São Paulo, sábado, 12 de agosto de 2006

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Lula e Lembo fazem acordo, sem tropas

Para evitar desgaste eleitoral, eles afinam discurso e fazem pacto de cooperação com foco no trabalho de inteligência

Reunião reservada, que aconteceu em São Paulo, ocorre após semana de intenso bate-boca entre aliados dos dois governos


FABIO SCHIVARTCHE
MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O temor de que a disputa política provoque desgastes eleitorais para governo e oposição e agrave a crise de segurança pública em São Paulo levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador Cláudio Lembo (PFL) a afinarem o discurso após uma semana de intenso bate-boca entre seus auxiliares e aliados.
Ontem, em reunião reservada de 40 minutos no aeroporto de Congonhas, com a presença de ministros e comandantes das Forças Armadas, acertaram um pacto de cooperação do Exército com a polícia paulista com foco no trabalho de inteligência, sobretudo com utilização de satélites para a localização de células do PCC e interceptações telefônicas.
Os termos do acordo, que devem ser anunciados até quarta-feira, incluem também o envio de equipamentos federais para São Paulo, como helicópteros -além da possibilidade de nova remessa de recursos da União.
O envio de tropas às ruas, o ponto mais polêmico da cooperação, foi descartado por enquanto pelo próprio presidente. Para Lula, só haverá uso das tropas em caso de necessidade.
"À medida em que houver necessidade, o Exército brasileiro tem 10 mil homens para ajudar a Polícia Militar e o governo de São Paulo, sobretudo a sociedade paulista, que não merece passar pelo que está passando", disse Lula. Hoje faz três meses que o PCC iniciou a primeira onda de ataques.
Lula deu as declarações após passar revista às tropas no 2º Grupo de Artilharia de Campanha Leve do Exército, em Barueri (Grande São Paulo). "A necessidade [de tropas] não é determinada por um ataque, mas pela logística dos comandos", esclareceu o presidente.
O ministro da Defesa, Waldir Pires, que dias atrás se dizia "perplexo" com a recusa de São Paulo ao envio das tropas, afirmou ontem que o apoio do Exército se dará basicamente em ações de inteligência, como queria Lembo. "A preparação não é para choque na rua. É de inteligência, de localização dos centros de conspiração."
Ontem, Lembo disse que o Exército e a PM já estão integrados "Essa ajuda já existe. Por que vocês querem tropa na rua?", perguntou a jornalistas.
Em seguida, em tom de mistério, confirmou o acordo com a União: "Vocês assistirão na próxima semana maior integração, mais passos da integração efetiva". Num rápido discurso aos soldados, Lembo deu outros sinais de que foi selada a trégua. Disse que a PM é uma força auxiliar do Exército e que ambos estão sempre integrados. "Exército, Polícia Militar, Brasil, é uma só coisa."
Dirigindo-se a Lula, afirmou: "Pelo bem de São Paulo e certamente do Brasil estaremos sempre integrados. Nada nos dividirá nesta luta, por vezes inglória, contra o mal".
Lula confirmou a preocupação com o impacto negativo da briga política: "As pessoas estão percebendo que a gravidade exige que sejamos companheiros, parceiros, para encontrar uma solução". Embora o governo federal, por meio do ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), tenha oferecido publicamente o envio de tropas, Lula nunca teve interesse em implementá-la. Temia as conseqüências, que julga imprevisíveis, de uma ação militar em São Paulo em plena campanha.
A Folha revelou ontem que as Forças Armadas também são contrárias ao envio das tropas, admitindo a possibilidade só no caso de atentado contra autoridades ou militares.
No encontro, Lula estava acompanhado também do ministros Thomaz Bastos. Saulo de Abreu Filho, secretário da Segurança Pública que bateu boca nesta semana com Thomaz Bastos, não foi.


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