São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

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Professor simula suicídio de sua mulher

Mais de um ano após enganar a polícia, Claudemir Nogueira confessa ter enforcado companheira dentro de casa

Por ter endereço fixo, bons antecedentes, trabalhar e não oferecer riscos à investigação ele não está na prisão


ANDRÉ CARAMANTE
DE SÃO PAULO

O professor Claudemir Nogueira, 45, saiu de casa normalmente na manhã de 23 de outubro de 2009. Da rua, Mica, como é chamado pelos alunos, ligou várias vezes para sua mulher, a fisioterapeuta do Sesi Mônica El Khouri, 37, mas não foi atendido.
Mica também mandou mensagens de texto para o celular de Mônica e, sem retorno, não saiu da rotina de aulas nos colégios Passionista Santa Luzia, em Pinheiros, zona oeste, onde aplicou prova aos alunos, e Rui Bloem, zona sul, um dos melhores públicos de São Paulo.
Foi a mãe da fisioterapeuta quem, por volta da hora do almoço daquela sexta, ligou em pânico para o professor para anunciar: havia achado Mônica morta, na casa onde o casal vivia no Planalto Paulista, zona sul da cidade.
O corpo da fisioterapeuta do Sesi, que era professora de educação física e foi seguir nova profissão após um irmão sofrer um acidente e precisar de tratamento especializado, estava ao lado de um aparelho de musculação.
Mica simulou surpresa e desespero com a tragédia. Num primeiro momento, policiais civis do 16º DP, da Vila Clementino, concluíram o caso como "morte suspeita". Também cogitaram a hipótese de suicídio, o que causou indignação dos parentes.
Um mês após a morte de Mônica, a investigação seguiu para a equipe C-Sul do DHPP, o departamento de homicídios da Polícia Civil, onde a família de Mônica teve a oportunidade de contribuir para elucidar o caso.
Ao cumprir a regra básica de qualquer apuração -traçar o perfil detalhado da vítima para saber quem teria interesse na sua morte, possíveis motivações-, tudo começou a se encaixar.
O DHPP descobriu que Mica, pouco tempo após a morte da mulher, se dedicou para obter a pensão de R$ 2.500 do Sesi, onde ela trabalhava.
Como estratégia, os policiais marcaram uma conversa com Mica em sua casa.
No dia do encontro, 20 de abril de 2010, eles foram surpreendidos com a notícia de que Mica sofrera uma tentativa de roubo e sido esfaqueado três vezes na barriga.
Os policiais investigaram o roubo e descobriram que Mica mentiu. Ele mesmo havia se ferido à faca para não receber a polícia em sua casa.
Chamado para depor sobre a morte de Mônica em 14 de dezembro, Mica surpreendeu os policiais e parentes da fisioterapeuta ao confessar que a matou enforcada.

ALEGAÇÕES
Para tentar se justificar, Mica disse à polícia que Mônica sofria de depressão e que essa tristeza tinha como causas possíveis "dificuldades financeiras" e "uma tendência da fisioterapeuta em assimilar o sofrimento dos pacientes que atendia".
O professor disse que resolveu confessar o crime porque "pensava em Mônica todos os dias e ainda a amava".
Minutos antes do crime, Mica fez uma massagem relaxante em Mônica. Ao perceber que ela havia adormecido, de bruços, ele a enforcou com um corda de varal.
Mica disse ter pego o corpo de Mônica e, para simular um suicídio, o levou até o aparelho multifuncional de musculação da casa.
Para simular não saber de nada, a caminho do trabalho, Mica fez várias ligações atrás da mulher e também mandou mensagens de texto em seu telefone celular.
Depois de detalhar a morte de Mônica, Mica foi embora pela porta da frente do DHPP, livre como entrou.
A lei não prevê a prisão em situações como a que ele admitiu ter cometido. Mica tem endereço fixo, bons antecedentes, trabalha e não oferece mais riscos à investigação.
Dia 17 de dezembro, na reprodução simulada do assassinato, Mica chorou quando repetiu como pegou a corda de varal e a enforcou.


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