São Paulo, sábado, 12 de agosto de 2000


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FRANCO DA ROCHA
Corpo de adolescente foi queimado no teto da unidade; outros cinco internos e 11 monitores ficaram feridos
Menor é morto em rebelião na Febem

ANTÔNIO GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

O interno V.L., 17, foi assassinado durante uma rebelião na unidade da Febem em Franco da Rocha (Grande São Paulo), que começou na noite de anteontem e só terminou às 17h de ontem, após a intervenção de 70 policiais da tropa de choque.
O adolescente foi morto por volta das 22h30 a golpes de estilete. Seu corpo foi levado para o teto da unidade e queimado.
Segundo a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, V.L. foi morto em um acerto de contas entre os internos. V.L. era acusado de ser autor de homicídios na zona norte.
Outros cinco internos e 11 monitores ficaram feridos. Segundo os funcionários, o estado de um dos monitores é grave.
Inaugurada em maio deste ano, a unidade de Franco da Rocha já registrou várias denúncias de maus-tratos contra os menores e pelo menos três grandes rebeliões. Na quarta-feira, o Deij (Departamento de Execuções da Infância e Juventude) deu prazo de 30 dias para que a Febem solucione as irregularidades apontadas na unidade.
A rebelião começou às 22h de quinta-feira na unidade educacional de número 31, onde estão internados 463 menores. A confusão começou na ala D e logo se espalhou para outras sete alas.
Os menores usaram como arma as barras de ferro das camas e mantiveram cerca de 15 monitores como reféns. Segundo a secretaria, os internos queriam o aumento do período de visita e a transferência de alguns monitores para outras unidades.
O secretário de Assistência e Desenvolvimento Social, Edsom Ortega, disse que os menores fizeram exigências "absurdas".
"Queriam que a gente facilitasse a entrada de drogas na unidade, por exemplo", disse Ortega.
Marcelo Oliveira, 28, foi um dos primeiros monitores a serem detidos pelos menores. "Não dava para controlar. Eu fiquei por duas horas em um colchão em que estava escrita a palavra "refém", junto de uma das janelas", afirmou.
Após duas horas, Oliveira foi levado para o teto da unidade, no mesmo momento em que o corpo de V.L. era queimado.
Oliveira foi jogado e caiu de uma altura de oito metros, mas apenas torceu o tornozelo e teve luxações no joelho.
Segundo os monitores, os motins começaram no sábado no horário da visita e continuaram no domingo, mas a situação havia sido controlada pelos funcionários.
Na segunda-feira, o dia foi calmo, mas na terça, às 12h, um funcionário foi espancado na unidade 30 e teve traumatismo craniano. Na quarta-feira, a situação voltou a ficar tensa com uma nova rebelião na unidade 31. Os menores colocaram fogo em colchões e lençóis. No mesmo dia, houve uma tentativa de fuga na unidade 30, vizinha à 31, e um protesto de funcionários, que pediam mais segurança e novas contratações.

Bombas
Ontem, a tropa de choque teve de lançar bombas de efeito moral para obrigar os menores a voltar para as celas. Eles ameaçaram jogar objetos nos policiais, mas, segundo o comandante da tropa, Reinado Pinheiro, não houve mais resistência.
Procuradores da República e promotores da Infância e da Juventude acompanharam a ação da tropa de choque.
Até a conclusão desta edição, eles não haviam saído do prédio. Do lado de fora da unidade, as mães que aguardavam informações sobre os filhos se desesperaram quando ouviram o barulho das bombas.
Ortega confirmou apenas uma morte, apesar de alguns monitores terem dito que dois menores haviam sido assassinados.
No final da tarde de ontem, a tropa de choque estava transferindo alguns menores para a unidade 30, que estava subocupada, com apenas 80 menores.


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