São Paulo, sexta-feira, 12 de outubro de 2007

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Caminhoneiro diz que não conseguiu frear

Polícia contesta versão do motorista que matou 20 pessoas em SC; maioria ajudava no resgate de vítimas de outro acidente

Caminhão esteve em oficina, com problemas no freio, no dia anterior ao acidente; transportadora afirma que manutenção estava em dia

SIMONE IGLESIAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MARAVILHA

O motorista Rosinei Ferrari, 28, que dirigia o caminhão que atropelou e matou 20 pessoas em Descanso (SC) na terça, afirmou ontem, por meio de uma advogada, que foi obrigado a entrar na contramão e furar um bloqueio policial porque perdeu o controle do veículo.
Segundo a defesa, ele disse que dirigia em baixa velocidade quando percebeu o congestionamento formado na BR-282, por causa de um outro acidente com sete mortos que ocorrera menos de duas horas antes.
A maior parte dos mortos trabalhava no resgate do primeiro acidente -cinco eram bombeiros, um era PM e três eram jornalistas. Ao menos 90 pessoas ficaram feridas.
O acidente ocorreu um dia após o caminhão entrar na oficina por problemas no freio. Lourival Silva Junior, gerente da transportadora Turatto e Turatto, onde o caminhoneiro trabalha, afirmou que a manutenção do veículo estava em dia. Ele disse, porém, que houve alguma falha mecânica.
"Ferrari relatou que viu os carros parados e foi acionando o freio e o caminhão parando, mas, ao chegar perto da fila, o freio falhou." Segundo Silva Junior, Ferrari disse ainda que buzinou e gritou para avisar que o veículo estava sem freio.
A versão é contestada pela polícia. Segundo a Secretaria da Segurança, o tacógrafo do veículo marcava 130 km/h no momento em que ele bateu nos veículos e atropelou as pessoas. A Polícia Rodoviária Federal disse que havia sinalização oito quilômetros antes do local do acidente e que havia congestionamento de dois quilômetros.
"Foi falha dele, porque, quando chegou a um determinado ponto da rodovia, havia policiais no acostamento sinalizando. A justificativa de que houve falha no freio não me convence. Não me parece que ele agiu corretamente", disse o delegado de Descanso, Rudnei Charão. "Foi um absurdo."
A PRF também analisa a hipótese de Ferrari ter desviado para evitar o congestionamento e não ter conseguido parar. A mulher do motorista, Luciane Ferrari, 28, disse ontem que, pouco mais de uma hora antes do acidente, ele lhe telefonou e pediu que orasse, pois estava com um "pressentimento ruim". Segundo ela, o marido deixou o caminhão num mecânico na segunda, pois havia um problema no freio. Na terça, pegou o veículo arrumado. "Ele me disse [após o acidente] que não sabe se foi o freio ou outra coisa. Deu pane, e ele não conseguiu segurar [o veículo]."

Ainda não foi ouvido
Ontem, o caminhoneiro passou o dia conversando com advogados contratados por sua família e pela transportadora. Ainda não foi ouvido pelas polícias Civil e Militar. Prestou apenas no fim da tarde uma declaração à PRF.
"Ele só falou de forma genérica que vinha em baixa velocidade quando avistou o movimento e que perdeu o controle do veículo", disse a advogada Solange Machado, da Turatto e Turatto. Antes de a advogada chegar ao Hospital São José, em Maravilha (SC), onde Ferrari está internado, outros dois advogados contratados pela família do motorista o visitaram. Eles saíram sem se identificar e apenas disseram que o acidente ocorreu porque houve falha nos freios.
Ao chegar ao hospital por volta das 14h, sem ainda ter conversado com o motorista, Machado disse que seu cliente era "uma vítima" e que o que ocorreu foi uma "fatalidade".
Ela disse que vai entrar com pedido de liberdade provisória. Um perito deve chegar a São Miguel d'Oeste na segunda para verificar os freios da carreta. Conforme a Turatto e Turatto, Ferrari tem habilitação "E" (que permite dirigir caminhões) há três meses, tempo em que está na empresa. "Ele sempre dirigiu caminhão truck, que é menor", diz Silva Junior.
Para ele, isso não contribuiu para o acidente. "Ele fez teste [do Detran] e foi aprovado."


Com CÍNTIA ACAYABA , da Agência Folha, e LUIZ CARLOS DA CRUZ , colaboração para a Agência Folha, em Cascavel


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