São Paulo, domingo, 12 de julho de 2009

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Fechado, Municipal do Rio faz 100 anos

Marco de um projeto que pretendia fazer do Rio uma "Paris tropical", teatro celebra centenário na terça; obras já duram mais de um ano

Prevista para terminar em novembro, a reforma custou R$ 60 milhões e revelou um painel feito em 1909, emparedado no passado

AUDREY FURLANETO
DA SUCURSAL DO RIO

A rua do Ouvidor já surgia nas obras de Machado de Assis e reunia as lojas que ditavam a moda da cidade, mas era distante de uma Champs-Elysées, a luxuosa avenida francesa.
Era o início do século 20, e o Rio de Janeiro queria ser Paris. Na "belle époque" carioca, surgia primeiro a avenida Central (hoje Rio Branco). O projeto era embelezar o centro e afastar dali moradores pobres.
A obra do Teatro Municipal do Rio foi a encomenda final do então prefeito Pereira Passos para a revitalização da área. Na próxima terça-feira, o prédio, de inspiração art nouveau, vai completar cem anos -e mais de um de reforma, que deve terminar em novembro.
Fechado desde outubro do ano passado, embora a reparação do telhado tenha começado antes, em fevereiro, o Municipal carioca vive sua quarta reforma desde a inauguração, quando eram, ele e o Rio, os centros da cultura brasileira.
Na praça Floriano, na Cinelândia, o Municipal, construído ao lado da Biblioteca Nacional e da Câmara Municipal, era a base do projeto para fazer do Rio a "Paris tropical".
E, enquanto o Teatro de Manaus ficava distante do eixo cultural e São Paulo abrigava óperas mais voltadas para a comunidade italiana, o Municipal carioca criava uma linha plural, com obras de compositores italianos e germânicos.
O teatro estreou "O Lago dos Cisnes", em 1958, com Eugenia Feodorova, foi palco para célebres bailarinos, como Nijinsky, abrigou a montagem histórica de Ziembinski para "Vestido de Noiva", de Nelson Rodrigues, e recebeu grandes nomes da música, de Sarah Bernhardt e Maria Callas a Heitor Villa-Lobos.
Apesar de sua relevância, o prédio, projetado pelo arquiteto francês Albert Guilbert com o brasileiro Francisco de Oliveira Passos, nunca havia passado por uma reforma de base. "Era preciso trocar instalação hidráulica e elétrica antes de tudo", conta a diretora da Fundação Theatro Municipal, Carla Camurati.

Obra revelada
Foi uma mudança de instalação elétrica, feita na semana passada, que levou à descoberta de uma relíquia esquecida: um painel de Eliseu Visconti (1866-1944) feito em 1909 e emparedado numa das reformas anteriores do teatro.
Em 1934, o artista criou outro trabalho para o proscênio (parte da frente do palco). A fundação não sabia o que havia sido feito do painel de 1909, revelado agora.
"Como não recebeu luz direta, a tela não oxidou. O painel está empoeirado, mas intacto", diz o restaurador Humberto Faria de Carvalho.
Visconti é o artista do Municipal carioca. Em 1908, fez em oito partes, num ateliê em Paris, a tela "A Dança das Horas" que foi transportada e "colada" no teto da sala de espetáculos. Agora, a obra foi restaurada com a ajuda de um software que calcula soluções aquosas para o restauro.

Autoestima do centro
Orçada em R$ 60 milhões -R$ 5 milhões do Estado do Rio e o restante do Pronac (Programa Nacional de Apoio à Cultura)-, a reforma revelou mais detalhes do teatro.
No teto do restaurante Assyrio, por exemplo, havia uma pintura artística com margaridas, coberta com tinta branca ao longo dos anos. O restaurante, que voltará a funcionar após a reforma, tem decoração de motivos persas e a parede forrada com cerâmica esmaltada.
Para Carla Camurati, "a reforma vai motivar não só uma mudança interna e artística, mas externa, no centro da cidade". "Você vai ver se, quando estiver pronto, o teatro não vai revitalizar tudo à sua volta. Vai aumentar a autoestima do centro de novo."


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