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Para o professor Dalmo Dallari, é um radicalismo fora de moda
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Professor emérito da Faculdade de Direito da USP, Dalmo
de Abreu Dallari, 77, é nome
sempre associado às causas de
esquerda na universidade.
Em 1981, foi candidato a reitor em nome da Associação dos
Docentes da USP, da Associação dos Servidores e do Diretório Central dos Estudantes. Ganhou no voto direto, perdeu
quando a eleição passou pelas
instâncias formais da universidade. Hoje, está divorciado das
entidades que o apoiaram.
Critica a "violência" dos protestos de agora, apoia a entrada
da PM no campus e a reitora.
FOLHA - O que deu errado na terça?
DALMO DALLARI - Há um conjunto de erros. Em primeiro lugar,
a maneira como estão sendo
postas as reivindicações. Há
um excesso de temas -tem a
reivindicação salarial, a questão do ensino a distância, a
readmissão de um funcionário
demitido. São coisas completamente diferentes e cuja decisão
depende de órgãos diferentes.
É preciso reduzir essa pauta a
um temário coerente. Além
disso, não posso admitir a prática de violência física contra a
universidade, um patrimônio
público. Fiquei indignado
quando vi as fotografias de funcionários e alunos arrebentando a universidade. Essas pessoas não gostam da USP.
FOLHA - Elas dizem que é a reitora
que não gosta.
DALLARI - Essas pessoas têm
um radicalismo fora de moda.
Querem impor a adesão ao movimento por intermédio dos piquetes. É natural que quem reivindica procure obter adesão.
Mas isso deve ser feito pelo
convencimento. E não cerceando os direitos dos professores,
funcionários e alunos que querem atividades normais. Não
posso reivindicar o meu direito
agredindo o dos outros.
FOLHA - É chamando a polícia que
se resolve isso?
DALLARI - É claro que a presença da polícia no campus não é
desejável. Mas isso é muito diferente da polícia que invadiu o
campus na ditadura militar. A
polícia naquela época impedia
o exercício do direito de expressão, de reunião, de reivindicação. Era uma polícia arbitrária e violenta por natureza.
Mas agora o que aconteceu é
que a PM compareceu para fazer cumprir uma determinação
judicial, visando à proteção do
patrimônio público. E acho que
a reitora agiu corretamente
quando solicitou essa proteção.
FOLHA - Mas a polícia acabou jogando bomba em estudante contra
a greve. Está certo isso?
DALLARI - A história está cheia
de exemplos em que a polícia
acaba se excedendo. Mas houve
situações de um grupo de manifestantes cercando a polícia.
É fácil de imaginar o temor dos
policiais de serem agredidos,
humilhados. Isso acabou precipitando ações violentas da polícia, também condenáveis.
FOLHA - As entidades alegam que
a reitora fugiu do diálogo...
DALLARI - Eu, se fosse reitor,
também não compareceria a
uma reunião com esse tipo de
radicalismo, até com risco de
agressões físicas.
FOLHA - E agora, o que fazer?
DALLARI - É preciso definir uma
pauta coerente de reivindicações. A reitora poderia designar
uma comissão de membros do
Conselho Universitário, com
representantes de professores,
estudantes e funcionários, que
de maneira civilizada e coerente discutiria sem radicalismos.
FOLHA - E quanto à PM no campus?
DALLARI - Do jeito que as coisas
estão, acho que pura e simplesmente retirar a polícia é temerário. É preciso manter a polícia e abrir a negociação.
FOLHA - As três entidades exigem
a demissão da reitora...
DALLARI - Isso é um absurdo.
Seria desmoralizante para a
própria USP. A reitora foi legalmente escolhida. Está no exercício das suas funções. Nunca
foi alvo de acusações de corrupção. É preciso respeitá-la.
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