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Irmão quer vingar vítima de militar, diz mãe
Para fazer "justiça", irmão de jovem da Providência quer ser traficante; mãe diz faltar apoio psicológico à família
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
A dona-de-casa L. G. C., 42,
mãe de um dos jovens entregues por militares a traficantes
no Rio, afirmou ontem que seu
outro filho, de 14 anos, quer se
tornar traficante para "fazer
justiça com as próprias mãos".
Ela se encontrou com deputados federais da Comissão de
Segurança Pública e Combate
ao Crime Organizado para contar o que ocorreu com o filho.
Estava acompanhada da avó de
outro dos jovens mortos em encontro na Alerj (Assembléia
Legislativa do Rio).
"Pedi um psicólogo para o
meu filho, mas ainda não tem
ninguém com ele. Ele era muito
amigo do irmão. [Agora] não fala mais nada! Ele disse até que
quer virar vagabundo [traficante] para fazer justiça com as
próprias mãos", afirmou L.G.C.
após a reunião.
Segundo o advogado da família, João Tancredo, o jovem de
14 anos está na casa de parentes
fora do Estado.
O deputado Raul Jungmann
(PPS-PE), presidente da comissão, afirmou que vai pedir ao
ministro da Defesa, Nelson Jobim, para que o governo ofereça imediatamente apoio psicológico à família.
O Ministério da Defesa divulgou nota ontem informando
que não desistiu de indenizar a
família, mas só enviará o projeto de lei após discutir um acordo judicial, já que as famílias
dos rapazes mortos entraram
com uma ação contra a União.
"Eu não queria dinheiro, mas
tiraram o meu filho. Preciso de
alguma coisa para ajudar a criar
o outro que ficou", disse L.G.C.
Além de Jungmann, os deputados Antônio Carlos Biscaia e
Jair Bolsonaro foram ao Rio
conversar com representantes
do Ministério Público Federal,
do Ministério Público Estadual, da Procuradoria da Justiça Militar e com moradores do
morro da Providência para elaborar um relatório sobre o caso.
O objetivo é discutir um projeto de lei que regulamente o
emprego das Forças Armadas
na segurança pública.
Onze militares entregaram
os três jovens a traficantes do
morro da Mineira, onde os
pontos de venda de drogas são
comandados pela ADA (Amigos dos Amigos), rival do CV
(Comando Vermelho), facção
que atua no morro da Providência.
Oito dos militares, entre eles
um tenente, estão presos. Todos respondem por homicídio
doloso.
Em uma das audiências, os
deputados ouviram a presidente da associação de moradores
da favela, Vera Melo.
Discussão
Vera discutiu com o deputado estadual Jair Bolsonaro, ex-capitão do Exército, ao afirmar
que não sabia diferenciar as patentes dos militares a partir dos
símbolos estampados nas fardas. Bolsonaro queria saber se
militares de alta patente também praticavam os abusos.
"Se você não sabe diferenciar
um sargento de um soldado, eu
não tenho mais nada para perguntar", disse o deputado.
"Você é um deputado, eu sou
presidente [da associação de
moradores]! Trato com todo
mundo: autoridade, deputado,
vagabundo. Eu não sou obrigada a saber isso", respondeu Vera para Bolsonaro.
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