São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2007

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No Rio, deficientes visuais filmam curta-metragem sobre dificuldades vividas

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Como pode ser um filme feito por deficientes visuais? A resposta está no título: "A Vida Não se Resume a Olhares". O curta-metragem (11 minutos) será exibido hoje, às 18h, no Assim Vivemos, festival internacional de filmes sobre deficiências em cartaz até dia 19 no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio.
Foi após acompanharem uma sessão da mostra, há dois anos, que oito alunos do Instituto Benjamin Constant, estimulados pela professora de artes Marlíria Flávia, resolveram escrever um roteiro sobre as dificuldades e os preconceitos que enfrentam.
"Um escolheu fazer uma cena sobre a dificuldade de se entrar com cão-guia em museus. Outro sobre marcar encontros pela internet e a pessoa ficar decepcionada porque não sabia que tinha falado com um deficiente. Eu juntei as cenas, digitei o roteiro, e era para ter ficado por aí", conta Marlíria, 41.
Mas a estudante de pedagogia Alice Coutinho, 25, então estagiando no instituto, perguntou: "por que não filmar?". Com câmera digital emprestada, "cachorro emprestado" e salas do Benjamin Constant e ruas da Urca (zona sul) como locações, Alice assumiu o papel de diretora, cabendo todas as outras funções aos alunos.
"Como não havia roteiro em braile, usamos muita improvisação", conta Alice. "O importante é que eles falassem do seu jeito, sem parecer decorado", explica Marlíria.
Jessica Vieira da Costa, 15, é tão tímida que contou com o auxílio da amiga Renata Salles, 17, para dizer à Folha que ficou impressionada ao ouvir sua própria voz no filme.
Já Renata se animou com experiência e gostaria de fazer trabalhos em cinema, TV ou teatro.
"Tentamos mostrar que o deficiente visual é capaz como qualquer outra pessoa, que também somos cidadãos", diz Luiz Otávio Paixão, 17, colega de set de Mário Victor, 16, Carlos Antônio da Silva, 15, Pedro Alves, 14, e Luan Mendonça, 14.
Para fazer outros filmes, os alunos dependem de um convênio que lhes possibilite uma câmera e alguém para operá-la. Para acompanhar filmes em salas de cinema, dependem do sistema de áudio-descrição, já usado no CCBB do Rio, mas distante do circuito comercial.
O programa do festival (www.assimvivemos.com.br) também tem produções sobre surdez, autismo, lesão cerebral e outras deficiências.


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