|
Próximo Texto | Índice
Crime passional é a tese do caso Ubiratan
Para polícia, depoimento e perícia reforçam a suspeita de que o coronel do caso Carandiru foi morto por alguém próximo
Namorada irá depor hoje à polícia; em conversa informal, ontem, ela admitiu ter discutido com o coronel na noite de sábado
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Civil investiga as últimas relações amorosas do deputado estadual e coronel da
reserva da PM Ubiratan Guimarães (PTB), 63, encontrado
morto anteontem, em seu
apartamento, nos Jardins (zona oeste de SP). A suspeita é de
que o crime tenha sido passional. O governador Cláudio
Lembo (PFL) descartou participação do crime organizado.
Comandante da PM na ação
conhecida como massacre do
Carandiru, em 1992, que resultou na morte de 111 presos, Ubiratan recebeu um tiro no abdômen. Foi encontrado caído na
sala, apenas com uma toalha
enrolada na cintura. Ele apresentava vestígio de sêmen. A
polícia acredita que ele foi morto no sábado. Viúvo e pai de três
filhos, ele foi enterrado ontem.
A namorada do coronel, a advogada e administradora Carla
Cepollina, 40, deve depor hoje
no DHPP (Departamento de
Homicídios e Proteção à Pessoa). Três funcionários e um
morador do prédio onde Ubiratan vivia afirmaram à polícia
que ela foi a única pessoa a visitá-lo no final de semana. Ela
permaneceu no edifício entre
as 19h e as 21h de sábado.
A professora de música Odete Adoglio dos Santos, que mora no apartamento vizinho ao
de Ubiratan, foi a única no prédio a ouvir o estampido do tiro,
que, segundo ela, teria ocorrido
por volta das 19h de sábado.
Ela disse que, na hora, pensou se tratar de um vidro quebrado ou de um jornal sendo jogado no chão. "Só quando me
avisaram da morte dele é que
associei as coisas", disse.
Ontem, em uma conversa informal com policiais do DHPP,
Carla negou a autoria do crime,
mas admitiu ter discutido com
o coronel no último sábado. A
discussão teria ocorrido no
apartamento de Ubiratan, depois de ele ter recebido o telefonema de outra mulher.
A mãe de Carla, a também
advogada Liliana Prinzivalli,
descreveu ontem à Folha um
episódio diferente. Segundo
ela, o coronel discutiu, por telefone, com uma ex-namorada.
"Ele tinha bebido um pouco
mais e queria descansar, mas
recebeu ligações que o deixaram irritado."
Segundo Liliana, a ex-namorada de Ubiratan ligou no celular. "Ele ficou bravo, falou que
não queria falar daquele assunto e desligou." Em seguida, teria ido se deitar. "Carla saiu do
apartamento, antes das 21h, e o
trancou com sua chave."
Ela acabou entregando a
chave a dois assessores de Ubiratan, na noite de domingo,
que estavam preocupados com
a ausência dele durante todo o
dia. Carla, porém, não os acompanhou até o prédio.
A polícia pretende pedir a
quebra do sigilo telefônico do
coronel para verificar as ligações recebidas por ele no sábado. Também deve solicitar
acesso a e-mails do deputado.
Carla se comprometeu a levar
ao DHPP a roupa que vestia no
sábado para ser periciada.
Crime pessoal
Ontem pela manhã, o governador Cláudio Lembo descartou a possibilidade de o coronel
ter sido alvo de vingança do crime organizado. "A polícia científica fez a perícia, e temos clareza de que foi um crime pessoal. Tem zero a ver com o PCC
e com o crime organizado."
São os detalhes do cenário do
crime que reforçam a suspeita
de motivação passional. Nada
foi roubado, e não havia sinais
de luta. A porta da área de serviço, porém, estava aberta, segundo os assessores que descobriram o corpo.
"Foi alguém do relacionamento íntimo dele. Alguém que
entrou com a livre e espontânea vontade do coronel", afirmou o deputado federal e também advogado Vicente Cascione (PTB-SP), que defendeu
Ubiratan no julgamento do
massacre do Carandiru.
O coronel foi condenado a
632 anos por um júri popular.
Em fevereiro, o Tribunal de
Justiça o absolveu. "Não tem
lógica [a relação com a absolvição]. Passaram mais de sete
meses. Não há possibilidade de
ter sido o PCC", disse Cascione.
Para a polícia, o único disparo, que atingiu o abdômen do
coronel, é um sinal de que o assassino não era profissional. "A
lesão [em Ubiratan] não é característica de execução. O crime passional está dentro do leque de investigação", afirmou o
delegado-geral da Polícia Civil,
Marco Antonio Desgualdo.
O tiro que o atingiu não foi à
queima-roupa -de uma distância de pouco mais de um
metro. Ele estava sentado e foi
atingido ao se levantar, diz o
delegado Armando de Oliveira
Costa Filho, do DHPP. O tiro
saiu pelas costas e foi encontrado alojado no sofá da sala.
(ANDRÉ CARAMANTE, DANIELA TÓFOLI, KLEBER TOMAZ, GILMAR PENTEADO E RICARDO GALLO)
Próximo Texto: Coronel usava carro blindado e guardava sete armas em casa Índice
|