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Governo não vai recuar na lei seca, diz Temporão
Ministro da Saúde afirmou não ver risco de a lei se tornar inócua diante de liminares
Decisões contrárias que questionaram a lei seca foram concedidas a um jornalista de Brasília e a um empresário de São Paulo
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
O ministro da Saúde, José
Gomes Temporão, afirmou ontem, em Recife, que o governo
federal não modificará a lei que
aumentou o rigor contra quem
dirige após beber.
Ele disse não ver risco de a lei
seca se tornar inócua diante de
decisões judiciais contrárias,
como liminares concedidas
nesta semana em ações individuais -contra o exame visual
de suposta embriaguez e o uso
obrigatório do bafômetro.
"Não há possibilidade de recuo", declarou o ministro. "O
governo não vai arredar o pé
nem um milímetro nessa questão." Temporão afirmou estar
"radiante" com os resultados
iniciais da nova lei.
"Daqui a um ano, poderemos
comparar as 17 mil mortes
anuais em acidentes de trânsito
causados pelo álcool com o que
vai acontecer neste primeiro
ano de vigor da legislação", disse. "A sociedade é quem vai julgar se serão precisos ajustes."
O ministro criticou quem insiste em dirigir após beber.
"Quem não pretende cumprir a
lei vai mudar de opinião rapidamente quando for preso", afirmou. "Será bastante pedagógico para eles."
Sobre as ações judiciais contra a nova lei seca, o ministro
disse que as considera normais.
"Aqui e ali, há defesas de posições que são legítimas. O debate é saudável", disse.
"Eu sinceramente não sinto
nenhuma ameaça [à legislação]", afirmou. "Existem algumas ações pontuais sobre aspectos da legislação, mas, por
outro lado, quer seja no Rio de
Janeiro ou em São Paulo, 80%
da população apóia a lei nos
termos em que está."
As liminares que questionaram a lei seca foram concedidas
a um jornalista de Brasília e a
um empresário de São Paulo.
O jornalista, que se envolveu
em um acidente, teve sua suposta embriaguez constatada
apenas em exame clínico, sem o
uso de bafômetro ou teste sangüíneo. A Justiça entendeu que
esse tipo de exame não poderia
ser usado como prova.
Já o empresário paulista obteve o direito de não fazer o teste do bafômetro, com base na
Constituição, que garante ao
indivíduo o direito de não produzir prova contra si.
A lei seca brasileira, que entrou em vigor em 20 de junho, é
considerada uma das mais rigorosas do mundo. Prevê multa
de R$ 955, perda do direito de
dirigir, prisão do infrator e retenção do veículo. Quem se nega a fazer o teste pode ser punido. O limite de constatação de
álcool é de dois decigramas por
litro de sangue, o que equivale a
um copo de chope. A prisão é
decretada a partir da constatação de seis decigramas por litro,
o que equivale a dois copos de
chope. A pena vai de seis meses
a três anos de prisão, mas é
afiançável. Na Argentina, Venezuela e Uruguai, a tolerância
de álcool por quem dirige vai de
5 decigramas a 8 decigramas
por litro. Na Romênia e na
Hungria, o limite é zero.
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