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Cabral defende a descriminalização das drogas e a redução da maioridade penal
DA SUCURSAL DO RIO
O governador do Rio, Sérgio
Cabral (PMDB), defendeu ontem que não seja mais crime o
consumo de drogas hoje ilícitas. "Essa equação [a ilegalidade] está matando muita gente
no Terceiro Mundo", disse.
Reafirmou as propostas de
diminuir -só em certos casos-
a maioridade penal e de permitir que os Estados tenham legislações penais próprias.
Para sugerir uma "imensa reforma constitucional e nas leis
ordinárias", anunciou que na
quarta vai ao Congresso para
levar essas três propostas aos
presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT) e do Senado,
Renan Calheiros (PMDB).
No mesmo dia ele deve estar
com o presidente Lula e a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), em uma reunião sobre o
Pan-Americano. É possível que
introduza o tema da segurança.
As afirmações de Cabral
ocorrem no contexto de comoção pública pelo assassinato no
Rio, de um menino de seis anos.
O governador se pronunciou
sobre drogas pouco antes de
participar de um seminário sobre segurança promovido no
Rio pelo "Jornal do Brasil".
"Porque hoje, se colocar o
custo-benefício do fato de as
drogas serem ilegais, quantas
pessoas morrem por isso?
Quantas sofrem por isso?".
Ele afirmou desconhecer que
substâncias seriam liberadas.
Dependeria de "cientistas e
profissionais da saúde".
O centro do discurso -técnico e político- de Cabral é o fim
da legislação penal única para o
país, expressa no "Código Penal". Cada Assembléia definiria
as penas do Estado. Temas relevantes seriam decididos pelos eleitores em plebiscitos.
Exemplo: um Estado poderia
ter prisão perpétua; outro, não.
"Se esse crime [a morte do
menino João Hélio] tivesse
ocorrido nos EUA, haveria 50
entendimentos legais diferentes", disse Cabral. "São 50 Estados americanos. Cada um tem a
sua autonomia legislativa."
"A autonomia vai melhorar a
legislação penal, ambiental, de
trânsito. Não é possível que o
Congresso concentre tanto poder e que Estados tão díspares
tenham a mesma legislação."
Entre as vantagens estaria a celeridade legislativa dos Estados
contra a letargia do Congresso.
Afirmou que "corrigir rumo em
Brasília é uma encrenca, uma
dificuldade [...] Tem que rever o
pacto federativo".
Além da autonomia, outro
item da agenda de Cabral exige
recorrer ao Congresso: a redução de maioria penal. Ela ocorreria com a declaração pela
Justiça de emancipação do menor de idade, a pedido do Ministério Público.
A requisição seria feita a depender da gravidade do crime.
Com a emancipação, o adolescente responderia com base na
legislação destinada a cidadãos
a partir de 18 anos. Cabral não
informou qual idade mínima
deseja para a maioridade.
O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), disse
ontem que as propostas de Cabral são uma "bobagem".
Já o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), disse ontem "topar" o debate em torno
da proposta de dar aos Estados
autonomia para discutir sobre
legislação penal.
Das três propostas do
governador Sérgio Cabral,
duas exigem reforma da
Constituição e uma de legislação ordinária, segundo a Procuradoria Geral de
Justiça do Rio.
Para que os Estados tenham legislação penal
própria, é preciso mudança constitucional -assim
como reduzir a maioridade penal.
Para isso, são precisos
duas votações em cada Casa do Congresso, com a
aprovação de dois terços
dos parlamentares em cada uma delas.
De acordo com a Procuradoria, como a lei sobre
entorpecentes é definida
por lei específica, bastaria
mudar a lei.
Nesse caso, o trâmite é
mais simples: uma votação
em cada uma das Casas,
com maioria simples dos
votos, desde que atingido o
quórum mínimo.
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