São Paulo, sábado, 13 de janeiro de 2001

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Juiz autoriza "carrocinha light"

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Funcionários do Centro de Controle de Zoonoses voltaram ontem a usar o cambão, cabo com um laço na ponta empregado para capturar e imobilizar cães e gatos. No dia 28 de dezembro, uma liminar da Fazenda Pública de São Paulo tinha proibido o emprego desse instrumento ou "qualquer outro semelhante", por causa de seu uso violento e do sofrimento provocado nos animais.
Diante dos termos da liminar, o novo diretor do centro, Fernando de Azevedo Corrêa, suspendeu o recolhimento e manejo dos animais. Na última quinta-feira, o juiz Olavo Sá Pereira da Silva reconsiderou parcialmente a liminar, permitindo o emprego do cambão -desde que sem violência, "principalmente contra os animais de pequeno porte".
O centro, no entanto, está se limitando a capturas solicitadas pela população, entre 10 a 20 por dia, pois o uso da câmara de descompressão -que mata os cães por asfixia- continua proibido pela liminar.
A alternativa, proposta e já testada pelo Fórum Nacional de Proteção e Defesa dos Animais, é o emprego da eutanásia por injeção, que não provocaria sofrimento. O novo diretor diz que adotará essa prática, mas terá que contar com maior número de funcionários. No ano passado, segundo o centro, foram sacrificados 19.328 animais.
A proposta do fórum, apresentada ainda na administração passada, prevê -além da eutanásia- outros três módulos: educação da população, castração dos animais e campanhas de adoção e de "posse responsável".
A liminar do juiz impedindo maus-tratos aos animais foi concedida diante de um vasto dossiê com 235 documentos apresentado pelo fórum. "As fotos mostram cães com a boca estourada, levantados pelo cambão com violência, chutados, depois jogados em canis imundos, até o momento da morte agônica, por asfixia", diz Viviane Benini Cabral, diretora jurídica do fórum.
Além de oferecer os medicamentos para a eutanásia por um período, o fórum desenvolveu cambões protegidos com borracha, de forma que os cães não sejam feridos na boca.
As várias entidades que fazem parte do fórum vêm há anos tentando mostrar que o risco da raiva se combate com prevenção -vacinação e castração-, não com a captura e matança indiscriminada dos animais. A violência de parte dos funcionários e o "terror" representado pela "carrocinha" não reduziram o número de cães abandonados, dizem representantes dessas entidades.
O fórum também chama a atenção para a precariedade e falta de higiene dos canis, "com baratas e moscas" e esgotos entupidos. Também critica o fato de não ter sido ouvido para a escolha do novo diretor do centro de Zoonoses.




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