São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

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Abandonada após a eleição, obra de Kassab é saqueada

Invasores levaram materiais de creche em construção e incendiaram parte do prédio

Nenhum segurança ou guarda municipal protege a obra abandonada na zona leste; à noite local virou ponto de uso de drogas

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma creche da Prefeitura de São Paulo em construção na zona leste foi abandonada após o segundo turno da eleição, e, desde então, foi saqueada várias vezes e parcialmente incendiada no último domingo.
A obra da gestão Gilberto Kassab (DEM) foi largada e nenhum segurança ou guarda municipal foi colocado no local. Com isso, tijolos, madeiras e outras materiais de construção foram levados por invasores -no último sábado, a reportagem presenciou um caminhão sendo carregado na entrada do prédio por mais de uma hora.
A creche, projetada para abrigar 160 crianças, deveria ter sido entregue em agosto. O prazo foi estendido até anteontem, em razão de ocupações do terreno e de atrasos da construtora, mas tampouco foi cumprido. No local, há hoje apenas a estrutura de alvenaria.
A prefeitura diz que a responsabilidade pelo abandono é da construtora Martuir Ltda, que segundo o governo municipal está em estado de insolvência. A empresa não respondeu ao contato feito pela Folha.
Segundo moradores de Sapopemba, a obra enfrenta problemas desde o início de sua construção, em 2007. O último abandono, dizem, ocorreu entre o final de outubro e o início de novembro. Os operários haviam retomado os trabalhos após o primeiro turno eleitoral.

R$ 1,05 milhão
A cidade de São Paulo tem hoje um déficit de cerca de 80 mil vagas em creche. Na eleição, Kassab prometeu que iria "zerar o déficit".
O presidente da Sociedade Estrela do Bairro, conhecido como Capoeira, reclama do que chama de "uso eleitoreiro da obra". "A construção já estava parada havia uns três meses. Os operários reapareceram por volta de duas semanas antes do segundo turno. Passados dois ou três dias das eleições, eles saíram novamente, deixando os materiais e a obra do jeito que está, abandonada" afirma Capoeira, que é afiliado ao PT.
A falta da creche é sentida pela comunidade. O morador Ademar Jonas, de 56 anos, que tem dois netos, Guilherme e Giovana, afirma que a creche "faz falta para muitos".
"Os meus netos acabam indo para outra creche, mais longe. Mais tem muita criança que fica na rua o dia inteiro. Isso é perigoso, apesar de que o bairro já foi mais violento do que hoje. Uma nova creche facilitaria e muito a vida dos pais."
Em outra visita recente feita pela Folha à obra, localizada na rua Salvador de Mesquita, em Sapopemba, a construção era ocupada por meninos, que aproveitavam o último pavimento para empinar pipas.
O portão principal se encontrava aberto e era transitado livremente, assim como uma porta com saída para a rua atrás da construção. Não havia operários trabalhando. Do lado de fora, entulho se acumulava.
Os moradores dizem que à noite o local é mais perigoso, pois vira um ponto de uso de drogas. A construção é vizinha de uma escola pública infantil.
O custo estimando da construção é de R$ 1,05 milhão. Até agora, foram feitas a fundação e 80% da estrutura, o equivalente a 40% da obra, segundo a Secretaria da Educação.
Para o comerciante Orquiel da Silva, a recente volta e abandono frustraram novamente as expectativas da comunidade. "Vimos o pessoal trabalhando de novo, mas com a paralisação constatamos que essa obra sempre começa para parar novamente", disse.


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