com
uma medalha no pescoço igual
à de sua namorada. "Deixei Flávia dormir no buraco para que
não ficasse sozinha. Não podia
imaginar que aconteceria uma
coisa dessas. Ela me pediu que
eu não fosse trabalhar, só que
eu não podia faltar", disse ele.
Um tio do jovem hospitalizado contou que ele foi criado por
uma tia, que o trouxe ainda bebê, órfão de pai e mãe, de Maceió. Segundo o parente, o adolescente mantinha bom relacionamento com a tia, mas, ultimamente, morava e trabalhava em um abrigo na praça da
Bandeira. "Não sei por que não
foi para a casa da tia, mas ele
dormiu na rua porque chegou
no abrigo depois das 22h e, por
causa do atraso, só o deixariam
entrar na segunda."
Um amigo de 15 anos conseguiu retirar o jovem de 16 anos
do incêndio e tirou suas roupas.
O jovem ainda correu em chamas por alguns metros antes da
chegada dos bombeiros.
O incêndio ocorreu pouco
mais de uma semana depois de
uma operação que resultou na
apreensão de infratores sob o
viaduto, onde foram encontrados objetos roubados. No fim
do dia, a polícia pediu o recolhimento dos jovens e o encaminhamento do grupo a abrigos.
Os sobreviventes foram encaminhados ao Centro de Recepção Carioca.
(PAULA MÁIRAN)
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