São Paulo, terça-feira, 12 de dezembro de 2006

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Pane em barco faz 132 pessoas ficarem na água por 4 horas

Catamarã, que liga o Morro de São Paulo a Salvador, corria o risco de afundar

Desesperados, passageiros aguardaram em botes ou boiando; bioquímico de 61 anos, que viajava com a mulher, está desaparecido


LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Por quase quatro horas, 132 pessoas -entre elas 103 turistas brasileiros e 25 estrangeiros- ficaram à deriva em mar aberto, na noite de domingo, aguardando resgate após uma pane parar o motor de um barco catamarã, que liga a vila de Morro de São Paulo e Salvador.
A embarcação começou a encher e corria o risco de afundar. A maioria dos passageiros conseguiu subir em botes com coletes salva-vidas. Outros, por conta do nervosismo e das fortes ondas que atingiam o local, seguraram nas bordas. Um bioquímico de 61 anos continuava desaparecido até ontem.
Houve pânico no momento da distribuição dos coletes. Depois, enquanto aguardavam o resgate, algumas pessoas gritavam, reclamando do frio.
"Vivi momentos de horror", contou a estudante Rejane Valverde. "A gente via nos rostos das pessoas o medo da morte. Quando tivemos de pular no mar, houve muita gritaria e choro, principalmente de idosos e crianças. Vi duas pessoas chorando muito, falando ao celular com parentes e dizendo que temiam morrer", disse.
O motor do barco parou de funcionar por volta das 18h de anteontem, duas horas após a embarcação deixar Morro de São Paulo, vila turística da ilha de Tinharé. Faltavam cerca de 11 km para ele em Salvador.
Segundo a Capitania dos Portos, a água começou a invadir a proa do catamarã cerca de uma hora e meia após o início da viagem. "O desespero tomou conta de todos porque as ondas eram muito altas", lembra o economista Fábio Andrade.
O comandante Júlio César Marinho disse que, ao perceber que o catamarã poderia afundar, pediu a todos que se jogassem no mar. Mas alguns não conseguiram subir nos botes e se seguraram nas bordas -todos estavam com salva-vidas.
O bioquímico Ananias Bernardino da Silva, um dos últimos a se atirar no mar, estava desaparecido até a noite de ontem. Ele, que é de Salvador, viajava a passeio com a mulher Maria, 60. "Não sei o que aconteceu, ele se jogou no mar e foi se separando da gente. Mas ele nada muito bem, tenho esperanças que vão encontrá-lo com vida." Ela diz que o marido teve enjôos quando a embarcação começou a balançar.
Sete passageiros esperaram o resgate por mais uma hora ainda no barco. "Quando percebemos que poderíamos afundar, resolvemos pular", disse a estudante Ana Carolina.
Passageiros afirmaram que o barco não possuía sinalizador, espécie de foguete usado para indicar sua localização no escuro. "A embarcação não tinha sinalizador. Estava muito escuro. A gente via as luzes em Salvador, mas ninguém nos socorria. Todos rezavam para que alguma embarcação passasse", disse a dona-de-casa Zilda Vaz.
A Marinha informou que não houve atraso no resgate. "Tomamos conhecimento [do incidente] às 20h. Às 21h15, as primeiras pessoas foram resgatadas. Tivemos que mandar outra embarcação socorrer passageiros e tripulantes", disse o capitão Alexandre de Souza.
Segundo a Capitania dos Portos, o catamarã, construído há quatro anos, trafegava com todos os equipamentos de segurança e passou por vistoria há menos de quatro meses.


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