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Pane em barco faz 132 pessoas ficarem na água por 4 horas
Catamarã, que liga o Morro de São Paulo a Salvador, corria o risco de afundar
Desesperados, passageiros aguardaram em botes ou boiando; bioquímico de 61 anos, que viajava com a mulher, está desaparecido
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
Por quase quatro horas, 132
pessoas -entre elas 103 turistas brasileiros e 25 estrangeiros- ficaram à deriva em mar
aberto, na noite de domingo,
aguardando resgate após uma
pane parar o motor de um barco catamarã, que liga a vila de
Morro de São Paulo e Salvador.
A embarcação começou a encher e corria o risco de afundar.
A maioria dos passageiros conseguiu subir em botes com coletes salva-vidas. Outros, por
conta do nervosismo e das fortes ondas que atingiam o local,
seguraram nas bordas. Um bioquímico de 61 anos continuava
desaparecido até ontem.
Houve pânico no momento
da distribuição dos coletes. Depois, enquanto aguardavam o
resgate, algumas pessoas gritavam, reclamando do frio.
"Vivi momentos de horror",
contou a estudante Rejane Valverde. "A gente via nos rostos
das pessoas o medo da morte.
Quando tivemos de pular no
mar, houve muita gritaria e
choro, principalmente de idosos e crianças. Vi duas pessoas
chorando muito, falando ao celular com parentes e dizendo
que temiam morrer", disse.
O motor do barco parou de
funcionar por volta das 18h de
anteontem, duas horas após a
embarcação deixar Morro de
São Paulo, vila turística da ilha
de Tinharé. Faltavam cerca de
11 km para ele em Salvador.
Segundo a Capitania dos Portos, a água começou a invadir a
proa do catamarã cerca de uma
hora e meia após o início da viagem. "O desespero tomou conta de todos porque as ondas
eram muito altas", lembra o
economista Fábio Andrade.
O comandante Júlio César
Marinho disse que, ao perceber
que o catamarã poderia afundar, pediu a todos que se jogassem no mar. Mas alguns não
conseguiram subir nos botes e
se seguraram nas bordas -todos estavam com salva-vidas.
O bioquímico Ananias Bernardino da Silva, um dos últimos a se atirar no mar, estava
desaparecido até a noite de ontem. Ele, que é de Salvador, viajava a passeio com a mulher
Maria, 60. "Não sei o que aconteceu, ele se jogou no mar e foi
se separando da gente. Mas ele
nada muito bem, tenho esperanças que vão encontrá-lo
com vida." Ela diz que o marido
teve enjôos quando a embarcação começou a balançar.
Sete passageiros esperaram o
resgate por mais uma hora ainda no barco. "Quando percebemos que poderíamos afundar,
resolvemos pular", disse a estudante Ana Carolina.
Passageiros afirmaram que o
barco não possuía sinalizador,
espécie de foguete usado para
indicar sua localização no escuro. "A embarcação não tinha sinalizador. Estava muito escuro.
A gente via as luzes em Salvador, mas ninguém nos socorria.
Todos rezavam para que alguma embarcação passasse", disse a dona-de-casa Zilda Vaz.
A Marinha informou que não
houve atraso no resgate. "Tomamos conhecimento [do incidente] às 20h. Às 21h15, as primeiras pessoas foram resgatadas. Tivemos que mandar outra
embarcação socorrer passageiros e tripulantes", disse o capitão Alexandre de Souza.
Segundo a Capitania dos Portos, o catamarã, construído há
quatro anos, trafegava com todos os equipamentos de segurança e passou por vistoria há
menos de quatro meses.
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