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Caminhoneiro diz que não conseguiu frear
Polícia contesta versão do motorista que matou 20 pessoas em SC; maioria ajudava no resgate de vítimas de outro acidente
Caminhão esteve em oficina, com problemas no freio, no dia anterior ao acidente; transportadora afirma que manutenção estava em dia
SIMONE IGLESIAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MARAVILHA
O motorista Rosinei Ferrari,
28, que dirigia o caminhão que
atropelou e matou 20 pessoas
em Descanso (SC) na terça,
afirmou ontem, por meio de
uma advogada, que foi obrigado
a entrar na contramão e furar
um bloqueio policial porque
perdeu o controle do veículo.
Segundo a defesa, ele disse
que dirigia em baixa velocidade
quando percebeu o congestionamento formado na BR-282,
por causa de um outro acidente
com sete mortos que ocorrera
menos de duas horas antes.
A maior parte dos mortos
trabalhava no resgate do primeiro acidente -cinco eram
bombeiros, um era PM e três
eram jornalistas. Ao menos 90
pessoas ficaram feridas.
O acidente ocorreu um dia
após o caminhão entrar na oficina por problemas no freio.
Lourival Silva Junior, gerente
da transportadora Turatto e
Turatto, onde o caminhoneiro
trabalha, afirmou que a manutenção do veículo estava em
dia. Ele disse, porém, que houve alguma falha mecânica.
"Ferrari relatou que viu os
carros parados e foi acionando
o freio e o caminhão parando,
mas, ao chegar perto da fila, o
freio falhou." Segundo Silva Junior, Ferrari disse ainda que
buzinou e gritou para avisar
que o veículo estava sem freio.
A versão é contestada pela
polícia. Segundo a Secretaria da
Segurança, o tacógrafo do veículo marcava 130 km/h no momento em que ele bateu nos
veículos e atropelou as pessoas.
A Polícia Rodoviária Federal
disse que havia sinalização oito
quilômetros antes do local do
acidente e que havia congestionamento de dois quilômetros.
"Foi falha dele, porque,
quando chegou a um determinado ponto da rodovia, havia
policiais no acostamento sinalizando. A justificativa de que
houve falha no freio não me
convence. Não me parece que
ele agiu corretamente", disse o
delegado de Descanso, Rudnei
Charão. "Foi um absurdo."
A PRF também analisa a hipótese de Ferrari ter desviado
para evitar o congestionamento e não ter conseguido parar.
A mulher do motorista, Luciane Ferrari, 28, disse ontem
que, pouco mais de uma hora
antes do acidente, ele lhe telefonou e pediu que orasse, pois
estava com um "pressentimento ruim". Segundo ela, o marido
deixou o caminhão num mecânico na segunda, pois havia um
problema no freio. Na terça, pegou o veículo arrumado.
"Ele me disse [após o acidente] que não sabe se foi o freio ou
outra coisa. Deu pane, e ele não
conseguiu segurar [o veículo]."
Ainda não foi ouvido
Ontem, o caminhoneiro passou o dia conversando com advogados contratados por sua família e pela transportadora.
Ainda não foi ouvido pelas polícias Civil e Militar. Prestou
apenas no fim da tarde uma declaração à PRF.
"Ele só falou de forma genérica que vinha em baixa velocidade quando avistou o movimento e que perdeu o controle
do veículo", disse a advogada
Solange Machado, da Turatto e
Turatto. Antes de a advogada
chegar ao Hospital São José,
em Maravilha (SC), onde Ferrari está internado, outros dois
advogados contratados pela família do motorista o visitaram.
Eles saíram sem se identificar e
apenas disseram que o acidente
ocorreu porque houve falha
nos freios.
Ao chegar ao hospital por
volta das 14h, sem ainda ter
conversado com o motorista,
Machado disse que seu cliente
era "uma vítima" e que o que
ocorreu foi uma "fatalidade".
Ela disse que vai entrar com pedido de liberdade provisória.
Um perito deve chegar a São
Miguel d'Oeste na segunda para verificar os freios da carreta.
Conforme a Turatto e Turatto, Ferrari tem habilitação "E"
(que permite dirigir caminhões) há três meses, tempo
em que está na empresa. "Ele
sempre dirigiu caminhão truck,
que é menor", diz Silva Junior.
Para ele, isso não contribuiu
para o acidente. "Ele fez teste
[do Detran] e foi aprovado."
Com CÍNTIA ACAYABA , da Agência Folha, e
LUIZ CARLOS DA CRUZ , colaboração para a
Agência Folha, em Cascavel
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