São Paulo, terça-feira, 12 de novembro de 2002

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TRANSPORTE

Presidente de grupo de ônibus diz que Zarattini fez repasse irregular de R$ 665 mil e participou de desvio de vales

Petista acusa secretário de irregularidade

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O militante do PT William Ali Chaim, 39, acusou ontem Carlos Zarattini, secretário dos Transportes do governo Marta Suplicy, de ter repassado R$ 665 mil de maneira irregular a duas empresas de ônibus em agosto deste ano e de ter articulado um esquema de desvio de vales-transporte para pagar salários de condutores.
Chaim preside, desde julho, as viações do empresário Romero Niquini, segundo maior de São Paulo, cujos contratos foram rompidos pela prefeitura há dois meses sob a acusação de "fraude" na prestação de contas da arrecadação. Ele afirma ter sido indicado ao cargo por Zarattini.
O petista prestou depoimento na Câmara Municipal e disse que Zarattini participou ativamente das ações irregulares que resultaram em divergências nas contas.
A SPTrans (São Paulo Transporte, órgão municipal que cuida do setor) rompeu os contratos com as viações Santa Bárbara, São Judas e Expresso Parelheiros, de propriedade de Niquini, porque elas informaram uma arrecadação de 54.675 vales-transporte no dia 12 de agosto. A fiscalização, porém, identificou 143.309 vales nos relatórios dos cobradores.
Segundo Chaim, a diferença de 88.634 vales, que equivale a mais de R$ 124 mil, foi retirada do caixa, a pedido de Zarattini, e repassada ao empresário de ônibus Leonardo Capuano para pagamento dos salários atrasados de motoristas e cobradores das viações Santo Amaro e Ibirapuera, que estavam em greve. "Foi tudo acordado na mesa do secretário."
O presidente do grupo Niquini afirmou que a irregularidade não se restringiu a essa operação. Como a folha de pagamento dos trabalhadores beirava R$ 800 mil, Chaim disse que Zarattini depositou R$ 265 mil na conta da viação Santa Bárbara, sob sua gerência, e R$ 400 mil na da viação Cidade Tiradentes, controlada por Capuano, para saldar a dívida.
O petista afirmou que esse dinheiro foi retirado da conta de multas da SPTrans. Ou seja, a verba teria voltado às infratoras depois de ser descontada da remuneração das viações por irregularidades cometidas.
Chaim apresentou um extrato bancário que mostra um depósito de R$ 265 mil em 13 de agosto, um dia após as divergências na prestação de contas de Niquini.
Chaim alega dois motivos para ter se envolvido nesse esquema: 1) atender a um pedido do secretário dos Transportes; 2) Niquini negociava a compra da Santo Amaro e da Ibirapuera e, para a transação ser efetivada, era interessante para ele acabar com a greve dos trabalhadores e fazer esse acordo com Capuano -que não foi localizado ontem pela Folha.

Alto escalão
O petista Chaim é ligado ao alto escalão do partido e já trabalhou com Rui Falcão (secretário de Governo de Marta Suplicy), José Dirceu (presidente nacional do PT) e Ricardo Zarattini (pai do atual secretário dos Transportes).
Ele disse suspeitar da forma como foram pagos os R$ 2,5 milhões do passivo trabalhista das viações Ibirapuera e Santo Amaro -que foram fechadas e tiveram suas linhas distribuídas a Niquini e a outros empresários. Questionou ainda a demora da prefeitura para intervir nas viações sob seu controle. "Se eles detectaram no dia 12 de agosto, por que só tomaram essa atitude no mês seguinte?"
O petista disse ter sido procurado por empresários de ônibus que estariam sendo pressionados por Zarattini para sair do sistema. Citou a AAL, controlada por Arnaldo Caputo Gomes. Chaim afirma acreditar que há interesse do secretário em deixar um monopólio nas mãos de grandes grupos.
O depoimento de Chaim reforçou na Câmara um movimento pela criação de uma CPI para apurar irregularidades no setor. "Existe um consenso sobre essa necessidade", diz Alcides Amazonas (PC do B), da base governista.


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