São Paulo, sábado, 13 de março de 2004

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ABASTECIMENTO

Plano para a Grande SP abandona grandes obras e prevê investir 15,3% menos do que o realizado entre 1995 e 2002

Sabesp reduz gasto com água até 2025

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Para conseguir atender à demanda por água da Grande São Paulo nos próximos 20 anos, com a folga para evitar crises como as que a região enfrenta desde o início da década, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) prevê gastar R$ 2,2 bilhões em aumentos na produção, na capacidade de reservação e na rede que leva a água das represas às torneiras.
O montante, que não inclui os gastos com manutenção da rede, é 15,3% menor do que os R$ 2,6 bilhões que a empresa investiu em água na região metropolitana entre 1995 e 2002, quando teve de superar um rodízio permanente que afetou 10 milhões de pessoas.
Os gastos futuros acabaram ficando abaixo do que esperavam especialistas do setor porque obras bilionárias de busca de novos mananciais, inicialmente previstas, foram descartadas a priori.
Foi o que ocorreu, por exemplo, com as alternativas de trazer água da bacia do rio Paraíba do Sul e da região de Iguape, no litoral sul paulista. Além de custarem mais de R$ 1 bilhão cada uma, elas envolveriam complicações como disputar água com outros Estados e contrariar ambientalistas.

Aumento da oferta
A previsão é que os R$ 2,2 bilhões sejam suficientes para aumentar a oferta atual de água (de 66,1 mil litros por segundo) em até 18,3 mil litros por segundo, 4% a mais do que a máxima demanda esperada para o ano de 2025.
Num cenário pessimista, no qual as perdas se mantenham em 30% do produzido (sendo 15% perdas físicas e 15% roubo de água), só o consumo em órgãos públicos caia 20% e não haja aumento nem no reúso nem na tarifa (como forma de forçar o uso racional), a perspectiva é que, daqui a 20 anos, o consumo médio pule para 81 mil litros por segundo.
Num cenário otimista, em que, além da redução no consumo público, haja uma economia de 2% no residencial, as perdas caiam, o reúso aumente e a tarifa seja usada para conter o gasto, a demanda média seria bem menor: 70 mil litros por segundo. O volume de água economizado por segundo, 11 mil litros, seria suficiente para abastecer cerca de 3 milhões de pessoas -pouco mais que a população de Salvador (BA).
As informações constam do Plano Diretor de Abastecimento de Água da Sabesp, a que a Folha teve acesso exclusivo. Ele vem sendo escrito desde 2002 e deve ser publicado até meados do ano.
O crescimento da população da Grande São Paulo, de 18 milhões de pessoas para 22,5 milhões em 2025, quando se estabilizaria, é projetado a partir da fecundidade, da mortalidade e da migração.

Gastos enxutos agradam
A previsão de gastos mais enxuta agradou à maioria dos especialistas e ambientalistas ouvidos pela Folha, os quais temiam que a Sabesp sucumbisse ao lobby das empreiteiras. Dos entrevistados, apenas a Prefeitura de São Paulo, que disputa o controle do saneamento na capital com a empresa, critica a falta de investimentos.
Por ordem de prioridade e conforme a evolução da demanda, a Sabesp prevê inicialmente o melhor aproveitamento do bombeamento do rio Taquaçetuba (um dos formadores da represa Billings, na zona sul de SP) para o sistema Guarapiranga, aumentando a sua produção em 1.700 l/s.
O segundo passo seria aumentar a produção no sistema Alto Tietê em 5.600 l/s -o que deverá ser conseguido com a implantação das barragens de Biritiba-Mirim e Paraitinga, já autorizadas pela Justiça, e o aprofundamento da barragem de Taiaçupeba (todas na Grande São Paulo).
Em seguida, viria o aproveitamento do rio Pequeno, um outro formador da Billings, que pode fornecer mais 2.200 l/s para o sistema Rio Grande. Só depois de usar os mananciais mais próximos, a Sabesp prevê partir para os rios Juquiá e Juquitiba, que ficam na divisa entre a Grande São Paulo e o litoral sul paulista. Eles podem fornecer mais 4.700 l/s.
Se a demanda continuar crescendo, serão aproveitados os rios Itapanhaú e Itatinga, com mais 2.800 l/ s e 2.100 l/s, respectivamente, para o sistema Alto Tietê.
Nos dois últimos casos, no entanto, os rios estão em áreas protegidas. A alternativa de fazer represas menores e, portanto, desmatar menos e afetar menos a fauna da região, implicaria maiores gastos e custos com energia.


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