São Paulo, terça-feira, 13 de março de 2007

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Chalita reage a críticas e ataca gestão Serra

Alvo no próprio PSDB, ex-secretário da Educação nega ter desmontado programas necessários para êxito da progressão continuada

Para ele, problemas ocorreram na implantação do programa e na falta de envolvimento das famílias com a escola

Marcelo Ximenez/Folha Imagem
Gabriel Chalita, secretário da Educação do governo Alckmin


FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Alvo de críticas no próprio PSDB após a queda de São Paulo nos principais rankings de educação, o secretário do governo Geraldo Alckmin, Gabriel Chalita, disse que o mau desempenho ocorreu devido à má implementação da progressão continuada e pela falta de envolvimento das famílias. As declarações são uma resposta aos ataques de sua antecessora, Rose Neubauer (governo Mário Covas), responsável pela implantação da progressão, que reclamou que Chalita teria desmontado alguns dos projetos essenciais para o êxito do programa. O ex-secretário atacou o governo José Serra, que reduziu pela metade o projeto Escola da Família, que prevê abertura de escolas aos finais de semana -a secretária Maria Lúcia Vasconcelos não se pronunciou.  

FOLHA - Por que SP vai tão mal nos exames de qualidade de ensino?
GABRIEL CHALITA
- Ele reflete um pouco a realidade brasileira. Os Estados não estão bem. E não há um culpado para esse problema. A escola sozinha não resolve os problemas educacionais. Há muitas coisas em que a educação de São Paulo melhorou, e em outras, não. O índice de evasão caiu, a repetência caiu, havia longas filas para conseguir vaga. Isso não existe mais. Há índices ruins no Saeb? Há, como no Brasil todo.

FOLHA - Mas SP cai mais do que os outros Estados no Saeb.
CHALITA
- Se você pegar a minha gestão, não houve queda. De qualquer forma, não vou dizer que a educação seja a ideal. E há uma série de fatores que explicam isso. Há essa falta de envolvimento das famílias, a inclusão de alunos que estavam fora da escola e a implantação da progressão continuada.

FOLHA - O sr. fala em problemas das famílias, mas e a participação do governo no quadro negativo?
CHALITA
- Falta o Estado convencer a família de que ela faz parte do processo educativo. O segundo ponto é investir mais na formação de professores. Agora, o Brasil sofre um processo em que quando você tem a troca de um governante, quem entra pára o que outro fez. Você trunca o processo.

FOLHA - Neubauer acusa o sr. de ter desmontado projetos dela.
CHALITA
- Não parei nenhum processo da Rose. Não sei sobre o que ela se refere.

FOLHA - Ela citou o reforço semanal, a recuperação nas férias e a capacitação focada para professores.
CHALITA
- A recuperação continuou. Só acabou a das férias, porque não estava resolvendo, mas ampliamos a recuperação paralela [na semana]. Continuei os programas de formação e ampliei-os. Os recursos para isso cresceram mais ou menos dez vezes. A única crítica que eu poderia fazer à Rose foi a forma como foi implantada a progressão continuada. Você não desce isso goela abaixo do professor, precisa convencê-lo.

FOLHA - Essa má implantação explica os maus desempenhos de SP?
CHALITA
- Em parte. Como você impôs, o professor rejeitou a proposta e não educou como deveria. Mas o tempo vai mostrar que o projeto é interessante, como foi na Inglaterra, onde também houve resistência.

FOLHA - Educadores dizem que o governo não deu condições para uma boa recuperação.
CHALITA
- Aos poucos, você precisa reduzir o número de alunos em sala. É um processo.

FOLHA - Mas Alckmin vetou projeto aprovado pela Assembléia que limitava o número de alunos por sala.
CHALITA
- Você tem momentos. Primeiro, colocam-se todos os alunos na escola. Agora, aumenta-se a carga horária. Você não consegue fazer tudo ao mesmo tempo. Optamos por aumentar a carga. Criamos a Escola de Tempo Integral e aumentamos de quatro para seis horas a carga do ensino médio.

FOLHA - Como o sr. avalia o corte no Escola da Família?
CHALITA
- A gente tinha um problema de pichação, de violência, que era imenso. E caiu muito após o projeto. Como educador, e não falo em nome do Geraldo [Alckmin], a redução é um equívoco. Começa muito mal o governo Serra.

FOLHA - Parte do dinheiro economizado deverá servir para contratar um segundo professor para a primeira série.
CHALITA
- Nenhum país que deu certo na educação colocou dois professores em sala. Para que inventar? Imagine, dois professores em uma mesma sala, um vai atrapalhar o outro.
O Orçamento da secretaria hoje deve ser de R$ 11 bilhões. A Escola da Família tinha R$ 200 milhões. Não é possível que seja necessário diminuir um projeto desse para começar outro. O caminho está muito equivocado. E é uma pena que sejamos do mesmo partido.
Eu, como educador, elogio. Espero, por exemplo, que o Fernando Haddad continue como ministro [da Educação], porque eu sinto ali um técnico no ministério. Você precisa olhar com humildade para pessoas de outros partidos e elogiar. E olhar para pessoas do mesmo partido e dizer: "Que pena que pegou um programa que deu certo e vai truncá-lo".
Deve ser uma medida do governador, não dela [da secretária]. Não faço aqui uma crítica a ele. É uma visão de um educador, uma análise do programa, não das pessoas. [As medidas tomadas] são frustrantes. Até a diminuição dos ciclos para dois anos. Não acho que isso seja o mais importante. Mas eu sinto que é algo: "Preciso dar uma resposta imediata".


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