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Geração "Big Brother" é vigiada do ultra-som ao GPS
A tecnologia permite que filhos vivam sob monitoramento constante dos pais
Especialistas vêem prejuízo para a relação entre pais e filhos; empresas de segurança comemoram procura maior por câmeras
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A tecnologia tem permitido
que filhos vivam sob permanente monitoramento dos pais.
Do ultra-som 3D do bebê no
útero às câmeras on-line nas
maternidades e escolas infantis
até a instalação de GPS no celular e no carro de adolescentes, a
vigilância pode ser constante.
Em São Paulo, pais de crianças pequenas integraram mais
um item à cadeia de monitoramento eletrônico: estão instalando câmeras em casa para vigiar seus filhos enquanto trabalham fora. São verdadeiros "big
brothers" domésticos.
O monitoramento é condenado por psicólogos e pedagogos, que vêem prejuízo na relação de pais e filhos. "É uma loucura", define a psicóloga Ana
Bahia Bock, professora da PUC.
Já as empresas de segurança
eletrônica comemoram. Algumas registram aumento de
250% de instalações de câmeras no interior de casas. Uma
delas instalou 500 aparelhos
em 2007, 300 a mais do que em
2006. "Na maioria dos casos, os
pais têm crianças pequenas,
instalam câmeras nos ambientes e avisam a babá sobre o monitoramento", diz Thiago Títero, dono da empresa. O custo
médio para instalar quatro câmeras varia de R$ 160 (locação
mensal) a R$ 2.200 (compra).
Alguns pais dizem que usam
as câmeras para se sentir "mais
perto" dos filhos, ainda que virtualmente. "Trabalho 12 horas
por dia e viajo muito. Adoro
acompanhar a hora do banho
do Dudu. É uma festa!", diz André Serpa, 29, pai de Eduardo, 1.
Funcionário da Microsoft,
Serpa pôs quatro câmeras em
casa. Assim, vigia as estripulias
do filho e as distrações da babá.
Um dia, chamou a atenção dela
porque o filho foi à cozinha, o
que ele acha perigoso.
A analista de sistemas Gislaine Ferreira Lima Verri, 31, diz
que, com as câmeras, evitou situações perigosas envolvendo a
filha Amanda, 1. "Ela quase derrubou o videocassete na sala
enquanto a babá estava lavando
roupa na área de serviço."
Educadores e psicólogos avaliam que o monitoramento eletrônico dos filhos reflete uma
falta de confiança no outro e
pode comprometer a educação
dos filhos na busca de autonomia. "Há aquela idéia de que o
outro é sempre uma ameaça",
diz a psicóloga Rosely Sayão,
colunista da Folha.
Segundo ela, vigiar o filho
com câmeras pode levar o indivíduo a se relacionar apenas
com o olho mágico e não estabelecer relação pessoal. "Isso
compromete a imagem de pai e
de mãe que a criança tem."
Ela também discorda das câmeras nas escolas. "É ainda
pior. Significa que os pais não
delegam a educação para a escola, não deixam os filhos se
tornarem alunos."
A psicóloga Ana Bahia Bock,
professora da PUC-SP, avalia
que a sociedade atual procura se adaptar ao isolamento e à falta de apoio
social. "Por outro lado, a tecnologia
avança na possibilidade de monitoramento, de
invasão da vida do outro. Isso é
muito ruim, uma loucura."
Segundo Bock, a tecnologia
poderá prejudicar a relação
entre pais e filhos. "Há
uma invasão na vida do
filho. Tudo o que é
meu terá de ser escondido porque senão meus pais
me vêem pela
câmera ou saberão onde
estou pelo
GPS."
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