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VIOLÊNCIA
Homens de preto atacaram as vítimas sob viaduto na zona leste; para a polícia, divergência sobre tráfico motivou o ataque
Moradores de rua são baleados no Belém; um morre
ANDRÉ CARAMANTE
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Com pistolas automáticas, armas que deveriam ser de uso exclusivo das forças de segurança do
Estado, dois homens de moto atiraram em três moradores de rua,
anteontem à noite, sob o viaduto
Guadalajara, no Belém (zona leste
de São Paulo). Uma das vítimas, o
carioca Marcelo Cordeiro Gandra, que vivia havia três meses nas
ruas paulistanas, morreu após ser
atingido no peito e na cabeça.
O atentado aconteceu a cerca de
1 km da Comunidade Povo da
Rua São Martinho de Lima, centro de convivência para moradores de rua, e no momento em que
15 pessoas aguardavam em uma
fila para receber um prato de sopa
doado por entidades religiosas.
J.F.O., 35, ferido na perna, e
C.Q., 20, baleado no braço, foram
operados e não correm risco de
morte. C. tinha passagens pela
polícia por tentativa de furto e receptação. Cerca de 3.000 moradores de rua vivem onde houve o crime. Em toda a cidade, são 12 mil.
Em agosto de 2004, outros sete
moradores de rua foram assassinados na região da praça da Sé. Os
crimes continuam impunes.
A investigação aponta que o ataque era direcionado a Gandra, conhecido na região como Carioca.
Antes de se mudar para São Paulo, ele vivia com cinco filhos em
uma favela na capital fluminense.
Gandra, segundo a polícia e colegas de rua, usava drogas e, dois
dias antes do crime, havia discutido com um homem, Rogério Fiúza, que é procurado pela polícia
como mandante do ataque. Ele já
cumpriu pena por tráfico.
Até a noite de ontem, já tinham
sido ouvidos os sobreviventes e
cinco testemunhas. As imagens
de quatro câmeras de uma revendedora de lâmpadas, todas apontadas para o local onde as vítimas
estavam sentadas em um colchão,
serão utilizadas na investigação.
Antes de abrir fogo, os atiradores, com capacetes e roupa preta,
deram ao menos duas voltas no
espaço sob o viaduto Guadalajara.
Moradores da rua Belarmino de
Matos, nos baixos do viaduto, ouviram uma discussão uma hora
antes dos tiros. Segundo um comerciante, um envolvido dizia
aos gritos que "o ponto era seu".
O local onde morreu Gandra é
conhecido por ser um centro de
caridade informal, onde diversas
entidades distribuem sopa e leite.
Perto dali fica a Comunidade
Povo de Rua São Martinho de Lima, unidade de assistência da
prefeitura que sofre com superlotação e falta de alimentos e não
oferece atendimento noturno.
O local oferece chuveiro e refeições, mas não é albergue por fechar à noite. Por isso, muitos moradores procuram os locais onde
o viaduto fica mais próximo ao
chão para dormir e comer à noite.
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