São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2006

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Caravana de médicos paulistas vai ao interior de MT e RO combater câncer

Em carreta, equipe de hospital de Barretos percorrerá 3.000 km em um mês

Joel Silva/Folha Imagem
Acima, pacientes de Carlina (MT) esperam em frente à carreta ; à esq., o médico Raphael Haikel Jr. opera paciente com câncer de pele


MARIA FERNANDA RIBEIRO
ENVIADA ESPECIAL AO MT

Sob o sol escaldante dos Estados de Mato Grosso e de Rondônia, uma equipe médica do Hospital de Câncer de Barretos (424 km de São Paulo) -referência no país no tratamento da doença- percorre em um mês, dentro de uma carreta, cerca de 5.000 quilômetros. O objetivo: realizar exames preventivos contra os cânceres de pele, colo do útero e próstata na população de 19 cidades no interior dos dois Estados e tentar espalhar Brasil afora a importância da prevenção.
A equipe, formada por um médico, uma enfermeira e três assistentes de enfermagem, deixou Barretos no dia 12 de outubro -a viagem só termina no próxima sexta-feira. Montada para funcionar como um hospital móvel, a carreta tem quatro salas com capacidade para atender 120 pacientes. Essa é a terceira viagem realizada pelo veículo desde 2004.
"O número de consultas nunca é o suficiente para atender a demanda das cidades, mas o nosso objetivo é mudar o conceito das prefeituras sobre a prevenção. Cada paciente atendido é uma semente plantada", disse o médico Raphael Luiz Haikel Junior, 31.
Os exames de próstata e colo do útero são realizados na parte da manhã, e os exames de pele são feitos à tarde. "Quem apresentar alguma lesão que indique o câncer de pele é submetido a cirurgia no mesmo dia. A pessoa chega com o câncer e vai embora sem ele", afirmou.

Dificuldades
A Folha acompanhou a carreta durante uma semana, a partir do momento em que ela chegou a Alta Floresta, no norte de Mato Grosso, cinco dias depois de ter saído de Barretos e de ter passado pelas cidades de Alta Floresta, Carlinda e Paranaíta.
Em seus deslocamentos, a carreta enfrenta várias dificuldades, principalmente quando trechos de estrada de terra viram lama em dias de chuva. Enquanto a reportagem esteve acompanhando a carreta, o veículo atravessou pontes de madeira estreitas e, à primeira vista, pouco confiáveis e superou vários trechos de barro.
Pintada de rosa e com cerca de 20 metros de comprimento, a carreta foi recebida pela população de cada cidade com festa. A chegada, em carreata, é acompanhada pelo estouro de rojões e fogos de artifício, patrocinados pelas prefeituras.
Cabe à administração municipal preparar lanches para os pacientes e arrumar cadeiras para todos esperarem sentados. Em cada município são atendidos cerca de 120 pacientes por dia.
As cidades que receberam a carreta têm algo em comum: todas realizam leilões anuais de gado e doam todo o dinheiro arrecadado ao Hospital de Câncer de Barretos. Segundo o diretor-geral do hospital, Henrique Prata, essa foi a forma que a instituição encontrou para retribuir o dinheiro.

Gratidão
O fazendeiro Luiz Antonio Bazzo, 58, é o organizador dos leilões nas cidades de Alta Floresta, Carlinda e Paranaíta. Ele faz questão de acompanhar de perto tudo o que a equipe do hospital faz nas três cidades. "Faço isso porque tenho um neto que teve câncer logo que nasceu e está curado hoje."
O fazendeiro tentou encaixar atendimento para um paciente aqui e outro ali. Algumas vezes, conseguiu, em outras não teve conversa. "Não dá para atender mais. Estamos no limite", disse o médico em uma das tentativas de encaixe.
"É a primeira vez que estou fazendo o exame de próstata. Nunca tive a oportunidade antes. Sei que é importante, mas não dava certo", disse o aposentado Alfredo Campos, 60, em Alta Floresta. A dona-de-casa Iracema Rocha Lourenço, 45, de Paranaíta, também alegou falta de oportunidade para fazer o exame de papanicolau antes -ela teve que enfrentar 45 quilômetros de estrada de terra recém-transformada em lama pela chuva, em uma moto de 125 cilindradas.


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