|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RIO
Ato ocorreu após 2 mortes em incursão policial no conjunto Fumacê; polícia alega que houve reação, mas moradores negam
Protesto fecha avenida por 90 minutos
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
Moradores do conjunto Fumacê (Realengo, zona oeste do Rio)
incendiaram um caminhão e fecharam as duas pistas da avenida
Brasil, uma das mais movimentadas do Rio, por cerca de uma hora
e meia na madrugada de ontem.
A ação foi em protesto contra
uma operação da PM na noite de
quinta-feira que resultou na morte de dois homens. Um adolescente de 14 anos foi atingido de
raspão na perna por uma bala
perdida. Em nove dias, 16 pessoas
morreram em operações da polícia em favelas do Rio.
Os mortos são Denílson Liodério Amorim, 23, que era pára-quedista do Exército, e Daniel
Santiago Soares, 28.
Para a PM, os dois seriam traficantes. Já a Polícia Civil confirmou que Soares tinha ligação com
o tráfico, mas vai apurar o suposto envolvimento da outra vítima.
Os moradores do Fumacê, no entanto, negam que os dois tivessem
participação no tráfico de drogas.
Revoltados com as mortes, os
moradores invadiram duas pistas
da avenida Brasil por volta da
0h15 e obrigaram Augusto
Knapp, que dirigia um caminhão,
a deixar o veículo no meio de uma
das pistas. Em seguida, atearam
fogo no veículo. A avenida ficou
fechada entre 0h15 e 2h. Knapp
afirmou que, entre os manifestantes, havia pessoas armadas.
O protesto causou pânico nos
motoristas que passavam pela
avenida Brasil. Alguns deles chegaram a voltar pela contramão.
Contradições
Moradores e PMs apresentaram
versões diferentes para o episódio. Em depoimento na 34ª Delegacia de Polícia (Bangu, zona oeste), os policiais afirmaram que faziam uma incursão no Fumacê
quando, por volta das 23h30, foram surpreendidos por um grupo
de 15 homens armados que dispararam contra eles. Houve revide.
Quando o tiroteio acabou, os
policiais disseram ter visto dois
corpos caídos no chão. As vítimas, segundo os PMs, portavam
pistolas e radiotransmissores.
Já os moradores acusaram os
PMs de entrarem no conjunto atirando e afirmaram que eles pretendiam extorquir dinheiro de
traficantes. Amorim, segundo
testemunhas, estava em uma moto ao lado da namorada quando
foi baleado na cabeça.
A irmã de Soares, Ana Paula
Santiago Soares, 33, afirmou que
um PM derrubou seu irmão no
chão e o matou com um tiro na
cabeça. Ela disse que Soares não
era traficante e trabalhava como
vendedor de roupas autônomo.
Segundo o titular da 33ª Delegacia de Polícia (Realengo), delegado Leonílson Ribeiro, Soares era
conhecido como Danielzinho e
atuava como um dos gerentes do
tráfico no Fumacê, que é controlado pelo traficante Fernando Gomes da Silva, o Fernandinho Português, vinculado à facção criminosa ADA (Amigo dos Amigos).
Um adolescente de 14 anos afirmou que estava na rua quando
ouviu os tiros. Uma bala atingiu
de raspão uma de suas pernas.
O policiamento foi reforçado no
conjunto Fumacê. No entanto,
várias lojas não abriram. As duas
escolas do conjunto -o Ciep
Thomas Jefferson e a Escola Municipal Lima Barreto- não abriram porque os pais não levaram
as crianças para a aula.
Texto Anterior: Há 50 anos: Tropas francesas avançam no Laos Próximo Texto: Sindicato cobra ação para proteger hospitais Índice
|