São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 2006

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Edifícios desperdiçam a São Paulo vista de cima

Moacyr Lopes Junior/ Folha Imagem
Mulher faz caminhada no terraço da cobertura do edifício Copan, no centro de SP, que ainda não está preparado para receber o público


Áreas da cobertura de prédios altos no centro da cidade são mal utilizadas e existem poucas opções para os visitantes observarem a capital paulista do alto

SIMONE HARNIK
DA REPORTAGEM LOCAL

As tábuas de madeira opacas e sujas não enganam: a cobertura do edifício Mirante do Vale, na região central de São Paulo, não tem uso há um bom tempo. "Tudo bem. Normalmente o último andar fica desocupado mesmo. Ou abriga a casa de máquinas ou a do zelador", diria alguém desavisado. Mas o prédio paulistano de 170 m de altura e 51 andares é simplesmente o mais alto do país.
Assim como o Mirante do Vale, pouco conhecido entre os brasileiros, outros prédios, como o Martinelli e o Copan, deixam de aproveitar a vista da cidade de que dispõem para atrair turistas e paulistanos que procuram entretenimento ou um refúgio nas alturas. Quem ocupa mesmo esses edifícios são as companhias telefônicas, com a instalação, nem sempre estética, de antenas.
Ao lado do viaduto Santa Efigênia, o prédio comercial Mirante do Vale, finalizado em 1960, é procurado principalmente por turistas que descobrem sua altura em sites imobiliários internacionais (como o www.emporis.com). "Sempre autorizo a visita de quem procura. É só conversar com a administração, que um funcionário acompanha", conta o síndico do prédio, Marcio Barros.
A ida ao heliponto e ao último andar é grátis, porém, não há nenhum serviço oferecido ao visitante. Lá de cima, vê-se o fim da cidade ao norte, leste, oeste e, ao sul, uma visão privilegiada dos prédios da avenida Paulista.
Há até quem tenha se atrevido a mais do que uma olhadela. "Uma vez, um turista carioca veio aqui e pediu para tirar uma foto com o paraglider do alto do heliponto. Enquanto um amigo dele batia a foto, o turista aproveitou e saltou", conta Barros.
Do outro lado do viaduto Santa Efigênia, esconde-se um dos primeiros arranha-céus paulistanos: o Martinelli. Esconde-se, porque à sua volta várias construções mais altas foram erguidas, como o edifício Altino Arantes (conhecido como prédio do Banespa).
Mesmo assim, a vista é uma das mais belas da cidade. Mas só a vista, já que o edifício em si está bem deteriorado. A tradicional cobertura rosada do concreto ganhou um pretume peculiar com o passar dos anos. E, se a poeira se acumula, os planos de restauração também, mas na gaveta.
A última intenção de reforma, levantada em dezembro de 2004 -que sugeria inclusive a criação de um café na cobertura-, foi vetada porque o elevador não sobe os 30 andares e 130 m direto. É preciso tomar um segundo elevador que leva ao topo.
Até qualquer mudança, apenas funcionários das secretarias e órgãos da prefeitura que funcionam no edifício podem usufruir da vista. Além dos estudantes e curiosos que procuram a administração.
O que não faltam são projetos para o Copan. "A gente está tentando transformar em um mirante da cidade", conta Afonso Celso Prazeres de Oliveira, síndico do prédio. A idéia, segundo ele, era construir um museu com o acervo de fotos e informações sobre o prédio e sobre o arquiteto Oscar Niemeyer. "Mas preciso de recursos e ainda estou procurando parceiros para a reforma da fachada."
Enquanto isso, a vista é privilégio de estudantes, principalmente os de arquitetura. No último ano, cerca de 1.800 turistas visitaram a cobertura do edifício.
"A vista panorâmica sempre é explorada em grandes cidades. Em Nova York, por exemplo, o Empire State Building tem toda uma infra-estrutura desde a sua construção", afirma o consultor de investimentos imobiliários, Bernd Rieger.
O mesmo acontece com outros gigantes mundiais, como Taipei 101, o maior prédio do mundo, com 509 m e 101 andares, localizado em Taiwan e que explora um bar chique no último andar. Ou com a torre Sears, em Chicago, que mede 442 m, tem 88 andares e oferece telas que mostram outros pontos turísticos que podem ser observados do mirante.
Mas São Paulo, como a maior parte das cidades brasileiras, teve pouco planejamento. "A gente não tem tido organização para deixar a cidade mais bonita e para não construir tudo alto. Aqui normalmente os prédios se destacam não porque foram planejados. Acontece por acidente", diz Rieger


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