São Paulo, sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

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Traficante diz que pagou para não ser preso

Ramón Manuel Yepes Penagos disse que entregou cerca de US$ 300 mil a policiais do Denarc; secretaria não comenta

Em depoimento informal à PF, colombiano disse que o megatraficante Juan Carlos Abadía tinha 70 milhões escondidos no Brasil

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O traficante colombiano Ramón Manuel Yepes Penagos, que ficou preso por nove meses em São Paulo como se fosse mineiro, disse em depoimento informal à Polícia Federal que pagou cerca de US$ 300 mil (R$ 687 mil) a policiais da 2ª delegacia do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos) para não ser preso.
Yepes disse que os dois flagrantes de ecstasy que a polícia paulista fez dele -um com seis comprimidos e outro com 80- foram forjados.
O colombiano disse aos delegados que nunca se envolveu com ecstasy. Frisou que seria ridículo um traficante que foi apanhado com duas toneladas de cocaína na Espanha se envolver com o varejo do tráfico.
Yepes contou ter sofrido uma série de extorsões. Numa delas, disse que o porteiro do seu prédio, no Itaim Bibi, zona sul, viu policiais civis entrarem no seu apartamento sem mandato judicial. No processo judicial, o porteiro confirmou a visita.
O colombiano diz ter sido preso em São Paulo numa disputa entre policiais do Denarc e do Deic (a polícia encarregada de combater o crime organizado). Afirmou que só foi para a prisão porque se recusou a dar mais R$ 2 milhões para um grupo de policiais. Contou que não tinha recursos depois de entregar cerca de US$ 300 mil para não ser preso.
A Secretaria da Segurança não quis comentar as supostas extorsões de dinheiro praticadas por policiais civis.
Yepes é considerado pela polícia da Colômbia e pelo DEA (a polícia antidrogas dos Estados Unidos) como um homem de confiança de Juan Carlos Ramírez Abadía, encarregado de cuidar do dinheiro do megatraficante. É procurado pela polícia dos EUA, da Colômbia, Espanha e Alemanha, de onde fugiu há cerca de oito anos.
O traficante diz que conseguiu nas imediações da praça da Sé (região central) uma carteira de identidade em que aparece como Manoel Oliveira Ortiz, nascido em Borda da Mata (MG). Ao juiz que o interrogou quando foi preso, disse que ganhou o sotaque espanhol porque foi viver ainda criança no México. Em vez de buscar conferir a informação, o juiz perguntou a ele por que não tinha dupla cidadania, segundo relato de Yepes à Polícia Federal. Ele respondeu que era porque gostava muito do Brasil.
Yepes guardava o dinheiro de Abadía, preso em agosto de 2007 e um ano depois extraditado para os EUA. Lá, ele é acusado de tráfico, de homicídios e de lavagem de dinheiro.
O traficante disse que Abadía manteve no Brasil 70 milhões (R$ 206,5 milhões pela cotação atual) em dinheiro vivo. A PF dizia que eram US$ 100 milhões (R$ 229 milhões).
O dinheiro, segundo o colombiano, ficou escondido na carroceria de uma caminhonete estacionada num prédio na região dos Jardins (zona oeste). A PF tinha informações de que o dinheiro ficara escondido num veículo, mas nunca conseguiu encontrá-lo.
Abadía retirou os 70 milhões do Brasil da mesma maneira que introduziu o dinheiro: homens de sua confiança voaram de São Paulo para a Colômbia com cerca de 1,4 milhão cada um escondido na cintura, segundo o relato feito por Yepes à Polícia Federal.
Dois desses homens foram apanhados pela polícia colombiana com o dinheiro, ainda de acordo com Yepes.
O colombiano está preso no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros (zona oeste) e negocia um acordo de delação premiada com a PF.


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