São Paulo, sábado, 12 de julho de 2008

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Irmão quer vingar vítima de militar, diz mãe

Para fazer "justiça", irmão de jovem da Providência quer ser traficante; mãe diz faltar apoio psicológico à família

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

A dona-de-casa L. G. C., 42, mãe de um dos jovens entregues por militares a traficantes no Rio, afirmou ontem que seu outro filho, de 14 anos, quer se tornar traficante para "fazer justiça com as próprias mãos".
Ela se encontrou com deputados federais da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado para contar o que ocorreu com o filho. Estava acompanhada da avó de outro dos jovens mortos em encontro na Alerj (Assembléia Legislativa do Rio).
"Pedi um psicólogo para o meu filho, mas ainda não tem ninguém com ele. Ele era muito amigo do irmão. [Agora] não fala mais nada! Ele disse até que quer virar vagabundo [traficante] para fazer justiça com as próprias mãos", afirmou L.G.C. após a reunião.
Segundo o advogado da família, João Tancredo, o jovem de 14 anos está na casa de parentes fora do Estado.
O deputado Raul Jungmann (PPS-PE), presidente da comissão, afirmou que vai pedir ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, para que o governo ofereça imediatamente apoio psicológico à família.
O Ministério da Defesa divulgou nota ontem informando que não desistiu de indenizar a família, mas só enviará o projeto de lei após discutir um acordo judicial, já que as famílias dos rapazes mortos entraram com uma ação contra a União.
"Eu não queria dinheiro, mas tiraram o meu filho. Preciso de alguma coisa para ajudar a criar o outro que ficou", disse L.G.C.
Além de Jungmann, os deputados Antônio Carlos Biscaia e Jair Bolsonaro foram ao Rio conversar com representantes do Ministério Público Federal, do Ministério Público Estadual, da Procuradoria da Justiça Militar e com moradores do morro da Providência para elaborar um relatório sobre o caso.
O objetivo é discutir um projeto de lei que regulamente o emprego das Forças Armadas na segurança pública.
Onze militares entregaram os três jovens a traficantes do morro da Mineira, onde os pontos de venda de drogas são comandados pela ADA (Amigos dos Amigos), rival do CV (Comando Vermelho), facção que atua no morro da Providência.
Oito dos militares, entre eles um tenente, estão presos. Todos respondem por homicídio doloso.
Em uma das audiências, os deputados ouviram a presidente da associação de moradores da favela, Vera Melo.

Discussão
Vera discutiu com o deputado estadual Jair Bolsonaro, ex-capitão do Exército, ao afirmar que não sabia diferenciar as patentes dos militares a partir dos símbolos estampados nas fardas. Bolsonaro queria saber se militares de alta patente também praticavam os abusos.
"Se você não sabe diferenciar um sargento de um soldado, eu não tenho mais nada para perguntar", disse o deputado.
"Você é um deputado, eu sou presidente [da associação de moradores]! Trato com todo mundo: autoridade, deputado, vagabundo. Eu não sou obrigada a saber isso", respondeu Vera para Bolsonaro.


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