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SAÚDE
De 98 a 2003, Anvisa autorizou ampliar proporção do iodo no alimento, o que, para especialista, provocou aumento da doença
Sal com excesso de iodo provoca tireoidite
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil registra um aumento de
casos de doenças da tireóide e a
causa é o excesso de iodo no sal. A
afirmação é de um dos maiores
especialistas em tireóide no Brasil,
o endocrinologista Geraldo Medeiros Neto, professor da Faculdade de Medicina da USP e consultor do Ministério da Saúde.
O problema, diz, foi detonado
em 1998, quando uma resolução
da Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) aumentou a
proporção de iodo no sal. Passou
de 40-60 g/kg (microgramas
por quilo) para 40-100 g/kg. Em
2003, após estudos comprovarem
que havia excesso de iodo na urina da população, os índices foram
reduzidos para 20-60 g/kg.
O Ministério da Saúde alega que
a mudança em 1998 foi em razão
de pressões da indústria salineira.
"O setor teria reclamado que o limite mínimo de 40 e máximo de
60 g/kg de sal eram muito próximos, o que levava a erros de dosagens e, conseqüentemente, a
multas", afirma Juliana Amorim,
da coordenação de políticas de
alimentação e nutrição.
O professor Medeiros Neto, que
já era consultor do ministério da
época, confirma. "A alteração foi
feita sem o aval dos assessores técnicos. Foi decidida pelo pessoal
do segundo e terceiro escalões." A
indústria salineira nega.
Segundo Medeiros Neto, a ingestão de iodo em excesso durante um período prolongado -acima de três anos- pode provocar
o aumento da tireoidite crônica
(tireoidite de Hashimoto) entre as
pessoas que têm predisposição
genética a doenças auto-imunes
-15% da população, em média.
Pesquisas recentes feitas no país
mostram incidência de até 20%
de casos dessa doença, tipo mais
comum de hipotireoidismo que
atinge as mulheres e leva o organismo a produzir anticorpos contra a glândula tireóide, levando a
uma inflamação crônica. O padrão internacional é de 7%.
"Não tenho dúvidas. [O excesso
de iodo] é o gatilho que deflagrou
esse aumento. As conseqüências
aparecem mais tarde", diz ele.
Mas muitos médicos, como os
endocrinologistas Mário Vaisman (UFRJ), Eder Quintão (USP)
e Antonio Roberto Chacra (Unifesp), acreditam que o aumento
dos casos esteja relacionado ao
crescimento do diagnóstico da
doença. "Ainda não há estudos
suficientes", diz Quintão.
Não há um padrão internacional para o nível de iodo no sal. Cada país tem sua norma, mas em
geral varia de 20 a 100 g/ kg.
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