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MEC entrega a adolescentes livro que narra estupro
Foram destinados 11 mil exemplares para bibliotecas de colégios públicos
Para psicopedagoga, obra traz grande carga de violência; professor diz que, com orientação, não há problema
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
O Ministério da Educação
enviou a escolas públicas do
país um livro que narra o sequestro de um casal, o estupro da mulher e o assassinato do rapaz. Onze mil exemplares da obra foram destinados para serem usados como
material de apoio a alunos do
ensino médio, com idade a
partir de 15 anos.
O livro, "Teresa, que Esperava as Uvas", integra o programa do governo federal
que equipa bibliotecas dos
colégios públicos.
As cenas de violência estão presentes no conto "Os
Primeiros que Chegaram",
que narra, do ponto de vista
da criminosa, um sequestro
cometido por um casal.
As vítimas são torturadas.
Há frases como "arriou as
calças dela, levantou a blusa
e comeu ela duas vezes" e
"[Zonha, o criminoso] deu
um tiro no olho dele. [...] Ele
ficou lá meio pendurado,
com um furo na cabeça."
Educadores consultados
pela reportagem divergiram
sobre a escolha. Para a psicopedagoga Maria Irene Maluf,
"o conto é inapropriado, pela
grande carga de violência e
erotização. Retrata uma situação diferente aos valores
que queremos e precisamos
passar aos nossos jovens".
Já Juvenal Zanchetta Jr.,
professor do departamento
de Educação da Unesp-Assis,
discorda. "É um texto pesado. Mas o jovem vê todo dia
coisas parecidas na mídia. O
caso Bruno [ex-goleiro do
Flamengo] é um exemplo."
Para Zanchetta, o conto
pode ser uma boa oportunidade de a escola abordar a
violência. "Mas, para isso,
precisamos de docentes bem
preparados, o que é difícil."
O governo Lula, a autora
da obra e a editora defendem
a escolha, por possibilitar
que o jovem reflita sobre a
violência cotidiana.
A escolha das obras é feita
por comissões de professores
de universidades públicas.
"O livro passou por uma
avaliação baseada em critérios, concorreu com muitas
outras obras e foi selecionado", afirmou a escritora do
conto, Monique Revillion.
"Como e quando ele será
utilizado independe de minha vontade e sim das pessoas e escolas que, eventualmente, o elegerem como recurso pedagógico", disse.
OUTROS CASOS
A escolha de livros para escolas públicas já foi alvo de
outras polêmicas. Em 2009, a
Secretaria da Educação de
São Paulo recolheu obras
que seriam usadas como material extraclasse para alunos
de nove anos. As obras tinham palavrões.
Neste mês, o governo de
São Paulo foi criticado novamente, por distribuir livro
com texto do escritor Ignácio
de Loyola Brandão que narra
uma cena de sexo.
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