São Paulo, sábado, 13 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RIO

Ato ocorreu após 2 mortes em incursão policial no conjunto Fumacê; polícia alega que houve reação, mas moradores negam

Protesto fecha avenida por 90 minutos

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Moradores do conjunto Fumacê (Realengo, zona oeste do Rio) incendiaram um caminhão e fecharam as duas pistas da avenida Brasil, uma das mais movimentadas do Rio, por cerca de uma hora e meia na madrugada de ontem.
A ação foi em protesto contra uma operação da PM na noite de quinta-feira que resultou na morte de dois homens. Um adolescente de 14 anos foi atingido de raspão na perna por uma bala perdida. Em nove dias, 16 pessoas morreram em operações da polícia em favelas do Rio.
Os mortos são Denílson Liodério Amorim, 23, que era pára-quedista do Exército, e Daniel Santiago Soares, 28.
Para a PM, os dois seriam traficantes. Já a Polícia Civil confirmou que Soares tinha ligação com o tráfico, mas vai apurar o suposto envolvimento da outra vítima. Os moradores do Fumacê, no entanto, negam que os dois tivessem participação no tráfico de drogas.
Revoltados com as mortes, os moradores invadiram duas pistas da avenida Brasil por volta da 0h15 e obrigaram Augusto Knapp, que dirigia um caminhão, a deixar o veículo no meio de uma das pistas. Em seguida, atearam fogo no veículo. A avenida ficou fechada entre 0h15 e 2h. Knapp afirmou que, entre os manifestantes, havia pessoas armadas.
O protesto causou pânico nos motoristas que passavam pela avenida Brasil. Alguns deles chegaram a voltar pela contramão.

Contradições
Moradores e PMs apresentaram versões diferentes para o episódio. Em depoimento na 34ª Delegacia de Polícia (Bangu, zona oeste), os policiais afirmaram que faziam uma incursão no Fumacê quando, por volta das 23h30, foram surpreendidos por um grupo de 15 homens armados que dispararam contra eles. Houve revide.
Quando o tiroteio acabou, os policiais disseram ter visto dois corpos caídos no chão. As vítimas, segundo os PMs, portavam pistolas e radiotransmissores.
Já os moradores acusaram os PMs de entrarem no conjunto atirando e afirmaram que eles pretendiam extorquir dinheiro de traficantes. Amorim, segundo testemunhas, estava em uma moto ao lado da namorada quando foi baleado na cabeça.
A irmã de Soares, Ana Paula Santiago Soares, 33, afirmou que um PM derrubou seu irmão no chão e o matou com um tiro na cabeça. Ela disse que Soares não era traficante e trabalhava como vendedor de roupas autônomo.
Segundo o titular da 33ª Delegacia de Polícia (Realengo), delegado Leonílson Ribeiro, Soares era conhecido como Danielzinho e atuava como um dos gerentes do tráfico no Fumacê, que é controlado pelo traficante Fernando Gomes da Silva, o Fernandinho Português, vinculado à facção criminosa ADA (Amigo dos Amigos).
Um adolescente de 14 anos afirmou que estava na rua quando ouviu os tiros. Uma bala atingiu de raspão uma de suas pernas.
O policiamento foi reforçado no conjunto Fumacê. No entanto, várias lojas não abriram. As duas escolas do conjunto -o Ciep Thomas Jefferson e a Escola Municipal Lima Barreto- não abriram porque os pais não levaram as crianças para a aula.


Texto Anterior: Há 50 anos: Tropas francesas avançam no Laos
Próximo Texto: Sindicato cobra ação para proteger hospitais
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.