São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2007

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Solteiro adota para realizar sonho de ser pai

Levantamento do Tribunal de Justiça de SP mostra que dez homens que vivem sozinhos fizeram essa opção em 2005

Segundo juiz, homens solteiros precisam explicar de que forma conciliarão o trabalho e a organização da casa com uma criança

Eduardo Batista - 10.ago.07/Folha Imagem
O professor José Heleno Ferreira, 42, pensava em adotar um filho, mas, em 2005, acabou adotando três, Letícia, Lucas e Túlio


DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Christian Heinlik, 34, tem um filho de oito anos, mas este será seu primeiro Dia dos Pais. Solteiro, ele é pai há apenas dois meses, quando conseguiu adotar Pedro Vinicius. Desde então, conta, realizou seu maior sonho: a paternidade. "No domingo [hoje], já programamos um café da manhã especial. Será um dia importante para nós dois."
Assim como Christian, alguns homens solteiros que passam dos 30 anos e querem ser pais resolveram procurar a adoção. Os motivos variam: alguns não encontraram a mulher certa, outros têm algum problema de fertilidade. Ao iniciar o processo no Judiciário eles têm de estar preparados para os olhares curiosos e para responder à pergunta: "Você quer mesmo ser pai sozinho?"
O primeiro levantamento feito pelo Tribunal de Justiça de São Paulo mostra que nove homens solteiros e um separado adotaram crianças em 2005 (entre as mulheres, foram 109 e 40, respectivamente). Os dados foram concluídos no fim do ano passado e o segundo levantamento, com as adoções de 2006, ainda não está concluído.
No Rio de Janeiro, há alguns dados preliminares deste ano: três homens solteiros, todos estrangeiros, adotaram crianças brasileiras até agora, segundo o Tribunal de Justiça do Estado. As estatísticas sobre adoção no Brasil são praticamente inexistentes. O Ministério da Justiça não tem dados nacionais. Nem mesmo sabe dizer quantas crianças brasileiras foram adotadas no ano passado.
A procura de homens que vivem sozinhos pela adoção, porém, vem crescendo, diz o juiz-assessor da corregedoria do tribunal de São Paulo, Reinaldo Cintra. "Há uma tendência de aumento de procura por parte dos solteiros." Apesar de não haver uma estatística sobre a opção sexual dos que adotam, quando se trata de homossexuais, a maioria está em casal.
O processo pelo qual passam os homens solteiros é o mesmo das mulheres e dos casais, apesar de o cuidado ser maior até para que se evite problemas mais graves, como a pedofilia. "Nos preocupamos muito com os motivos que levam aquele homem a querer a adoção. Se for por querer companhia, por exemplo, não autorizamos. Tem de querer criar, educar."
Era isso o que Fábio Paranhos, 43, mais desejava: poder formar um "cidadão do bem", diz. Há oito anos ele adotou Sofia, hoje com 11. "Sempre quis ter uma família grande, mas não encontrei uma mulher para casar. Eu desejava educar, formar, ensinar uma criança e, depois, ter netos, bisnetos..."
Em uma época em que a adoção por homens solteiros era ainda mais rara do que hoje, ele deu entrada no processo. "Nas entrevistas, eu estava seguro. O mais complicado era explicar como ia me organizar sozinho."
O solteiro, diz o juiz, precisa mostrar de que forma vai conciliar o trabalho e a organização da casa com uma criança. "E a gente também avalia o histórico da pessoa e seus planos. Sendo solteiro, nada o impede de casar, por exemplo. E a criança precisa fazer parte dos planos."
O professor universitário José Heleno Ferreira, 42, não desistiu de encontrar uma companheira, mas diz achar que agora será mais difícil. Em novembro de 2005, ele adotou três crianças. "As mulheres se assustam, claro." Quando começou o processo, ele queria adotar um menino de até dois anos. Acabou com três filhos: Letícia, 8, Lucas, 6, e Túlio, 5.
Entre os solteiros, a procura por bebês é mais rara do que entre casais, diz Cintra. "Um solteiro executa tudo sozinho e é difícil lidar com recém-nascido", afirma. "Na nossa sociedade, muitos ainda associam a criação de filhos ao papel feminino e alguns dos homens que adotam sozinhos enfrentam a desconfiança. Mas, assim como há o instinto da maternidade, também há o de paternidade."


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