São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 2000


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Superbacilos enfrentam terapia

especial para a Folha


A tuberculose é uma doença milenar. O bacilo causador da doença já foi encontrado em múmias egípcias. Porém, nos últimos anos, a infecção está adquirindo uma nova face. Começam a surgir bacilos multirresistentes, ou seja, que não respondem bem ao tratamento convencional.
A primeira droga contra a tuberculose, a estreptomicina, foi descoberta em 1946. Na década de 50, outras drogas foram pesquisadas e surgiram as primeiras combinações de remédios. Naquela época, acreditava-se que o fim da doença estaria próximo.
"Infelizmente as pesquisas de novas drogas estão muito atrasadas", afirma o chefe do ambulatório de tuberculose do Hospital das Clínicas de São Paulo, Olavo Henrique Munhoz Leite.
Ele estima que as infecções por bacilos multirresistentes cheguem a 3% dos casos de tuberculose recém-diagnosticados. "Isso tem um impacto individual muito sério sobre os pacientes HIV positivos", diz.
No curso do tratamento, uma infecção comum pode virar multirresistente, principalmente se o paciente não toma os remédios ou desiste do tratamento.
Para o infectologista David Uip, diretor da Casa da Aids de São Paulo, o maior problema no tratamento da tuberculose é a falta de adesão do paciente.
O tratamento para tuberculose é longo. Dura seis meses nos pacientes regulares e entre 9 e 12 meses nos pacientes com alguma imunodeficiência (Aids, tratamento contra rejeição de órgãos transplantados, entre outras).
O paciente deve tomar vários comprimidos por dia. Alguns remédios provocam intolerância gástrica (náuseas e vômitos) e podem, raramente, causar hepatite medicamentosa.
Além disso, após algumas semanas de tratamento, os sintomas desaparecem, apesar de a doença ainda não estar curada.
Esses motivos levam muitos pacientes a desistir do tratamento antes do tempo previsto.
Se o paciente interrompe o tratamento ou toma os remédios incorretamente, o pulmão não é esterilizado.Ou seja, sobram bacilos capazes de manter a infecção.
A cada desistência ou tomada incorreta, mais bacilos resistentes são selecionados, até surgir a resistência a mais de um remédio, a multirresistência, de difícil tratamento e controle.
A tuberculose sempre esteve associada à pobreza, porque acomete mais pessoas desnutridas. No entanto, Uip afirma que "pacientes de classe média ou alta com tuberculose são frequentemente encontrados em consultório particular de infectologia".
Uip diz que medidas de prevenção da doença são de difícil execução. "O mais importante é estabelecer programas de educação da população, para que não abandone o tratamento."


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