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Lobby da indústria afeta SUS, diz Anvisa
Segundo pesquisa da Anvisa, gestores de saúde e médicos são influenciados por meio de propagandistas e brindes
37,7% dos médicos dizem que podem sofrer influência e 67% levam em conta a divulgação na hora da prescrição
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
A indústria farmacêutica
influencia decisões dos gestores e dos médicos das unidades básicas de saúde do
SUS (Sistema Único de Saúde). A conclusão é de uma
pesquisa da Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária), financiada pelo FNS
(Fundo Nacional de Saúde).
O estudo, obtido com exclusividade pela Folha, envolveu entrevistas com mais
de 700 médicos, gestores e
responsáveis pelas farmácias
dos SUS de 15 capitais brasileiras. Entre os gestores, 75%
relataram que recebem visitas mensais de representantes da indústria farmacêutica
-só 15% deles são visitados
por fabricantes de genéricos.
Em relação à interferência
da propaganda na prescrição
de drogas, 37,7% dos médicos admitem que podem ser
influenciados por ela. Outros
67% afirmam considerar as
informações das propagandas na hora da prescrição.
A partir desse retrato, a
Anvisa, o Ministério da Saúde e os conselhos de secretários de saúde devem desenvolver ações no sentido de
restringir essa influência,
mas ainda não há definição
de quais serão.
A distribuição de brindes
que divulgam o nome de um
determinado remédio é a estratégia mais usada pela indústria entre os gestores, o
que contraria norma brasileira que permite a oferta de
brindes desde que não veiculem propaganda de drogas.
ASSÉDIO
Embora a compra de medicamentos no SUS envolva comissões compostas também
por outros profissionais, como secretários de finanças
dos municípios, a Anvisa está convencida de que o assédio rende frutos à indústria.
"Se tem esse esforço da indústria [visitas e distribuição
de material], é porque tem repercussão favorável a eles.
Essa relação próxima confunde todo processo de seleção de medicamento", afirma Maria José Delgado, gerente-geral de monitoramento de propaganda da Anvisa.
Para Nelson Mussolini, do
Sindusfarma (Sindicato da
Indústria de Produtos Farmacêuticos do Estado de São
Paulo), a propaganda é "ética e legítima". "O material
promocional é a única forma
de divulgar os medicamentos, já que a propaganda na
mídia é proibida no país."
Entre os médicos, 41% recebem visitas de propagandistas no trabalho. Dos entrevistados, 64% têm consultório particular.
Para Roberto D'Avila, presidente do Conselho Federal
de Medicina, o assédio acontece porque, quando faltam
medicamentos no SUS, os
pacientes são orientados pelos médicos a comprar fora.
"Na rede privada, estamos
cansados de saber que há influência [da indústria]. Só
não sabia que o assédio estava tão disseminado na rede
pública", diz D'Avila.
Folders, amostras grátis e
artigos científicos favoráveis
ao remédio são a estratégia
preferida com os médicos.
Brindes e outras cortesias
respondem por 9%.
Em 45,6% das propagandas não aparecem informações sobre efeitos colaterais
da droga. "É perigosíssimo. A
Anvisa tem que fiscalizar e
punir", diz D'Avila.
Mussolini, do Sindusfarma, diz que a Anvisa já pune
as indústrias que deixam de
lado essas informações "por
algum descuido".
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