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Traficante diz que pagou para não ser preso
Ramón Manuel Yepes Penagos disse que entregou cerca de US$ 300 mil a policiais do Denarc; secretaria não comenta
Em depoimento informal à PF, colombiano disse que o megatraficante Juan Carlos Abadía tinha 70 milhões escondidos no Brasil
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O traficante colombiano Ramón Manuel Yepes Penagos,
que ficou preso por nove meses
em São Paulo como se fosse mineiro, disse em depoimento informal à Polícia Federal que pagou cerca de US$ 300 mil (R$
687 mil) a policiais da 2ª delegacia do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos) para não ser preso.
Yepes disse que os dois flagrantes de ecstasy que a polícia
paulista fez dele -um com seis
comprimidos e outro com 80-
foram forjados.
O colombiano disse aos delegados que nunca se envolveu
com ecstasy. Frisou que seria
ridículo um traficante que foi
apanhado com duas toneladas
de cocaína na Espanha se envolver com o varejo do tráfico.
Yepes contou ter sofrido uma
série de extorsões. Numa delas,
disse que o porteiro do seu prédio, no Itaim Bibi, zona sul, viu
policiais civis entrarem no seu
apartamento sem mandato judicial. No processo judicial, o
porteiro confirmou a visita.
O colombiano diz ter sido
preso em São Paulo numa disputa entre policiais do Denarc e
do Deic (a polícia encarregada
de combater o crime organizado). Afirmou que só foi para a
prisão porque se recusou a dar
mais R$ 2 milhões para um grupo de policiais. Contou que não
tinha recursos depois de entregar cerca de US$ 300 mil para
não ser preso.
A Secretaria da Segurança
não quis comentar as supostas
extorsões de dinheiro praticadas por policiais civis.
Yepes é considerado pela polícia da Colômbia e pelo DEA (a
polícia antidrogas dos Estados
Unidos) como um homem de
confiança de Juan Carlos Ramírez Abadía, encarregado de
cuidar do dinheiro do megatraficante. É procurado pela polícia dos EUA, da Colômbia, Espanha e Alemanha, de onde fugiu há cerca de oito anos.
O traficante diz que conseguiu nas imediações da praça
da Sé (região central) uma carteira de identidade em que aparece como Manoel Oliveira Ortiz, nascido em Borda da Mata
(MG). Ao juiz que o interrogou
quando foi preso, disse que ganhou o sotaque espanhol porque foi viver ainda criança no
México. Em vez de buscar conferir a informação, o juiz perguntou a ele por que não tinha
dupla cidadania, segundo relato de Yepes à Polícia Federal.
Ele respondeu que era porque
gostava muito do Brasil.
Yepes guardava o dinheiro de
Abadía, preso em agosto de
2007 e um ano depois extraditado para os EUA. Lá, ele é acusado de tráfico, de homicídios e
de lavagem de dinheiro.
O traficante disse que Abadía
manteve no Brasil 70 milhões
(R$ 206,5 milhões pela cotação
atual) em dinheiro vivo. A PF
dizia que eram US$ 100 milhões (R$ 229 milhões).
O dinheiro, segundo o colombiano, ficou escondido na
carroceria de uma caminhonete estacionada num prédio na
região dos Jardins (zona oeste). A PF tinha informações de
que o dinheiro ficara escondido
num veículo, mas nunca conseguiu encontrá-lo.
Abadía retirou os 70 milhões do Brasil da mesma maneira que introduziu o dinheiro: homens de sua confiança
voaram de São Paulo para a Colômbia com cerca de 1,4 milhão cada um escondido na cintura, segundo o relato feito por
Yepes à Polícia Federal.
Dois desses homens foram
apanhados pela polícia colombiana com o dinheiro, ainda de
acordo com Yepes.
O colombiano está preso no
Centro de Detenção Provisória
de Pinheiros (zona oeste) e negocia um acordo de delação
premiada com a PF.
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