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Para chanceler, há evidências de xenofobia
Celso Amorim pediu rapidez à Suíça na investigação do caso da brasileira que sofreu cerca de 100 cortes por canivete
A advogada, que mora legalmente no país, estava grávida de gêmeos, no terceiro mês de gestação; ela perdeu os bebês
Patrick B. Kraemer/AP Photo
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A estação de Stettbach, próxima a Zurique, na Suíça, onde a polícia local encontrou a brasileira
SOFIA FERNANDES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
MALU DELGADO
ENVIADA ESPECIAL A ZURIQUE
O chanceler Celso Amorim
disse ontem que há claras evidências de xenofobia na agressão contra a advogada brasileira Paula Oliveira, 26, na Suíça.
"A moça não foi assaltada,
aparentemente não houve estupro. Não que essas outras
coisas diminuíssem o caso, apenas denotam outra motivação."
O ministro das Relações Exteriores telefonou para a cônsul-geral do Brasil na Suíça, Vitória Cleaver, pedindo que exija
rapidez na investigação -nos
meios diplomáticos, isso só
ocorre em casos excepcionais.
Paula diz ter sido espancada
e cortada com canivetes na segunda à noite em Dübendorf
por três rapazes carecas, que
ostentavam suásticas tatuadas.
A advogada, que mora legalmente no país, estava grávida
de gêmeos, no terceiro mês de
gestação. Ela perdeu os bebês e
agora carrega cerca de cem
marcas pelo corpo, de acordo
com o pai da vítima, o assessor
parlamentar Paulo Oliveira.
Nas pernas, os cortes formam a sigla SVP, iniciais em
alemão do Partido Popular Suíço, de direita, contrário à presença de imigrantes no país.
Nos últimos anos, o SVP promoveu uma série de propagandas racistas. Em uma delas,
ovelhas brancas chutavam para
fora do mapa da Suíça ovelhas
negras. Em outra, o partido
afirma que o aumento da criminalidade na Suíça ocorreu por
causa da imigração.
Grave e chocante
Amorim, que considerou o
crime "grave" e "chocante", disse que, caso fique provado que a
agressão teve motivação xenofóbica, o crime ganha proporções muito mais graves.
Constatada a xenofobia, o Alto Comissariado das Nações
Unidas para Direitos Humanos
pode entrar no caso, no sentido
de pressionar a Suíça a endurecer a repressão a esse tipo de
ato. "É preciso que fique claro
que haverá uma investigação
em todos os aspectos", afirmou.
Vitória Cleaver afirmou que
autoridades policiais que conduzem as investigações do caso
disseram ontem que já há uma
lista de "testemunhas indiretas" que serão ouvidas, pois
Paula estava sozinha na estação
de trem no momento em que
foi abordada. "A polícia tem
cooperado. A conversa inicial
não foi muito satisfatória. Mas
hoje o nível da conversa foi elevado", disse à Folha. A polícia suíça, relatou Vitória, enfatizou que conduzirá o
caso com extremo sigilo, sobretudo para proteção de Paula e
seus familiares. No entanto
mostra-se disposta a concluir
as investigações, disse a cônsul.
"Vamos insistir exaustivamente nisso", reiterou ela.
O encarregado de negócios
da Embaixada da Suíça, Claude
Crottaz, disse, antes mesmo de
ser questionado sobre a motivação da agressão, que o país
condena todo tipo de racismo.
Segundo ele, as investigações
estão sendo conduzidas e ainda
não há nenhuma conclusão,
mas, caso seja constatado racismo, o episódio "não deve ser
julgado de forma leve". "Isso é
muito grave", disse Crottaz,
que aceitou ontem o convite do
Itamaraty para conversar sobre o caso.
O presidente da Comissão de
Relações Exteriores da Câmara, deputado Marcondes Gadelha (PSB-PB), entregou pessoalmente ontem um protesto
à embaixada.
O deputado se diz muito surpreso com o comportamento
da polícia suíça e do pouco caso
que a imprensa europeia tem
dado ao assunto.
Crottaz, que está substituindo o embaixador enquanto este
faz uma viagem, pediu ao deputado que não enxergue o país
como xenofóbico, já que 25%
(cerca de 1,5 milhão) da sua população é de imigrantes.
Não negou, contudo, a ação
preocupante de grupos neonazistas, e disse que até os suíços
partidários de uma maior abertura do país a imigrantes sofrem agressões.
"Não vamos deixar essa coisa
barato", disse o deputado, dizendo estar receoso de que a
Europa passe a tratar esses casos como corriqueiros.
Gadelha aproveitou a visita à
embaixada para pedir que o
Partido Popular, que ocupa
40% do parlamento suíço, se
pronuncie sobre o caso.
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