São Paulo, terça-feira, 12 de junho de 2007

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Polícia apura se francês foi alvo de homofobia

Delegado lembra que crime ocorreu perto da Paulista, onde horas antes houve a Parada Gay, e em área freqüentada por homossexuais

A polícia não sabe dizer ainda desde quando Grégor Erwan Landouar estava no Brasil nem onde ele estava hospedado

ANDRÉ CARAMANTE
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL

O turista francês Grégor Erwan Landouar, 35, foi esfaqueado por volta das 22h30 de domingo, na alameda Franca, nos Jardins (zona oeste de SP). Ele morreu após ser socorrido no Hospital das Clínicas.
De acordo com o delegado Flávio da Costa, do DHPP (departamento de homicídios), a polícia trabalha com várias hipóteses para o esfaqueamento, mas uma das mais fortes é o crime de intolerância.
Por dois motivos, diz Costa: a Parada Gay na avenida Paulista, horas antes e perto do local do crime, evento do qual a vítima participou, e também a região onde ele foi esfaqueado, uma área dos Jardins freqüentada por homossexuais.
A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, que tem um banco de dados com informações de integrantes de movimentos racistas, como os skinheads, por exemplo, já ajuda nas investigações. Em março, cinco skinheads foram presos acusados de atacar homossexuais na região.
Landouar foi esfaqueado por um homem na frente do banco Santander da alameda Franca, após ter deixado o restaurante Ritz. No momento do crime, o turista estava com três outros homens, que conheceu durante a parada e com quem ele bebeu.
O homem que atacou Landouar também andava em um grupo, provavelmente com outras duas ou três pessoas. Ele usava roupas largas, segundo uma das três testemunhas que estavam com o turista, e teria gritado uma palavra "parecida" com "facção" durante o ataque.
Segundo uma das testemunhas, ele e dois amigos haviam conhecido o francês meia hora antes, no balcão do Ritz, enquanto tomavam champanhe. A polícia, porém, afirma que o grupo se conheceu na parada.
Ontem, a testemunha, única pessoa ouvida até agora pela polícia, disse que passava mal na hora do ataque ao turista. "Eu estava no canto da calçada, abaixado, e ele [Landouar] conversava com o meu amigo mais perto da rua", explicou.
Para a testemunha, que pede para não ser identificada por temer represálias, o crime pode ter sido motivado por preconceito contra homossexuais. "Não sei, mas acho que sim." Segundo ele, a alameda Franca estava vazia e pouco iluminada na hora do ataque.
Ontem, policiais começaram a percorrer a região da alameda Franca para tentar localizar testemunhas do ataque e também fazer um mapeamento das câmeras de segurança dos prédios localizados na área.
A polícia também já tenta levantar junto aos garotos de programa que trabalham na região do parque Trianon se eles foram ameaçados por pessoas com as mesmas características dos que atacaram o turista.
A polícia não sabe dizer ainda desde quando Landouar estava no Brasil nem onde ele estava hospedado. Sabe-se apenas que, em 7 de junho, João Monteiro da Cunha Salgado Neto, morador do bairro da Saúde (zona sul de SP), registrou um boletim de ocorrência pela internet dando conta de que o amigo francês havia sumido.
Os dois haviam ido ao shopping Metrô Tatuapé (zona leste) comprar um telefone celular e acabaram se separando. "Mas isso não quer dizer que a vítima estava sumida desde o dia 7. Tem gente que registra sumiço e depois não informa que encontrou quem procurava", disse o delegado Costa.

Corpo
O Consulado Geral da França em São Paulo afirmou que, até ontem, não havia feito contato com a família de Landouar, que nasceu em Paris e vivia no sudoeste francês. Segundo o órgão, ele estava no país havia duas semanas. A família decidirá se virá ao Brasil para o enterro ou se prefere que o corpo seja repatriado.
O consulado diz que Landouar não viajava só. Um amigo, cujo nome não foi divulgado, o acompanhava. Ao ser questionado se o crime iria afetar a vinda de franceses para o Brasil, Stephane Casteran, porta-voz do consulado, disse: "O número de turistas franceses cresceu nos últimos dez anos. É um fato triste, mas não é esse caso que vai abalar o turismo".
O secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, não se pronunciou. Por seus assessores, disse que os dados de homicídios nos Jardins em 2007 estão sendo "revistos". Em 2004, foi um caso; em 2005, cinco; e em 2006, três.


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