São Paulo, domingo, 12 de julho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Ópera ficou elitista", afirma peruqueira

DA SUCURSAL DO RIO

Irene Orazem tinha oito anos quando entrou para a escola de balé ligada ao Teatro Municipal do Rio, em 1948. Aos 15, estava no corpo de baile da casa e girava tão encantada com o palco quanto com a plateia. "Eram muitas temporadas. As pessoas se arrumavam, e havia aquele glamour. Presidentes vinham! Era nossa época de ouro", lembra ela.
Hoje, aos 69, com um delicado lenço azul no pescoço -"Aprendi com a Ana Botafogo! Um lenço já nos deixa arrumadas"-, conta que nem presidentes nem o governador do Rio, Sérgio Cabral, vão ao teatro. "É muito difícil vê-los aqui."
Depois de três cirurgias no joelho pelo desgaste do ofício de bailarina, Irene agora é professora do corpo de baile do teatro e também coordena os figurinos do balé. Lamenta que os bailarinos, em geral, não queiram estender temporadas ou dançar clássicos.
"Hoje, tudo é muito descartável. Antigamente, você fazia um balé e dançava dez, 15 vezes. Hoje, um bailarino dança três e não quer mais", afirma.
"No mundo inteiro se dança "O Quebra-Nozes". Aqui, os bailarinos torcem o nariz: "Ai, de novo isso...". Ou: "Já vi "O Lago dos Cisnes" na internet. Tá bom"." Foi com "O Lago" que Irene fez sua última aparição como bailarina, em 2002.
A peruqueira Divina Luz Surez, 60, diz que é na ópera que o Municipal mais se distancia do público. "A ópera ficou elitista, e algumas são pesadas, em alemão, longas. Após a reforma, precisamos pensar em devolver a ópera ao povo."
Argentina naturalizada brasileira, Divina é a única que restou da turma do teatro Colón, de Buenos Aires, que veio em 1978 ao Rio para trabalhar na reabertura do teatro. Fez cem perucas em um mês para "La Traviata", dirigida por Franco Zeffirelli, em 1979.
"A reabertura foi majestosa", conta. "Não havia crise, havia mais dinheiro, e os artistas de primeiro time eram mais dispostos. Precisamos voltar a mostrar que o teatro lírico pode ser popular", avalia. (AF)


Texto Anterior: Programação: Celebração dos cem anos será diante do teatro
Próximo Texto: País tem 11,5% de crianças analfabetas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.