|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TRANSPORTE
Presidente de grupo de ônibus diz que Zarattini fez repasse irregular de R$ 665 mil e participou de desvio de vales
Petista acusa secretário de irregularidade
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O militante do PT William Ali
Chaim, 39, acusou ontem Carlos
Zarattini, secretário dos Transportes do governo Marta Suplicy,
de ter repassado R$ 665 mil de
maneira irregular a duas empresas de ônibus em agosto deste ano
e de ter articulado um esquema de
desvio de vales-transporte para
pagar salários de condutores.
Chaim preside, desde julho, as
viações do empresário Romero
Niquini, segundo maior de São
Paulo, cujos contratos foram
rompidos pela prefeitura há dois
meses sob a acusação de "fraude"
na prestação de contas da arrecadação. Ele afirma ter sido indicado ao cargo por Zarattini.
O petista prestou depoimento
na Câmara Municipal e disse que
Zarattini participou ativamente
das ações irregulares que resultaram em divergências nas contas.
A SPTrans (São Paulo Transporte, órgão municipal que cuida
do setor) rompeu os contratos
com as viações Santa Bárbara, São
Judas e Expresso Parelheiros, de
propriedade de Niquini, porque
elas informaram uma arrecadação de 54.675 vales-transporte no
dia 12 de agosto. A fiscalização,
porém, identificou 143.309 vales
nos relatórios dos cobradores.
Segundo Chaim, a diferença de
88.634 vales, que equivale a mais
de R$ 124 mil, foi retirada do caixa, a pedido de Zarattini, e repassada ao empresário de ônibus
Leonardo Capuano para pagamento dos salários atrasados de
motoristas e cobradores das viações Santo Amaro e Ibirapuera,
que estavam em greve. "Foi tudo
acordado na mesa do secretário."
O presidente do grupo Niquini
afirmou que a irregularidade não
se restringiu a essa operação. Como a folha de pagamento dos trabalhadores beirava R$ 800 mil,
Chaim disse que Zarattini depositou R$ 265 mil na conta da viação
Santa Bárbara, sob sua gerência, e
R$ 400 mil na da viação Cidade
Tiradentes, controlada por Capuano, para saldar a dívida.
O petista afirmou que esse dinheiro foi retirado da conta de
multas da SPTrans. Ou seja, a verba teria voltado às infratoras depois de ser descontada da remuneração das viações por irregularidades cometidas.
Chaim apresentou um extrato
bancário que mostra um depósito
de R$ 265 mil em 13 de agosto, um
dia após as divergências na prestação de contas de Niquini.
Chaim alega dois motivos para
ter se envolvido nesse esquema: 1)
atender a um pedido do secretário
dos Transportes; 2) Niquini negociava a compra da Santo Amaro e
da Ibirapuera e, para a transação
ser efetivada, era interessante para ele acabar com a greve dos trabalhadores e fazer esse acordo
com Capuano -que não foi localizado ontem pela Folha.
Alto escalão
O petista Chaim é ligado ao alto
escalão do partido e já trabalhou
com Rui Falcão (secretário de Governo de Marta Suplicy), José Dirceu (presidente nacional do PT) e
Ricardo Zarattini (pai do atual secretário dos Transportes).
Ele disse suspeitar da forma como foram pagos os R$ 2,5 milhões
do passivo trabalhista das viações
Ibirapuera e Santo Amaro -que
foram fechadas e tiveram suas linhas distribuídas a Niquini e a outros empresários. Questionou
ainda a demora da prefeitura para
intervir nas viações sob seu controle. "Se eles detectaram no dia
12 de agosto, por que só tomaram
essa atitude no mês seguinte?"
O petista disse ter sido procurado por empresários de ônibus que
estariam sendo pressionados por
Zarattini para sair do sistema. Citou a AAL, controlada por Arnaldo Caputo Gomes. Chaim afirma
acreditar que há interesse do secretário em deixar um monopólio
nas mãos de grandes grupos.
O depoimento de Chaim reforçou na Câmara um movimento
pela criação de uma CPI para apurar irregularidades no setor.
"Existe um consenso sobre essa
necessidade", diz Alcides Amazonas (PC do B), da base governista.
Texto Anterior: Narcotráfico: Polícia acha refinaria de cocaína Próximo Texto: Outro lado: Zarattini nega desvio ilegal Índice
|