São Paulo, sábado, 12 de outubro de 2002

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VIOLÊNCIA

Amaro Carlos da Silva passou cinco dias em um poço, em Piracaia (SP); acusado diz que assédio à sua mulher motivou crime

Homem sobrevive a tortura e soterramento

Marcos Peron/Folha Imagem
O ajudante-geral Amaro Carlos da Silva, que foi espancado, torturado e passou cinco dias em um poço


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O ajudante-geral Amaro Carlos da Silva, 39, foi espancado, torturado, levou uma machadada na cabeça, passou cinco dias soterrado em um poço e sobreviveu. O motivo do crime: uma acusação de assédio sexual.
O caso ocorreu no dia 2 de outubro, no bairro do Pião, na zona rural de Piracaia (a 80 km de São Paulo). Amaro Silva está internado há seis dias e passa bem.
O município tem 23.347 habitantes, segundo o último censo do IBGE.
O ajudante relatou que levou pauladas na cabeça, foi enforcado, tomou choques no pulso e uma machadada na cabeça. A sessão de tortura teria durado cerca de meia hora.
Depois, ele conta que foi jogado em um poço de mais de dois metros de profundidade e coberto por entulhos e terra. Só cinco dias depois ele conseguiu escapar, escalando a parede do poço.
"Pensava em Deus e pedia para santo Antonio da Cachoeira me salvar. Pedia para me transformar numa lagartixa para sair de lá", afirmou Amaro.
O lavrador Pedro Carlos da Silva Filho, 26, está preso na delegacia da cidade e confessou o crime, segundo a polícia. Ele foi indiciado por tentativa de homicídio qualificado e prática de tortura.
De acordo com delegado de Piracaia, José Carlos de Assis Gonçalves, 39, o motivo do crime teria sido o fato de Amaro ter assediado P.L.C, 15, que é mulher de Pedro e está grávida de seis meses.
Pedro teria visto os dois juntos, se irritado com a cena e partido com um pedaço de madeira para cima de Amaro. O crime ocorreu no sítio onde Pedro estava morando com a adolescente.
Segundo o delegado de Piracaia, a adolescente afirmou em depoimento ao Ministério Público que foi forçada por Pedro a ajudar no crime. O acusado diz que ela participou por vontade própria.
A jovem foi liberada pela polícia e vai ficar na casa da mãe enquanto as investigações sobre o caso não são concluídas.

Outro lado
Pedro Silva admitiu todas as acusações em entrevista à Folha. "Não me arrependo. Ele mexeu com minha mulher e tinha de fazer isso mesmo. Agora vou pagar pelo que fiz", afirmou.
Pedro afirmou que não sabia que a vítima não havia morrido. "Pensei que iria falar com ele só na outra vida", afirmou.
O acusado e a vítima são do município de Guarulhos (SP) e já se conheciam havia cerca de cinco anos, segundo a polícia.
Amaro estava havia uma semana no sítio, onde pediu emprego.

Saúde
Segundo o diretor da Santa Casa de Piracaia, Pietro Petri, 42, Amaro chegou consciente, mas estava desnutrido e desidratado.
"Ele [Amaro] chegou muito mal. A cabeça estava aberta pela machadada. No começo, nem acreditamos na história, mas fizemos um exame nos pulmões e descobrimos terra. Aí passamos a acreditar", afirmou Petri.
Para o médico José Eduardo Cristofoletti de Freitas, 50, que também acompanha o caso, o fato de ser jovem e saudável contribuiu para a sobrevivência de Amaro. Outro fator foi que o soterramento não impediu a entrada de ar no poço.


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