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Alunos acusam professor da USP de plágio
Estudantes recorrem contra nomeação de professor titular da faculdade de direito; Dabus Maluf nega as acusações
Contestação cita cópia de textos na íntegra; escolhido diz que citação de autores, ainda que sem aspas, mostra não haver má-fé
ALENCAR IZIDORO
RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Três alunos da Faculdade de
Direito da USP (Universidade
de São Paulo) formalizaram um
recurso contra a nomeação de
um professor ao posto de titular -ápice da carreira docente- sob a alegação de que sua
tese avaliada no processo de seleção tem indícios de plágio.
O documento, protocolado
na última sexta-feira, questiona os critérios de "originalidade" e "honestidade científica"
na obra que resultou na sua nomeação à cadeira de titular da
principal universidade do país.
Dois dos três responsáveis
pelo recurso são representantes discentes da faculdade de
direito do largo São Francisco
-eleitos pelos demais alunos
para representá-los perante os
órgãos administrativos da USP.
O professor citado, Carlos Alberto Dabus Maluf, é um renomado especialista em direito
civil, que tomou posse da cadeira titular em fevereiro deste
ano, e tem 15 livros publicados.
Dabus Maluf afirma que, embora não conheça os estudantes, a contestação deve estar ligada ao fato de seu cargo ser
"muito visado, uma vitrine".
A contestação apresentada
ao conselho universitário da
USP faz a comparação da obra
"A Inexistência na Teoria das
Nulidades", entregue por Dabus Maluf para a disputa do
cargo de professor titular, com
a de outros nove autores. Ela
conclui haver "estranhas coincidências", "tudo permeado pela intrigante falta de utilização
das necessárias aspas, além de
pequenas alterações de redação e supostas apropriações intelectuais de obra alheia".
Os alunos argumentam, por
exemplo, que há um capítulo
inteiro reproduzido praticamente palavra por palavra, sem
a colocação de aspas e sem explicitar que não se trata de idéia
nem de texto do professor Dabus Maluf, mas de um livro de
Paulo Barbosa Campos Filho.
O professor afirma que os autores originais são citados por
sua obra, seja em nota de rodapé, seja no meio de alguns parágrafos -sinalizando não haver
qualquer indício de má-fé.
Os responsáveis pelo recurso
avaliam que as citações feitas
são só uma indicação de que as
obras desses autores foram
consultadas, sem explicitar que
se trata de uma cópia praticamente integral de seus textos.
Os alunos (Carolina Dalla
Pacce, Ricardo Caltabiano Valente Silva e Natália Molina)
afirmam que a contestação é
um "questionamento" visando
divulgar à graduação e à pós-graduação, caso estejam corretos, os critérios acadêmicos da
tese de Dabus Maluf.
Eles afirmam que demoraram para formalizar a contestação porque receberam denúncia anônima em fevereiro de
2008 e precisaram pesquisar o
caso. O prazo para a contestação do resultado da banca acabou ainda no final de 2007.
Dabus Maluf disputou a vaga
com outros dois concorrentes:
Roberto Senise Lisboa e Edvaldo Pereira de Brito. Dos cinco
examinadores, três deram a nota mais alta para Dabus Maluf, e
outros dois, para Lisboa.
O recurso diz que até mesmo
um dos membros da banca que
selecionou o professor teve
uma obra sua reproduzida sem
as aspas. Trata-se de Álvaro Villaça Azevedo, titular aposentado da USP, que deu a nota mais
alta a Dabus Maluf (9,3). Ele
não se pronunciou oficialmente à Folha sobre o assunto.
Um dos cinco examinadores
da banca, João Baptista Villela,
titular aposentado da UFMG
(Universidade Federal de Minas Gerais), relatou que Azevedo fez publicamente menção à
transcrição de seu trabalho,
"até rindo". Villela deu a menor
nota a Maluf (4,85).
"Não tenho elementos para
dizer com segurança se houve
plágio. Mas não é segredo que
um dos examinadores disse
claramente que era plágio de
um trabalho dele. Em determinado trecho, ele disse: "Isso
aqui é meu, você deveria ter me
dado um crédito pelo menos"."
Dabus Maluf diz que foi só
um tipo de brincadeira.
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