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POLÍCIA FORA DA LEI
Furukawa, da Secretaria da Administração Penitenciária, nega ter negociado com facção criminosa
Juiz diz ter prova de acordo secretário-PCC
DA REPORTAGEM LOCAL
O juiz Octávio Augusto Machado de Barros Filho disse na última
quarta-feira, na Assembléia Legislativa de São Paulo, ter documentos para provar que o secretário de Estado da Administração
Penitenciária, Nagashi Furukawa,
fez acordo com o PCC (Primeiro
Comando da Capital) em 2000.
Nesse dia, Barros Filho acabara
de ser afastado temporariamente
do cargo de juiz-corregedor dos
presídios do Estado para que seja
investigada a sua atuação no caso,
revelado pela Folha, de uso de
presos em ações da Polícia Militar
para combater o PCC.
A organização criminosa teria
encarado a transferência de seus
líderes, em 16 de fevereiro de 2001,
da Casa de Detenção do Carandiru, em São Paulo, para a Casa de
Custódia de Taubaté como rompimento do acordo e por isso teria
promovido a megarrebelião dois
dias depois, quando 24 presídios e
cinco carceragens de delegacias
foram tomados pelos presos.
A declaração de Barros Filho
corrobora a versão divulgada,
desde o ano passado, por líderes
do PCC sobre conversações mantidas com o secretário.
Furukawa nega qualquer acordo. Disse ter se reunido, na Casa
de Detenção, com 50 presos em
dezembro de 2000 para ouvir suas
reivindicações. "Mandei trazer as
lideranças dos pavilhões, nunca
perguntei o partido de ninguém",
disse o secretário. A Folha apurou
que Idemir Carlos Ambrósio, o
Sombra, um dos fundadores do
PCC já morto, estava presente.
Cerca de 60 pessoas -entre juízes, advogados e professores-
estavam no plenário Teotônio Vilela, na Assembléia Legislativa, na
noite do último dia 7, quando
Barros Filho fez a declaração.
Procurado pela Folha, o juiz
disse que a Lei Orgânica da Magistratura o proíbe de falar, já que
é investigado pelo Tribunal de
Justiça por ter autorizado o Gradi
(Grupo de Repressão e Análise
dos Delitos de Intolerância) da
PM a retirar presos das cadeias
para infiltrá-los em quadrilhas.
Três pessoas que estavam no
evento confirmaram que o juiz
disse ter cópia de petição dos presidiários para a Administração
Penitenciária exigindo que o
cumprimento do acordo de 2000.
"Se ele diz ter documentos, já
deveria ter apresentado", afirmou
Furukawa, que nega ter recebido
qualquer petição sobre o assunto.
Segundo Roberto da Silva, professor da Faculdade de Educação
da USP, que estava no plenário,
Barros Filho fez duras críticas a
Furukawa. Silva é membro do
Conselho de Cidadania da Casa
de Detenção, órgão criado há dois
anos pelo secretário.
Um advogado, que pediu para
não ser identificado, relatou que,
de acordo com a avaliação do juiz,
os líderes do PCC começaram a se
sentir mais importantes quando
Furukawa passou a escutá-los.
A reunião foi organizada pelo
próprio Barros Filho, que pretendia criar o Conselho da Comunidade. O órgão, fiscalizador da situação em presídios, é formado
por representantes da associação
comercial ou da industrial, da Ordem dos Advogados (OAB) e da
Delegacia Seccional do Conselho
de Assistentes Sociais.
Mesmo tendo sido estabelecido
pela Lei de Execuções Penais, de
1984, o conselho nunca havia sido
efetivado em São Paulo.
Dúvida
A criação do órgão está sendo
questionada. Barros Filho a promoveu quando seu afastamento
do cargo de corregedor já havia sido comunicado. Mesmo assim, a
portaria foi assinada.
O Conselho da Comunidade é
um órgão que representa a sociedade civil na fiscalização de presídios e só pode ser criado pelo juiz-corregedor de presídios.
Para o procurador Carlos
Weiss, o juiz-corregedor interino
-ainda não anunciado-, é
quem vai decidir se a iniciativa de
Barros Filho foi legítima.
Para o advogado Omar Cassim,
ex-coordenador dos estabelecimentos penitenciários de São
Paulo, o conselho já está implantado, pois Barros Filho foi afastado do cargo oficialmente após o fim da reunião.
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