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ADMINISTRAÇÃO
Há suspeita de que edital da Prefeitura de SP foi dirigido para favorecer empresa; secretaria nega irregularidade
Promotor apura fraude em licitação de leite
ROGÉRIO GENTILE
LILIAN CHRISTOFOLETTI
da Reportagem Local
O Ministério Público suspeita
que a Prefeitura de São Paulo fraudou a licitação do programa Leve-leite, uma das principais bandeiras
eleitorais do prefeito Celso Pitta e
de seu antecessor Paulo Maluf.
O promotor de Justiça Fernando
Capez considera que há indícios de
que a prefeitura favoreceu a empresa Nutril na concorrência pública, decidida às 15h de ontem.
A licitação prevê o fornecimento
de até 1,6 milhão de toneladas de
leite em pó para o município durante um ano e tem valor total de
R$ 127,1 milhões.
"A vitória da Nutril nos deixa intrigados, porque seu nome já havia
sido anunciado e se dizia que o edital foi feito para beneficiar a empresa", afirmou o promotor.
Capez se refere às suspeitas do
vereador Carlos Neder (PT), que
em 1º de abril publicou, em forma
de anúncio de jornal, uma mensagem cifrada com o título "Salmo
499" -número da concorrência.
Seu teor era o seguinte: "A benção do leite recairá sobre nós.
N.U.T.R.I.L."
Quando foi publicado o anúncio,
havia sete empresas aptas a vencer
-cinco foram desqualificadas depois. Desde que o programa Leve-leite foi criado, em 96, a mineira
Nutril venceu todas as licitações
feitas pela prefeitura.
"Tinha certeza de que a empresa
ganharia novamente a licitação e,
por isso, resolvei publicar a mensagem. Acho que o programa deveria se chamar "Leve-leite-nutril",
porque é sempre a mesma empresa que vence a concorrência com a
prefeitura", disse ontem Neder.
O Ministério Público vê outros
indícios que justificam sua investigação. O principal deles é o fato de
o edital exigir que a empresa interessada já tivesse fornecido 90% da
quantidade que a prefeitura pretende comprar agora.
Por conta disso, a Corregedoria
Municipal havia levantado suspeita, em 10 de abril, de que o edital da
Secretaria Municipal do Abastecimento foi dirigido para que apenas
um pequeno grupo de empresas
pudesse participar da licitação.
De acordo com o presidente do
TCM (Tribunal de Contas do Município), Walter Abrahão, auditores do tribunal acompanharam
ontem a abertura dos envelopes.
"Prefiro me manifestar após receber o relatório que está sendo
elaborado pelos auditores do tribunal. Aparentemente, não consta
nenhuma irregularidade", afirmou Abrahão.
O preço
O preço estabelecido pela Nutril,
apesar de ser o menor apresentado
na concorrência, também está sendo questionado pelo Ministério
Público. O órgão quer saber se não
seria mais barato para a prefeitura
comprar leite pasteurizado (líquido).
A Nutril venceu a Tangará Importações -única concorrente na
licitação- oferecendo o quilo de
leite em pó por R$ 6,62 -o que
corresponde a aproximadamente
R$ 0,73 o litro, após diluição.
A diferença com a Tangará, que
ofereceu por R$ 7,12 o quilo do leite, foi de R$ 0,50.
O presidente da Abilp (Associação Brasileira das Indústrias de
Leite Pasteurizados) diz que o leite
pasteurizado sairia mais barato.
Segundo o presidente da associação, Benedito Vieira Pereira, o preço do litro de leite pasteurizado é
de aproximadamente R$ 0,50.
"Além de o leite em pó ser mais
caro, não tem o mesmo poder nutritivo e a qualidade do pasteurizado", disse Pereira.
Ele criticou o fato de o edital ser
restrito às fornecedoras de leite em
pó. "O número de fornecedores de
leite pasteurizado é infinitamente
maior e se pode obter, dessa forma, preços mais favoráveis", disse.
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