São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2008

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Incêndio criminoso mata garota de 15 anos que vivia na rua

Já um adolescente de 16 anos teve todo o corpo queimado; crime ocorreu debaixo de um viaduto na zona norte do Rio

A jovem estaria no primeiro mês de gravidez; policiais prenderam um rapaz de 19 anos acusado do crime, que negou participação

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NO RIO

Uma adolescente moradora de rua de 15 anos morreu e outro jovem de 16 anos teve o corpo 100% queimado em um incêndio proposital dentro de um buraco embaixo de um viaduto na zona norte do Rio.
Funcionária do Previ-Rio, instituto de previdência do município, Flávia de Souza Oliveira, 15 -que estava no primeiro mês de gravidez, de acordo com o namorado-, dormia com mais cinco jovens moradores de rua, dentro de um buraco sob o viaduto dos Marinheiros, na praça da Bandeira, zona norte. Às 5h30 de ontem, morreu carbonizada. O outro adolescente, de 16 anos, até ontem resistia, internado no hospital Souza Aguiar, às queimaduras em 100% do corpo.
Os sobreviventes acusaram Paulo Roberto de Oliveira Ribeiro, 19, o Dopira, de ter provocado o incêndio como vingança por ter sido expulso do buraco, na semana passada, após a prática de roubos nas imediações.
PMs prenderam Ribeiro, em flagrante, ainda pela manhã. Carregava uma bolsa térmica com pedaços de espuma, material encontrado grudado na pele do jovem de 16 anos, e fósforos.
Ribeiro negou ter cometido o crime, mas, segundo o delegado Sandro Caldeira, da 20ª DP (Vila Isabel), será indiciado sob a acusação de homicídio qualificado. Embora não tenham sido encontrados antecedentes, ele disse à polícia que teve envolvimento com o tráfico de drogas e que estaria "jurado de morte".
Segundo os sobreviventes, os moradores do buraco -três meninas e três rapazes- trabalham numa gráfica em Piedade, à exceção de Ribeiro.
Uma das adolescentes afirmou à polícia que viu quando Ribeiro entrou no buraco e saiu em poucos minutos. Em seguida, segundo ela, o fogo espalhou-se pelo buraco mobiliado com um sofá e que dispõe de uma abertura voltada para a avenida Francisco Bicalho.
O namorado de Flávia de Souza Oliveira, de 17 anos, não estava no buraco ontem, porque foi o seu primeiro dia de trabalho. Ele mostrou à polícia a carteira da jovem de funcionária do Previ-Rio, na Cidade Nova.
"Tirei ela de um abrigo da prefeitura para morar com ela, que estava grávida. A mãe dela nos visitou no sábado e disse que iria pagar aluguel para a gente sair dali", disse ele, com uma medalha no pescoço igual à de sua namorada. "Deixei Flávia dormir no buraco para que não ficasse sozinha. Não podia imaginar que aconteceria uma coisa dessas. Ela me pediu que eu não fosse trabalhar, só que eu não podia faltar", disse ele.
Um tio do jovem hospitalizado contou que ele foi criado por uma tia, que o trouxe ainda bebê, órfão de pai e mãe, de Maceió. Segundo o parente, o adolescente mantinha bom relacionamento com a tia, mas, ultimamente, morava e trabalhava em um abrigo na praça da Bandeira. "Não sei por que não foi para a casa da tia, mas ele dormiu na rua porque chegou no abrigo depois das 22h e, por causa do atraso, só o deixariam entrar na segunda."
Um amigo de 15 anos conseguiu retirar o jovem de 16 anos do incêndio e tirou suas roupas. O jovem ainda correu em chamas por alguns metros antes da chegada dos bombeiros.
O incêndio ocorreu pouco mais de uma semana depois de uma operação que resultou na apreensão de infratores sob o viaduto, onde foram encontrados objetos roubados. No fim do dia, a polícia pediu o recolhimento dos jovens e o encaminhamento do grupo a abrigos. Os sobreviventes foram encaminhados ao Centro de Recepção Carioca. (PAULA MÁIRAN)


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