São Paulo, domingo, 12 de dezembro de 2010

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Filha de ex-ministro diz não ser "a Richthofen do cerrado"

Adriana Villela, 46, acusada de mandar matar os pais, visita local do crime

Após percorrer cômodos de imóvel da 113 Sul, ela recebe a informação: o ex-zelador do prédio passara a incriminá-la

ELIANE TRINDADE
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

A porta principal se abre para o hall com piso de mármore italiano. A poeira e o cheiro abafado denunciam ausência de moradores. Pelas paredes, marcas escuras que parecem uma pátina, só que o efeito não é decorativo.
São rastros da perícia do crime ocorrido ali, num amplo apartamento da quadra 113 Sul de Brasília, em 28 de agosto do ano passado.
Quem faz as honras da casa é Adriana Villela, 46, filha dos proprietários. Ela voltava ao local um ano após a descoberta dos corpos dos pais assassinados, José Guilherme Villela, 73, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral, e Maria, 69, e da empregada, Francisca Nascimento, 58.
Um ano atrás, chegara algemada, na condição de acusada pelo triplo homicídio. "Foi um teatro da polícia para mostrar à opinião pública que eu era a criminosa", diz.
Em outubro deste ano, ela foi denunciada pelo Ministério Público como mandante do triplo homicídio. Chegou a passar quase três semanas na prisão. Os dias de cárcere foram registrados em diário.
Só que em novembro a polícia reabriu o caso. O ex-zelador do prédio dos Villela, Leonardo Campos Alves, afirmou à polícia ter cometido o crime com comparsas.
Sete dias depois da reviravolta, a arquiteta percorre com a Folha o amplo apartamento da família. Marcas de sangue estão impressas na área de serviço, onde foram encontrados os corpos do pai e da empregada, e no corredor, onde a mãe tombou. As vítimas levaram 70 facadas.
Após percorrer os 14 cômodos do apartamento da 113 Sul, a filha dos Villela é confrontada pela Folha com as primeiras informações de que o ex-zelador passou a acusá-la de ser a mandante.
"Como posso ter contratado o cara para matar meus pais se eu mesma pedi para que ele fosse investigado?"
Em depoimentos, ela relatou à polícia uma briga de Leonardo com a mãe. Em 2006, ao voltar de férias, Maria Villela descobriu que o então zelador invadira o imóvel na ausência deles.
"Esta informação virou a chave do crime. Mas a polícia e o Ministério Público preferem insistir na tese de que sou a Suzane Richthofen do cerrado", diz Adriana, referindo-se à jovem de classe média que cumpre pena pela morte dos pais em São Paulo.

AGRESSIVIDADE
"As novas declarações [do ex-zelador] devem ser vistas com reserva", diz Rodrigo de Alencastro, advogado de Adriana. "Minha cliente foi investigada por 14 meses, teve seus sigilos quebrados e não foi encontrada nenhuma relação dela com Leonardo."
Adriana foi indiciada a partir de uma digital sua colhida na cena do crime.
Quem a acusa vê numa carta recebida da mãe, em 2006, uma motivação: "Estamos cansados dos seus destemperos, se você sofre de agressividade compulsiva, procure um tratamento", escreveu Maria Villela à filha.
Adriana admite os conflitos com a mãe. "A gente discutia, mas se amava." E também suas diferenças ideológicas com o pai. "Ele era de direita, votávamos em candidatos diferentes, mas isso não nos torna inimigos."
Para desgosto dos pais, a primogênita nunca quis fazer direito nem entrar para o serviço público. É vegetariana, fez mestrado em economia solidária e morou em Alto Paraíso, em Goiás, destino de alternativos e esotéricos, onde é conhecida por Turyna.

HERANÇA
Há anos Adriana tenta viabilizar um projeto de arte e inclusão social com base em reciclagem de vidro. "Sou artista, revolucionária, não sou apegada a dinheiro".
Ela recebia uma mesada de R$ 8.500 por mês dos pais.
Em uma carta à mãe, em 23 de março de 2007, Adriana classifica a dependência como "forma de vergonha". Os pais lhe presentearam com um misto de casa e ateliê no Lago Sul de Brasília.
Os bens dos casal estão avaliados em R$ 50 milhões. "Desfrutávamos do dinheiro deles." Ela, a filha Carolina, 26, e o irmão, Augusto, 42.
Aos 19 anos, Adriana estava grávida de um mês quando perdeu o marido em um acidente. "Meus pais assumiram a criação da minha filha. Nunca me preocupei com o que ela ia comer, com nada."


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