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"Ópera ficou elitista", afirma peruqueira
DA SUCURSAL DO RIO
Irene Orazem tinha oito
anos quando entrou para a
escola de balé ligada ao
Teatro Municipal do Rio,
em 1948. Aos 15, estava no
corpo de baile da casa e girava tão encantada com o
palco quanto com a plateia. "Eram muitas temporadas. As pessoas se arrumavam, e havia aquele glamour. Presidentes vinham! Era nossa época de
ouro", lembra ela.
Hoje, aos 69, com um
delicado lenço azul no pescoço -"Aprendi com a
Ana Botafogo! Um lenço já
nos deixa arrumadas"-,
conta que nem presidentes nem o governador do
Rio, Sérgio Cabral, vão ao
teatro. "É muito difícil vê-los aqui."
Depois de três cirurgias
no joelho pelo desgaste do
ofício de bailarina, Irene
agora é professora do corpo de baile do teatro e
também coordena os figurinos do balé. Lamenta
que os bailarinos, em geral, não queiram estender
temporadas ou dançar
clássicos.
"Hoje, tudo é muito descartável. Antigamente, você fazia um balé e dançava
dez, 15 vezes. Hoje, um
bailarino dança três e não
quer mais", afirma.
"No mundo inteiro se
dança "O Quebra-Nozes".
Aqui, os bailarinos torcem
o nariz: "Ai, de novo isso...".
Ou: "Já vi "O Lago dos Cisnes" na internet. Tá bom"."
Foi com "O Lago" que Irene fez sua última aparição
como bailarina, em 2002.
A peruqueira Divina Luz
Surez, 60, diz que é na ópera que o Municipal mais se
distancia do público. "A
ópera ficou elitista, e algumas são pesadas, em alemão, longas. Após a reforma, precisamos pensar em
devolver a ópera ao povo."
Argentina naturalizada
brasileira, Divina é a única
que restou da turma do
teatro Colón, de Buenos
Aires, que veio em 1978 ao
Rio para trabalhar na reabertura do teatro. Fez cem
perucas em um mês para
"La Traviata", dirigida por
Franco Zeffirelli, em 1979.
"A reabertura foi majestosa", conta. "Não havia
crise, havia mais dinheiro,
e os artistas de primeiro time eram mais dispostos.
Precisamos voltar a mostrar que o teatro lírico pode ser popular", avalia.
(AF)
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