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Abandonada após a eleição, obra de Kassab é saqueada
Invasores levaram materiais de creche em construção e incendiaram parte do prédio
Nenhum segurança ou guarda municipal protege a obra abandonada na zona leste; à noite local virou ponto de uso de drogas
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma creche da Prefeitura de
São Paulo em construção na zona leste foi abandonada após o
segundo turno da eleição, e,
desde então, foi saqueada várias vezes e parcialmente incendiada no último domingo.
A obra da gestão Gilberto
Kassab (DEM) foi largada e nenhum segurança ou guarda
municipal foi colocado no local.
Com isso, tijolos, madeiras e
outras materiais de construção
foram levados por invasores
-no último sábado, a reportagem presenciou um caminhão
sendo carregado na entrada do
prédio por mais de uma hora.
A creche, projetada para
abrigar 160 crianças, deveria
ter sido entregue em agosto. O
prazo foi estendido até anteontem, em razão de ocupações do
terreno e de atrasos da construtora, mas tampouco foi cumprido. No local, há hoje apenas
a estrutura de alvenaria.
A prefeitura diz que a responsabilidade pelo abandono é
da construtora Martuir Ltda,
que segundo o governo municipal está em estado de insolvência. A empresa não respondeu
ao contato feito pela Folha.
Segundo moradores de Sapopemba, a obra enfrenta problemas desde o início de sua construção, em 2007. O último
abandono, dizem, ocorreu entre o final de outubro e o início
de novembro. Os operários haviam retomado os trabalhos
após o primeiro turno eleitoral.
R$ 1,05 milhão
A cidade de São Paulo tem
hoje um déficit de cerca de 80
mil vagas em creche. Na eleição, Kassab prometeu que iria
"zerar o déficit".
O presidente da Sociedade
Estrela do Bairro, conhecido
como Capoeira, reclama do que
chama de "uso eleitoreiro da
obra". "A construção já estava
parada havia uns três meses. Os
operários reapareceram por
volta de duas semanas antes do
segundo turno. Passados dois
ou três dias das eleições, eles
saíram novamente, deixando
os materiais e a obra do jeito
que está, abandonada" afirma
Capoeira, que é afiliado ao PT.
A falta da creche é sentida pela comunidade. O morador
Ademar Jonas, de 56 anos, que
tem dois netos, Guilherme e
Giovana, afirma que a creche
"faz falta para muitos".
"Os meus netos acabam indo
para outra creche, mais longe.
Mais tem muita criança que fica na rua o dia inteiro. Isso é perigoso, apesar de que o bairro já
foi mais violento do que hoje.
Uma nova creche facilitaria e
muito a vida dos pais."
Em outra visita recente feita
pela Folha à obra, localizada na
rua Salvador de Mesquita, em
Sapopemba, a construção era
ocupada por meninos, que
aproveitavam o último pavimento para empinar pipas.
O portão principal se encontrava aberto e era transitado livremente, assim como uma
porta com saída para a rua
atrás da construção. Não havia
operários trabalhando. Do lado
de fora, entulho se acumulava.
Os moradores dizem que à
noite o local é mais perigoso,
pois vira um ponto de uso de
drogas. A construção é vizinha
de uma escola pública infantil.
O custo estimando da construção é de R$ 1,05 milhão. Até
agora, foram feitas a fundação e
80% da estrutura, o equivalente a 40% da obra, segundo a Secretaria da Educação.
Para o comerciante Orquiel
da Silva, a recente volta e abandono frustraram novamente as
expectativas da comunidade.
"Vimos o pessoal trabalhando
de novo, mas com a paralisação
constatamos que essa obra
sempre começa para parar novamente", disse.
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