São Paulo, segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ministério vai monitorar caso

DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério da Saúde irá, a partir de 2006, monitorar como está a nutrição de iodo e o consumo de sal na população. "Só depois disso é que poderemos confirmar se o aumento das tireoidites está relacionado ao iodo e propor mudanças na legislação, se for o caso", afirma Juliana Amorim.
Hoje, há uma unanimidade de que o sal iodado reduziu drasticamente os DDIs (distúrbios por deficiência de iodo), que provocam o bócio ou o nascimento de crianças com rebaixamento mental e surdez congênita. No Brasil, o índice de bócio passou de 20,7% (em 1955) para 1,4% (em 2000).
O debate agora são os possíveis males provocados pelo iodo em excesso. Um dos mais recentes estudos é um chinês, com 13 mil pessoas. Foram estudados três grupos -um com deficiência de iodo na urina, outro com padrões normais e o terceiro com excesso -neste, houve 14 vezes mais incidência de tireoidite crônica.
No país, um estudo populacional recém-concluído pela USP encontrou incidência de até 20% de casos de tireoidite de Hashimoto em moradores do Grande ABC.
Financiado pela Fapesp, o trabalho envolveu duas comunidades em 2004 e parte de 2005. Ao final, mostrou-se que 82 dos 420 analisados na Vila Paulicéia (São Bernardo) tinham a tireoidite.
Na área vicinal do Pólo Petroquímico de Capuava (Mauá, Capuava e Santo André), 64 dos 409 examinados sofriam da doença. Em 52% das pessoas analisadas, a concentração de iodo na urina ultrapassou o nível máximo recomendado pela OMS, que é de 300 microgramas de iodo por litro (g/L). O mínimo é de 100 g/L.
Na Dinamarca, onde o sal não tem iodo, o índice de tireoidite na população é de 4,3% -em compensação, o de bócio é de 12%. Na Inglaterra e nos EUA, cujas populações utilizam sal iodado, a prevalência da tireoidite é de 9,1%.
Outra hipótese é o fato de o brasileiro estar ingerindo mais sal e, conseqüentemente, mais iodo. Mas nem nisso há consenso. Enquanto o IBGE afirma que o consumo é de 10 g/dia, a indústria salineira diz que é de 14 a 16 g/dia. A OMS recomenda 10 g/dia.
No Brasil, a exigência da adição de pequenas quantidades de iodo no sal para consumo humano surgiu na década de 50, como parte de um programa de fortificação de alimentos destinado a prevenção de doenças, como o bócio.
Em 1956, um decreto atribuiu ao Ministério da Saúde a responsabilidade da importação e distribuição do iodo à indústria salineira. O subsídio durou até 1974, quando o governo transferiu o ônus da iodação à iniciativa privada, determinou que a fiscalização ficasse a cargo dos Estados e municípios e fixou o limite de iodo em 10 g por quilo de sal.
Em 1994, uma portaria ministerial aumentou o teor de iodo no sal de consumo humano para 40-60 g/kg. Nessa época, um inquérito havia detectado deficiência crônica de iodo na população.
Em 2000, quando norma da Anvisa liberou o índice de 40-100 g/kg, uma nova investigação mostrou que 86,5% dos estudantes analisados tinham níveis de iodo na urina acima do índice limite colocada pela OMS. (CC)


Texto Anterior: Outro lado: Indústria nega ter pressionado por mudança
Próximo Texto: Reviravolta hormonal: Falta de ânimo é queixa comum
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.