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Fechado, Municipal do Rio faz 100 anos
Marco de um projeto que pretendia fazer do Rio uma "Paris tropical", teatro celebra centenário na terça; obras já duram mais de um ano
Prevista para terminar em novembro, a reforma custou R$ 60 milhões e revelou
um painel feito em 1909, emparedado no passado
AUDREY FURLANETO
DA SUCURSAL DO RIO
A rua do Ouvidor já surgia
nas obras de Machado de Assis
e reunia as lojas que ditavam a
moda da cidade, mas era distante de uma Champs-Elysées,
a luxuosa avenida francesa.
Era o início do século 20, e o
Rio de Janeiro queria ser Paris.
Na "belle époque" carioca, surgia primeiro a avenida Central
(hoje Rio Branco). O projeto
era embelezar o centro e afastar dali moradores pobres.
A obra do Teatro Municipal
do Rio foi a encomenda final do
então prefeito Pereira Passos
para a revitalização da área. Na
próxima terça-feira, o prédio,
de inspiração art nouveau, vai
completar cem anos -e mais
de um de reforma, que deve terminar em novembro.
Fechado desde outubro do
ano passado, embora a reparação do telhado tenha começado
antes, em fevereiro, o Municipal carioca vive sua quarta reforma desde a inauguração,
quando eram, ele e o Rio, os
centros da cultura brasileira.
Na praça Floriano, na Cinelândia, o Municipal, construído
ao lado da Biblioteca Nacional e
da Câmara Municipal, era a base do projeto para fazer do Rio a
"Paris tropical".
E, enquanto o Teatro de Manaus ficava distante do eixo
cultural e São Paulo abrigava
óperas mais voltadas para a comunidade italiana, o Municipal
carioca criava uma linha plural,
com obras de compositores italianos e germânicos.
O teatro estreou "O Lago dos
Cisnes", em 1958, com Eugenia
Feodorova, foi palco para célebres bailarinos, como Nijinsky,
abrigou a montagem histórica
de Ziembinski para "Vestido de
Noiva", de Nelson Rodrigues, e
recebeu grandes nomes da música, de Sarah Bernhardt e Maria Callas a Heitor Villa-Lobos.
Apesar de sua relevância, o
prédio, projetado pelo arquiteto francês Albert Guilbert com
o brasileiro Francisco de Oliveira Passos, nunca havia passado por uma reforma de base.
"Era preciso trocar instalação
hidráulica e elétrica antes de
tudo", conta a diretora da Fundação Theatro Municipal, Carla Camurati.
Obra revelada
Foi uma mudança de instalação elétrica, feita na semana
passada, que levou à descoberta
de uma relíquia esquecida: um
painel de Eliseu Visconti (1866-1944) feito em 1909 e emparedado numa das reformas anteriores do teatro.
Em 1934, o artista criou outro trabalho para o proscênio
(parte da frente do palco). A
fundação não sabia o que havia
sido feito do painel de 1909, revelado agora.
"Como não recebeu luz direta, a tela não oxidou. O painel
está empoeirado, mas intacto",
diz o restaurador Humberto
Faria de Carvalho.
Visconti é o artista do Municipal carioca. Em 1908, fez em
oito partes, num ateliê em Paris, a tela "A Dança das Horas"
que foi transportada e "colada"
no teto da sala de espetáculos.
Agora, a obra foi restaurada
com a ajuda de um software
que calcula soluções aquosas
para o restauro.
Autoestima do centro
Orçada em R$ 60 milhões
-R$ 5 milhões do Estado do
Rio e o restante do Pronac
(Programa Nacional de Apoio à
Cultura)-, a reforma revelou
mais detalhes do teatro.
No teto do restaurante Assyrio, por exemplo, havia uma
pintura artística com margaridas, coberta com tinta branca
ao longo dos anos. O restaurante, que voltará a funcionar após
a reforma, tem decoração de
motivos persas e a parede forrada com cerâmica esmaltada.
Para Carla Camurati, "a reforma vai motivar não só uma
mudança interna e artística,
mas externa, no centro da cidade". "Você vai ver se, quando
estiver pronto, o teatro não vai
revitalizar tudo à sua volta. Vai
aumentar a autoestima do centro de novo."
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