São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2006

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Gestão Kassab abandona projeto de Serra

Secretário diz que Prefeitura de SP errou ao mudar horário das aulas de leitura e de informática nas escolas municipais

É a primeira vez desde que o pefelista assumiu o cargo, em abril deste ano, que seu governo faz mudanças em uma iniciativa do tucano

EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário da Educação de São Paulo, Alexandre Schneider, admitiu que a prefeitura errou ao retirar do horário regular de aulas dos alunos os cursos de leitura e de informática das escolas municipais.
É a primeira vez que algum integrante da gestão Gilberto Kassab (PFL) critica publicamente uma medida tomada no governo José Serra (PSDB).
Até o ano passado, os alunos das escolas municipais freqüentavam as salas de leitura e de informática no próprio horário das aulas. A partir deste ano, a freqüência às salas de leitura e de informática passou a ser feita fora do horário normal de aula. Então, se o aluno estudava de manhã, ele tinha de retornar à escola à tarde para usar esses equipamentos.
A medida fez parte do projeto São Paulo É uma Escola, que tinha como objetivo manter o aluno mais tempo no colégio.
A decisão foi tomada pelo então prefeito Serra, governador eleito do Estado, por sugestão do secretário da pasta à época, José Aristodemo Pinotti (PFL), deputado federal reeleito e cotado para assumir um cargo ligado à área de educação na administração do tucano.
Kassab assumiu a prefeitura em abril, após a renúncia de Serra para disputar o governo do Estado. Desde então, tem sido de uma fidelidade absoluta ao seu antecessor. Em um único momento contrariou alguma medida tomada pelo tucano, quando anulou a cobrança de aluguel dos clubes pelo uso de áreas públicas.
Nessa época, no entanto, não houve nenhuma declaração pública contra a decisão de Serra. Argumentou-se que a medida só foi desfeita por pressão de parte da Câmara Municipal.
Agora não. Schneider foi claro na quinta-feira, na abertura do 5º Congresso Municipal de Educação, no Palácio das Convenções do Anhembi. "Reconhecemos que foi um erro a retirada das salas de leitura e de informática da grade. Nós nunca vamos ter vergonha de voltar atrás quando estivermos errados", disse o secretário.
Schneider foi indicado pelo próprio Serra para assumir a pasta da Educação. Antes, era secretário-adjunto da Secretaria de Governo.
Em artigo publicado em abril na Folha, Pinotti defendeu o projeto que implantou na área educacional durante os 15 meses em que ficou na secretaria. E disse que Serra, Kassab e Schneider haviam participado ativamente de sua elaboração. "Não há risco de interrupção dessa política educacional", dizia Pinotti, em seu artigo.
A chefe-de-gabinete de Pinotti na Educação, Maria Lúcia Tojal, lembra que a decisão, na época, não foi unânime. "Se eles hoje estão entendendo como um equívoco, é porque devem ter suas razões ou sofreram mais pressão. Eu não sei dizer porque não estamos mais na secretaria."
Para Tojal, a medida era correta, porque o objetivo era fazer com que os alunos ficassem mais tempo na escola, pois o período em que não estavam em aulas ficavam nas ruas, e sem causar prejuízo aos professores, que continuavam com a mesma jornada de trabalho.
Kassab e Schneider decidiram rever a medida após uma forte pressão de professores. Na greve da categoria, em abril, uma das reivindicações era exatamente a volta das aulas de leitura e informática para o horário normal do turno letivo.
O secretário da Educação explicou que as salas de leitura e de informática são equipamentos pedagógicos importantes para que os professores de cada uma das turmas possam interagir com os responsáveis pelas aulas nos laboratórios.
Durante todo este ano, o aluno, além de precisar voltar à escola fora de seu horário normal de aulas, ainda tinha de freqüentar as salas de leitura e informática sem a presença do professor de sua turma.
Para o presidente do Sinpeem (Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo), Claudio Fonseca, a mudança de posição da prefeitura foi uma conquista da categoria.
"Uma das conquistas da greve foi a garantia de reintegrar as salas de leitura e de informática ao processo normal de aprendizagem dos alunos. Reputamos como superimportante e significativo. O que tem de novo agora é que o secretário admitiu o erro", afirmou o sindicalista.


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