São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 2008 |
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BARBARA GANCIA Galinhas chocas
O BAIXO ASTRAL da Olimpíada de Pequim 2008 parece que chegou de caminhão da Granero, fincou alicerces e não quer mais ir embora. Não sei se é só impressão minha, mas, desta vez, um grande evento como a Olimpíada não serviu para distrair a atenção dos problemas reais. À exceção de César Cielo, Maurren Maggi e das meninas do Zé Roberto do vôlei, a atuação do Brasil foi o retrato do nosso fracasso em outras áreas. Antes mesmo da festa de abertura no Ninho de Pássaro, o telespectador tapuia já conseguia pressentir que nosso projeto olímpico tinha algo de arrogante, de embusteiro e de corrupto. Em um país em que o esporte deixou de ser praticado nas escolas públicas, quem poderia ousar sonhar com medalhas de ouro no atletismo ou na natação, não é mesmo? Deu no que deu e as únicas medalhas que vieram para salvar a pátria foram fruto do esforço pessoal e não do sucesso de um projeto político de longo prazo para o esporte. Na quarta, a seleção brasileira de futebol jogou no Estádio Olímpico João Havelange (outro equívoco que o contribuinte engoliu com água e açúcar) e, desta vez, o baixo astral que veio de mala e cuia durante as Olimpíadas resolveu fincar o pé. Para um estádio vazio, a seleção brasileira apresentou o seu não-futebol em uma das piores exibições de todos os tempos. Ainda assim, por obra do cinismo de dirigentes que perderam completamente o pudor, depois da partida anunciaram oficialmente que o público presente ao Engenhão (custo de R$ 380 milhões aos cofres públicos) tinha sido de 31 mil pagantes. Como assim? A capacidade do estádio não é de 45 mil torcedores? Será possível que eles acham que a gente é completamente tapada? Mas quem ainda se empolga com o futebol canarinho? Quem ainda considera esses jogadores balofos e indisciplinados como heróis ou como exemplo de alguma coisa? A continuar nessa toada, a galinha dos ovos de ouro da CBF vai acabar tendo de mudar de CIC e RG. Já são tantas as exibições a nos matar de vergonha que eu duvido que, na hora de renovar o contrato de patrocínio, a dona Nike, a dona Vivo ou a dona Ambev não digam: "Êpa, peraí. Antes a galinha era de ouro, mas, como agora a bichinha está choca e virou de estanho, o preço é outro, viu, seu Ricardo?" De quatro em quatro anos, a Copa ou os Jogos Olímpicos acabam coincidindo com as eleições. Pois, desta vez, o desânimo que desembarcou de Pequim é tamanho que invadiu o terreno da política. Você, meu nobre leitor, por acaso viu alguém discutir empolgado em mesa de bar a eleição de outubro próximo? Nem eu. Aliás, ultimamente ando tendo a impressão de que os poucos carros com adesivos de candidatos que vejo circulando pela cidade pertençam a parentes próximos de quem está concorrendo. Não me lembro de nenhuma eleição tão frígida como esta. Depois de 23 anos participando dessa palhaçada de escolher candidato a partir do circo de horrores que desfila na propaganda eleitoral da TV e do rádio, o pessoal cansou. Deixar-se empolgar por um processo eleitoral capenga como o nosso é a mesma coisa que ficar sentado na frente da TV torcendo pela seleção brasileira. barbara@uol.com.br www.barbaragancia.com.br Texto Anterior: Radiação solar supera a média do inverno Próximo Texto: Qualidade das praias: Em Santos, praias de Aparecida e Gonzaga devem ser evitadas Índice |
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