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Omar, 45, virou o "pai-filho"
DA REVISTA DA FOLHA
"Sou o único filho, caçula de
uma família de três irmãs. No
dia do casamento da última solteira, em 1982, olhei bem para o
meu pai e percebi que, cedo ou
tarde, eu iria cuidar dele.
Depois que ficou viúvo,
quando eu tinha apenas 11 meses, meu pai nunca conviveu
com outras mulheres. Teve lá
suas namoradas, claro, mas a
gente nem sabia quem eram.
Lembro-me bem de outra
paixão dele, o cinema. Tinha oito anos quando ele me levou,
pela primeira vez, ao antigo Cine Marrocos, no centro, para
um festival de desenhos. Fomos assistir a "Tom & Jerry".
Talvez a paixão estivesse relacionada com a profissão. Ele
era dono de uma empresa de
comunicação visual que trabalhava com propaganda nas salas de cinema. Acabei seguindo
seus passos, trabalhei com ele
quando moleque e, hoje, continuo tocando a firma.
No dia 3 de dezembro de
2006, estávamos em casa assistindo ao jogo do nosso time, o
Corinthians, contra o Juventude. Resultado: 5 a 3 para o Timão. A partida acabou tarde.
Insisti para que ele ficasse em
casa. De manhã, papai acordou
com dificuldade para respirar.
Ele me chamou num canto, pediu desculpas para todos nós,
como se se despedisse da vida.
Corremos para o pronto-socorro. Papai sofreu uma crise
respiratória. Saiu de lá andando
e animado. Eu, minha mulher e
meus dois filhos ganhamos
mais um morador.
Hoje, é dia de comemoração.
Vou sair da cama cedo, fazer o
café, aplicar sua injeção diária
de insulina e ler as principais
notícias. E, o mais gostoso, preparar a macarronada e o frango
assado, que ele tanto adora."
Omar Antonio de Alcântara Filho, 45, administrador de empresas, é filho de Omar, 82
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