São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 2006

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VIOLÊNCIA

Homens de preto atacaram as vítimas sob viaduto na zona leste; para a polícia, divergência sobre tráfico motivou o ataque

Moradores de rua são baleados no Belém; um morre

ANDRÉ CARAMANTE
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Com pistolas automáticas, armas que deveriam ser de uso exclusivo das forças de segurança do Estado, dois homens de moto atiraram em três moradores de rua, anteontem à noite, sob o viaduto Guadalajara, no Belém (zona leste de São Paulo). Uma das vítimas, o carioca Marcelo Cordeiro Gandra, que vivia havia três meses nas ruas paulistanas, morreu após ser atingido no peito e na cabeça.
O atentado aconteceu a cerca de 1 km da Comunidade Povo da Rua São Martinho de Lima, centro de convivência para moradores de rua, e no momento em que 15 pessoas aguardavam em uma fila para receber um prato de sopa doado por entidades religiosas.
J.F.O., 35, ferido na perna, e C.Q., 20, baleado no braço, foram operados e não correm risco de morte. C. tinha passagens pela polícia por tentativa de furto e receptação. Cerca de 3.000 moradores de rua vivem onde houve o crime. Em toda a cidade, são 12 mil.
Em agosto de 2004, outros sete moradores de rua foram assassinados na região da praça da Sé. Os crimes continuam impunes.
A investigação aponta que o ataque era direcionado a Gandra, conhecido na região como Carioca. Antes de se mudar para São Paulo, ele vivia com cinco filhos em uma favela na capital fluminense.
Gandra, segundo a polícia e colegas de rua, usava drogas e, dois dias antes do crime, havia discutido com um homem, Rogério Fiúza, que é procurado pela polícia como mandante do ataque. Ele já cumpriu pena por tráfico.
Até a noite de ontem, já tinham sido ouvidos os sobreviventes e cinco testemunhas. As imagens de quatro câmeras de uma revendedora de lâmpadas, todas apontadas para o local onde as vítimas estavam sentadas em um colchão, serão utilizadas na investigação.
Antes de abrir fogo, os atiradores, com capacetes e roupa preta, deram ao menos duas voltas no espaço sob o viaduto Guadalajara.
Moradores da rua Belarmino de Matos, nos baixos do viaduto, ouviram uma discussão uma hora antes dos tiros. Segundo um comerciante, um envolvido dizia aos gritos que "o ponto era seu".
O local onde morreu Gandra é conhecido por ser um centro de caridade informal, onde diversas entidades distribuem sopa e leite.
Perto dali fica a Comunidade Povo de Rua São Martinho de Lima, unidade de assistência da prefeitura que sofre com superlotação e falta de alimentos e não oferece atendimento noturno.
O local oferece chuveiro e refeições, mas não é albergue por fechar à noite. Por isso, muitos moradores procuram os locais onde o viaduto fica mais próximo ao chão para dormir e comer à noite.


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