São Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2010

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MEC entrega a adolescentes livro que narra estupro

Foram destinados 11 mil exemplares para bibliotecas de colégios públicos

Para psicopedagoga, obra traz grande carga de violência; professor diz que, com orientação, não há problema

FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO

O Ministério da Educação enviou a escolas públicas do país um livro que narra o sequestro de um casal, o estupro da mulher e o assassinato do rapaz. Onze mil exemplares da obra foram destinados para serem usados como material de apoio a alunos do ensino médio, com idade a partir de 15 anos.
O livro, "Teresa, que Esperava as Uvas", integra o programa do governo federal que equipa bibliotecas dos colégios públicos.
As cenas de violência estão presentes no conto "Os Primeiros que Chegaram", que narra, do ponto de vista da criminosa, um sequestro cometido por um casal.
As vítimas são torturadas. Há frases como "arriou as calças dela, levantou a blusa e comeu ela duas vezes" e "[Zonha, o criminoso] deu um tiro no olho dele. [...] Ele ficou lá meio pendurado, com um furo na cabeça."
Educadores consultados pela reportagem divergiram sobre a escolha. Para a psicopedagoga Maria Irene Maluf, "o conto é inapropriado, pela grande carga de violência e erotização. Retrata uma situação diferente aos valores que queremos e precisamos passar aos nossos jovens".
Já Juvenal Zanchetta Jr., professor do departamento de Educação da Unesp-Assis, discorda. "É um texto pesado. Mas o jovem vê todo dia coisas parecidas na mídia. O caso Bruno [ex-goleiro do Flamengo] é um exemplo."
Para Zanchetta, o conto pode ser uma boa oportunidade de a escola abordar a violência. "Mas, para isso, precisamos de docentes bem preparados, o que é difícil."
O governo Lula, a autora da obra e a editora defendem a escolha, por possibilitar que o jovem reflita sobre a violência cotidiana.
A escolha das obras é feita por comissões de professores de universidades públicas.
"O livro passou por uma avaliação baseada em critérios, concorreu com muitas outras obras e foi selecionado", afirmou a escritora do conto, Monique Revillion.
"Como e quando ele será utilizado independe de minha vontade e sim das pessoas e escolas que, eventualmente, o elegerem como recurso pedagógico", disse.

OUTROS CASOS
A escolha de livros para escolas públicas já foi alvo de outras polêmicas. Em 2009, a Secretaria da Educação de São Paulo recolheu obras que seriam usadas como material extraclasse para alunos de nove anos. As obras tinham palavrões.
Neste mês, o governo de São Paulo foi criticado novamente, por distribuir livro com texto do escritor Ignácio de Loyola Brandão que narra uma cena de sexo.


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