|
Próximo Texto | Índice
Lula e Lembo fazem acordo, sem tropas
Para evitar desgaste eleitoral, eles afinam discurso e fazem pacto de cooperação com foco no trabalho de inteligência
Reunião reservada, que aconteceu em São Paulo, ocorre após semana de intenso bate-boca entre aliados dos dois governos
FABIO SCHIVARTCHE
MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O temor de que a disputa política provoque desgastes eleitorais para governo e oposição
e agrave a crise de segurança
pública em São Paulo levou o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) e o governador Cláudio Lembo (PFL) a afinarem o
discurso após uma semana de
intenso bate-boca entre seus
auxiliares e aliados.
Ontem, em reunião reservada de 40 minutos no aeroporto
de Congonhas, com a presença
de ministros e comandantes
das Forças Armadas, acertaram
um pacto de cooperação do
Exército com a polícia paulista
com foco no trabalho de inteligência, sobretudo com utilização de satélites para a localização de células do PCC e interceptações telefônicas.
Os termos do acordo, que devem ser anunciados até quarta-feira, incluem também o envio
de equipamentos federais para
São Paulo, como helicópteros
-além da possibilidade de nova
remessa de recursos da União.
O envio de tropas às ruas, o
ponto mais polêmico da cooperação, foi descartado por enquanto pelo próprio presidente. Para Lula, só haverá uso das
tropas em caso de necessidade.
"À medida em que houver
necessidade, o Exército brasileiro tem 10 mil homens para
ajudar a Polícia Militar e o governo de São Paulo, sobretudo
a sociedade paulista, que não
merece passar pelo que está
passando", disse Lula. Hoje faz
três meses que o PCC iniciou a
primeira onda de ataques.
Lula deu as declarações após
passar revista às tropas no 2º
Grupo de Artilharia de Campanha Leve do Exército, em Barueri (Grande São Paulo). "A
necessidade [de tropas] não é
determinada por um ataque,
mas pela logística dos comandos", esclareceu o presidente.
O ministro da Defesa, Waldir
Pires, que dias atrás se dizia
"perplexo" com a recusa de São
Paulo ao envio das tropas, afirmou ontem que o apoio do
Exército se dará basicamente
em ações de inteligência, como
queria Lembo. "A preparação
não é para choque na rua. É de
inteligência, de localização dos
centros de conspiração."
Ontem, Lembo disse que o
Exército e a PM já estão integrados "Essa ajuda já existe.
Por que vocês querem tropa na
rua?", perguntou a jornalistas.
Em seguida, em tom de mistério, confirmou o acordo com
a União: "Vocês assistirão na
próxima semana maior integração, mais passos da integração efetiva". Num rápido discurso aos soldados, Lembo deu
outros sinais de que foi selada a
trégua. Disse que a PM é uma
força auxiliar do Exército e que
ambos estão sempre integrados. "Exército, Polícia Militar,
Brasil, é uma só coisa."
Dirigindo-se a Lula, afirmou:
"Pelo bem de São Paulo e certamente do Brasil estaremos
sempre integrados. Nada nos
dividirá nesta luta, por vezes
inglória, contra o mal".
Lula confirmou a preocupação com o impacto negativo da
briga política: "As pessoas estão
percebendo que a gravidade
exige que sejamos companheiros, parceiros, para encontrar
uma solução". Embora o governo federal, por meio do ministro Márcio Thomaz Bastos
(Justiça), tenha oferecido publicamente o envio de tropas,
Lula nunca teve interesse em
implementá-la. Temia as conseqüências, que julga imprevisíveis, de uma ação militar em
São Paulo em plena campanha.
A Folha revelou ontem que
as Forças Armadas também
são contrárias ao envio das tropas, admitindo a possibilidade
só no caso de atentado contra
autoridades ou militares.
No encontro, Lula estava
acompanhado também do ministros Thomaz Bastos. Saulo
de Abreu Filho, secretário da
Segurança Pública que bateu
boca nesta semana com Thomaz Bastos, não foi.
Próximo Texto: Suspeita de ação conjunta entre CV e PCC coloca Rio de Janeiro em atenção Índice
|