São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
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PASQUALE CIPRO NETO Aposto sempre vem entre vírgulas?
NA SEMANA PASSADA, vimos mais uma das tantas bizarrices presentes nos títulos jornalísticos. O mote da coluna foi esta frase (legenda de uma foto de um site): "Trânsito congestionado na rodovia dos Tamoios, na descida da serra do Mar, na noite desta quarta-feira, estrada que leva a Caraguatatuba". Como vimos, a interpretação literal da frase nos faz concluir que a expressão "a noite desta quarta-feira" nomeia uma estrada (que leva a Caraguatatuba). Terminei a coluna com estas palavras: "O assunto talvez comporte outro capítulo (que deve passar por uma conversa sobre o papel do aposto)". Pois então vamos a essa conversa, que, obviamente, começará pelo papel do aposto, termo que... Termo que o quê, caro leitor? Que sempre vem entre vírgulas? Pois essa (a que vincula o aposto às vírgulas) é só uma das tantas más explicações e definições que se dão sobre o pobre do aposto. Para começar, nem todo aposto vem entre vírgulas, e, mesmo que isso fosse verdade, ou seja, mesmo que todo aposto viesse entre vírgulas, isso não daria a ninguém o direito de achar que tudo que está entre vírgulas é aposto. Isso seria o mesmo que achar que, se todo grego é europeu, então todo europeu é grego... Posto isso, caro leitor, cumpre deixar claro que não acabo de afirmar que o aposto nunca vem entre vírgulas... Pois bem. Agora talvez seja conveniente recordar uma das tantas definições de "aposto": "Palavra ou expressão, geralmente isolada por vírgulas ou equivalente (parênteses ou travessão), que se acrescenta a um termo de uma frase para explicá-lo, restringi-lo ou qualificá-lo" (do "iDicionário Aulete"). Os casos clássicos de aposto se enquadram nessa definição do "Aulete" eletrônico, como se vê neste exemplo: "O transporte coletivo de São Paulo, a mais rica cidade do Brasil, é de péssima qualidade". O aposto, no caso, é "a mais rica cidade do Brasil", expressão que se refere a "São Paulo". Agora tente reescrever a frase, caro leitor, sem que o aposto seja contíguo a "São Paulo". É possível? Vejamos: "O transporte coletivo de São Paulo é de péssima qualidade, a mais rica cidade do Brasil". Que tal? Impossível, não? É bom lembrar que "aposto" vem de "apor" ("pôr junto ou sobre", "colocar algo como acréscimo"). Se preciso, volte ao começo deste texto e releia a legenda da foto comentada na semana passada. Uma das razões de a frase ser bizarra é justamente o fato de a expressão "estrada que leva a Caraguatatuba" vir depois de "na noite desta quarta-feira" e não de "rodovia dos Tamoios", termo do qual a expressão "estrada que..." é aposto. E a história das vírgulas? Recorramos mais uma vez ao "iDicionário Aulete" (a versão eletrônica do "Aulete"). A continuação da explicação de "aposto" é esta: "Quando o aposto especifica um termo de sentido amplo (rio, mês etc.) não fica entre vírgulas: o rio Amazonas, o mês de maio". Pois é isso mesmo, caríssimo leitor! Em "O rio Amazonas é um dos maiores...", "Amazonas" é aposto de "rio", assim como em "É magnífica a obra do poeta Vinicius de Moraes" o termo "Vinicius de Moraes" é aposto de "poeta". O caro leitor pode concluir que, numa construção como "A cidade de Franco da Rocha está debaixo d'água", a expressão "de Franco da Rocha" é aposto de "cidade". Definitivamente, esqueça essa história de que o aposto sempre vem entre vírgulas, mas lembre que o aposto sempre vem junto do termo que explica, qualifica, restringe etc. É isso. inculta@uol.com.br Texto Anterior: 271 MORTOS (e vai aumentar) Próximo Texto: Trânsito: Avenida Giovanni Gronchi tem interdição parcial para obras Índice | Comunicar Erros |
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