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Escola barra aluno que não usa uniforme
Colégios estaduais exigem uso da roupa, o que é proibido; alunos afirmam que já foram advertidos por escrito
Secretaria da Educação diz que apura casos; na zona sul, pais e alunos dizem que venda é feita dentro da própria escola
TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO
RAPHAEL MARCHIORI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Renato (nome fictício), 14,
foi barrado na porta da escola Stefan Zweig, na zona leste, onde estuda. O aluno da
8ª série conta que estava sem
o uniforme e, por isso, ficou
sem assistir as aulas do dia.
O episódio aconteceu no
início deste mês e exemplifica uma prática irregular que
escolas estaduais de São
Paulo têm cometido: a de
barrar ou constranger alunos
pela falta do uniforme.
Além da escola da zona
leste, o uso do uniforme é
obrigatório em ao menos três
outras escolas da zona sul -
a Secretaria Estadual da Educação diz que apura os casos.
Quem não tem uniforme,
ou é barrado ou tem o nome
anotado em uma lista e os
pais são chamados. Há casos
de alunos que dizem terem
sido advertidos por escrito
por descumprirem a regra.
Na Stefan Zweig, os pais
têm de desembolsar, no mínimo, R$ 75 -preço do conjunto composto por camiseta, calça e blusa de moletom.
Já na Leopoldo Santana,
no Capão Redondo (zona sul
da cidade), a camiseta branca com golas azuis obrigatória custa entre R$ 15 e R$ 17 (a
tipo polo).
A escola, ainda segundo
pais e alunos, comete outra
irregularidade: vende o uniforme dentro do colégio. A
carteirinha, outro item obrigatório, também é vendida
na escola por R$ 13.
Os alunos que se recusam
a usar uniforme são obrigados a voltar para casa para
buscá-lo. Os que não têm a
carteirinha até conseguem
entrar pelo portão dos fundos, mas, para sair, têm que
esperar todos os outros colegas saírem antes.
Os estudantes dizem que
os reincidentes chegam a levar advertência, fato confirmado pelo coordenador da
escola Emerson Lima.
No mês passado, a direção
da escola foi afastada temporariamente por irregularidades na atribuição de aulas.
Desde então, parte dos alunos passou a deixar o uniforme em casa.
Na Professora Maud Sá de
Miranda Monteiro, também
no Capão Redondo, o uniforme também é obrigatório.
A mãe de um aluno do 5º
ano do fundamental diz que
o conjunto (com camiseta,
blusão e calça) custa R$ 60,
valor que não é parcelado.
"E temos que comprar
dois, por que uma hora precisamos lavar. Se o governo
quer obrigar, ele que forneça
o uniforme", diz ela, que há
dois anos tirou o filho de uma
escola particular porque ficou desempregada.
Na Professor João Silva
(zona sul), não há uniforme,
mas a camiseta branca é obrigatória. A direção telefona
para os pais dos que ignoram
a regra e pede para que eles
levem a roupa no mesmo dia.
ILEGAL
Proibir a entrada de estudantes por falta de uniformes
ou carteirinhas é ilegal, afirma Cesar Calegari, da Câmara de Educação Básica do
Conselho Nacional de Educação. As escolas não podem
impedir a entrada de estudantes, nem submetê-los a
atitudes discriminatórias.
"A escola até pode sugerir
o uso, mas essa obrigatoriedade não tem base legal."
Segundo ele, as escolas
também não podem vender o
uniforme, pois não podem
fazer transações financeiras.
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